COMO É QUE AS MÁS POLÍTICAS ESTÃO A FAZER COM QUE OS DANOS DA GRANDE RECESSÃO SEJAM PERMANENTES, por MATT O’BRIEN

Temaseconomia1

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

Como é que as más políticas estão a fazer com que os danos da Grande Recessão  sejam permanentes

 

Por MATT O’BRIEN 1 de Julho de 2014

How bad policy is making the Great Recession’s damage permanent

The Washington Post/Wonkblog

Parte II

(conclusão)

Como é que a má política  reduz o nosso potencial económico

Nada disto   deve ser verdadeiro. O potencial da economia não deve ter de depender muito do valor que o governo decide gastar nem deve depender muito  de qual  é a taxa de  inflação que o banco central decide permitir. Mas ambas as coisas são agora verdade. Quer a inflação quer   as despesas públicas são  do ponto de vista estatístico altamente significativas quando eu  econometricamente as relacionei    contra o potencial económico  perdido, com R-quadrado de 0,55. Ou seja, o insuficiente estímulo fiscal e monetário explica  cerca de metade da perda  do PIB potencial verificada.

Mas porquê? A longo prazo, não deve a economia recuperar por si mesma, pelos seus próprios meios? Bem, sim, é verdade. Mas este longo  prazo pode ser demasiado longo se o sector privado  está demasiado carregado com o serviço da dívida  anteriormente feita em vez de estar a gastar em bens de investimentos e infra-estruturas a estes  ligadas – e sendo as coisas  como são, dir-se-á que na situação actual   o  nosso potencial económico está absolutamente a ser destruído pelo fenómeno chamado de  histerese.

Agora, se o que acabamos de afirmar é verdade, então os países que  foram sujeitos a situações de forte endividamento antes da crise   deverão  ter sido os mais vulneráveis  à política errada que foi aplicada com o rebentamento da crise e até agora.  E este parece de facto ter sido o que verificou.  Como  se pode ver abaixo, aceitámos os números da OCDE  de cada país relativamente à dívida do sector privado relativamente ao PIB   desde 2002 até  2007  e comparámos  esta variação  relativamente à variação  no PIB potencial. Para cada 10 por cento de aumento da dívida relativamente ao PIB    a  capacidade económica diminuiu de cerca de  1,7 por cento.

matt o'brien - IV

Em seguida, tomámos os valores relativos à  austeridade, à  inflação e à  dívida privada e tratamos econometricamente estes dados achando as relações econométricas  entre   estes valores  e o produto potencial. Todos as relações encontradas eram estatisticamente significativas, e o R-quadrado foi de 0,64. Tomadas em conjunto sugerem-nos  que a austeridade de um por cento do PIB reduz o PIB potencial de 0,7 por cento, enquanto que a redução de 1 por cento na  inflação   redu-lo em  1,9% e enquanto que um acréscimo na dívida privada 10 por cento do PIB mais elevado redu-lo em  1%.

A vontade de estar “errado”  no caminho certo

Suponha que, na pior das hipóteses, a histerese é realmente irreversível. Isto significaria que as más políticas orçamentais  e monetárias não só impedem a retoma económica, agora.  Estas políticas também  impedem uma retoma completa amanhã.   A  questão é a então, a de saber porque é que os decisores políticos, ou seja os políticos,   não tomam uma posição  bem mais agressiva. E a resposta é que eles pensam serem agressivos face à crise.

Basta olhar para a resposta à inflação. Os bancos centrais têm na verdade,  com paragens e arranques ,  tentado aplicar  algumas  políticas não convencionais. Foi o suficiente para manter a inflação  e impedir que  esta caia para valores negativos, a deflação, , mas não o suficiente para manter a inflação e impedir  de forma consistente  que esta se situe abaixo do objectivo  pré-visado o — que, sabemo-lo com as nossas regressões  reduz o PIB potencial mais do que qualquer outra coisa.

Ainda assim, alguns países conseguiram evitar, ou pelo menos começar a sair da armadilha do  “fracamente inflacionária”. A Austrália, por exemplo, define “estabilidade de preços” de uma forma mais liberal   do que muitos outros países — 2 a 3 por cento em média ao longo do ciclo de negócios — e isso tem ajudado a impedir que as taxas de inflação  caiam  longe demais,  para começar. E depois há ainda o exemplo do Japão: depois de décadas de deflação, finalmente  terá  levantado a sua  meta de inflação, começou a imprimir dinheiro novamente e prometeu permanentemente dobrar a sua base monetária.

Tudo isto , no entanto, é bem mais  do que a maioria dos bancos centrais estão dispostos a fazer. Isso é porque as suas políticas não convencionais ainda estão  rodeadas de  preocupações convencionais. Ou, para  parafrasear  Keynes, é melhor para a sua  reputação  falhar  a aplicação  de  políticas ” correctas” se bem que  não convencionais do que ter sucesso com as   políticas  “erradas”.

O problema é que nós vivemos  um tempo que se está  economicamente às avessas,[a ter a ideia de que se está sinceramente a querer sair da crise e a fazer tudo por isso,  mas em que objectivamente se está a fazer tudo ao contrário, às avessas, transformando-se uma recessão em profunda depressão e com efeitos graves a durarem durante décadas]. As políticas prudentes [ as que os nossos políticos mais sinceros aplicam, como é  o caso do Presidente Obama mas não o da União Europeia] são perigosas, porque estas  podem transformar  perdas temporárias em perdas permanentes, [ transformando-se assim perdas conjunturais em perdas estruturais,  grandes perdas de curto prazo em  perdas ainda muito maiores a longo prazo]. E as políticas perigosas [como as que procuram trajectórias de crescimento económico  em período de grande endividamento, com incidência sobre o crescimento de curto, médio e de longo prazo, as políticas capazes de vencer a crise mas que são o oposto do que nos diz o senso comum] são prudentes, porque com estas poderiam mantermo-nos com a certeza de que a passagem de perdas temporárias a perdas permanentes nunca venha a acontecer e além disso — podem manter a trajectória de crescimento da economia e impedir que esta trajectória de crescimento seja destruída.

Trata-se de um tempo de radicalismos. Os políticos precisam de o ser também.

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Matt O’Brien is a reporter for Wonkblog covering economic affairs. He was previously a senior associate editor at The Atlantic.

Ver o original em:

http://www.washingtonpost.com/blogs/wonkblog/wp/2014/07/01/how-bad-policy-is-making-the-great-recessions-damage-permanent/

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