OS MEUS DOMINGOS – AQUELE HOMEM… – por ANDRÉ BRUN

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1881 - 1926
1881 – 1926

 

II

De quando em vez encontrava-o. O cavalheiro dava realmente indícios de ser um sentimental, porque era raro topá-lo que não fosse acompanhado duma indivídua do sexo considerado frágil, sobre a qual o nosso amigo derramava publicamente inequívocas mostras de interesse, ora fitando-a com olheirenta ternura, ora dando-lhe o braço com marcada impetuosidade, ora relanceando um olhar faminto sobre as altitudes e depressões da pobre senhora, que nunca era a mesma.

Aquele homem ia cumprindo o fado para o qual a cigana anunciara um tão trágico fim e, sempre à busca da criatura que o havia de levar ao suicídio, largava de ânimo leve uma magra de olhos azuis para amar com sofreguidão uma gorda de pestanas cor de rosa e, quando o supúnhamos embeiçado de vez por uma alentejana saudável e amiga da família, víamo-lo cair nos braços de uma algarvia, filha de pais incógnitos e com sardas no cotovelo. Havia quem lhe chamasse volúvel. Calúnia! Aquele homem procurava simplesmente a sua mulher.

 

25 de Março de 1923

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