EDITORIAL – CATALUNHA, SÓ PODES CONTAR CONTIGO!

logo editorialMuitas vezes ao escrevermos sobre temas que nos apaixonam, somos levados a análises voluntaristas e a confundir o que desejamos que aconteça com o que mais provavelmente irá acontecer. Nessas «análises», mais próximas da prece do que da observação da realidade objectiva, invocamos a moral, a ética, a razão… esquecendo que nenhum desses valores influem na condução da política. Também é verdade que se,  na nossa análise, aceitamos a realidade sem a condenar ou sem a temperar com o que desejamos que ela seja, estamos a ajudar a que a tal realidade se mantenha.

Desejar que a Catalunha se torne independente e saber que o povo catalão tem direito, como qualquer outro, à independência, não nos faz esquecer a realidade de um Estado espanhol que, ao transitar da ditadura franquista para a democracia, manteve muito da estrutura jurídica herdada do fascismo, nomeadamente o conceito de “integridade nacional”.  O governo de Madrid, seja ele do PP ou do PSOE, jamais aceitará a secessão e, como hoje salienta o colunista do El País, Ignacio Molina, «as democracias mais avançadas não aceitam a autodeterminação fora de contextos coloniais». Os erros e injustiças cometidos ao longo dos últimos três séculos em matéria de definição de fronteiras, unificações e independências, redesenhando em espúrios tratados uma Europa contra natura, fazem temer que um deslize na Escócia, na Catalunha ou na Flandres, pode desencadear em efeito dominó a desintegração de estados aparentemente consolidados como a Itália, estado com um século e meio ou como a Alemanha, ainda de constituição mais recente. A Padânia ou a Baviera são fantasmas que pairam sempre que se fala de soberanismos.

No caso particular da Catalunha, na nossa opinião, Portugal deveria desempenhar um papel activo e contribuir para a desagregação de um estado vizinho que na primeira oportunidade o engolirá. Ao longo dos tempos,com governos da monarquia, da Primeira República,  da ditadura, da democracia, verifica-se que a diplomacia portuguesa opta por uma posição de aceitação de tudo o que o vizinho fizer – incluindo o roubo do território português. Não podem os catalães contar com ajudas. Será que as suas elites, sobretudo as ligadas ao poder económico, partilham o anseio popular de ver a bandeira das quatro barras vermelhas desalojar a bicolor  do Reyno? Ou será que essas elites apenas usam a ameaça da secessão como chantagem sobre Madrid para obter vantagens?

Os catalães independentistas, que constituem a grande maioria, devem ter consciência de que desejar uma soberania plena para o seu país e ter o direito moral a obtê-la, não chega para vencer. O governo espanhol cometerá todas as arbitrariedades de que necessite para fazer triunfar os seus interesses, A União Europeia e a comunidade internacional em geral farão vista grossa. E o governo português, do PS ou do PSD, porá tampões nos ouvidos.

Catalunha . só podes contar contigo e com os teus filhos!

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