Iniciamos hoje, DIA MUNDIAL DA MÚSICA, um espaço matinal dedicado à música. Traremos aqui diversos temas relacionados com o universo musical – as “Pérolas da música portuguesa votadas ao ostracismo”, apresentadas por um homem da rádio – Álvaro José Ferreira e também “Palco da Lusofonia”. E outras séries dedicadas à música que oportunamente iremos anunciando. A inauguração é, pois, feita pelo Álvaro José Ferreira, um novo argonauta e com as suas Pérolas da música portuguesa votadas ao ostracismo.
Por exemplo esta ” Fala do homem nascido”, o poema de António Gedeão, com música de José Niza e interpretação de Adriano Correia de Oliveira:
Ouça! Ouça!… Não deixe de ouvir até ao fim, pois assim terá oportunidade de exclamar: «É realmente incompreensível que pérolas deste quilate estejam excluídas da ‘playlist’ da Antena 1, o canal generalista da rádio estatal que tem a obrigação (formalmente assumida no contrato de concessão do serviço público de radiodifusão) de divulgar a melhor música portuguesa!!!»
Ao mesmo tempo que estas pérolas são votadas ao ostracismo, constata-se que a referida ‘playlist’ está atulhada de subprodutos (exógenos e endógenos), muitos dos quais promovidos ‘ad nauseam’.
O que se disse a respeito da Antena 1 aplica-se igualmente à Antena 3, outro canal do chamado “serviço público de rádio” que marginaliza, de forma perfeitamente criminosa, o nosso património musical mais valioso e qualificado.
Fica à reflexão dos pagantes da contribuição do audiovisual (que actualmente se cifra em €27,00 anuais + I.V.A.) e de quem tem nas suas mãos o poder para pôr cobro a tão aberrante anormalidade.
Fala do Homem Nascido
Poema: António Gedeão (ligeiramente adaptado) [>> texto original abaixo]
Música: José Niza
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in LP “Cantaremos”, Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1999; “Obra Completa”: CD “Adriano Canta José Niza”, Movieplay, 1994, 2007) [>> YouTube]
[instrumental]
Venho da terra assombrada,
Do ventre da minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.
Trago boca para comer
E olhos para desejar.
Tenho pressa de viver, | bis
Que a vida é água a correr. |
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.
[instrumental]
Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham,
Nem forças que me molestem,
Correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
Que a Natureza sou eu,
E as forças da Natureza
Nunca ninguém as venceu.
[instrumental]
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença. | bis
Mesmo morto hei-de passar. |
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
[instrumental]
Venho da terra assombrada,
Do ventre da minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.
* Rui Pato – viola
Biografia e discografia em: A Nossa Rádio
URL: http://www.adrianocorreiadeoliveira.com/
http://adriano.esenviseu.net/index.asp
http://www.myspace.com/adrianocorreiadeoliveira
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adriano_Correia_de_Oliveira
http://www.avintes.net/adriano.htm
http://www.artistas-espectaculos.com/discos/pt/adriano+correia+de+oliveira.htm
http://guedelhudos.blogspot.com/search/label/Adriano%20Correia%20de%20Oliveira
http://www.portaldofado.net/content/view/279/280/
http://fado.com/index.php?option=com_content&task=view&id=59&Itemid=67
http://deltagata.no.sapo.pt/adriano.html
http://adrianocorreiadeoliveira.blog.simplesnet.pt/
http://palcoprincipal.sapo.pt/bandasMain/adriano_correia_de_oliveira
http://cotonete.clix.pt/artistas/home.aspx?id=44
http://www.lastfm.pt/music/Adriano+Correia+de+Oliveira
Fala do Homem Nascido
(António Gedeão, in “Teatro do Mundo”, Coimbra, 1958; “Poemas Escolhidos: Antologia Organizada pelo Autor”, Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1997)
(Chega à boca de cena, e diz:)
Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
Como diz o Mário Carvalho, era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto…
Antena 1; e os poucos que nela figuram recebem, sem apelo nem agravo, tratamento de terceira classe. Quero com isto dizer que a sua representação se restringe a um ou dois temas (que geralmente nem sequer correspondem ao melhor dos respectivos repertórios), e com uma aparição em antena tão esparsa e rarefeita que ouvi-los torna-se um exercício quase tão difícil como encontrar uma agulha num palheiro.
Ora, como facilmente se poderá inferir, se a marginalização da melhor música portuguesa é grave em qualquer rádio generalista de Portugal, ainda mais o é na emissora do próprio Estado, atendendo à obrigação que tem (formalmente assumida no contrato de concessão do serviço público de radiodifusão) de a divulgar e promover de forma cabal e satisfatória. Obrigação essa que decorre da circunstância do financiamento ser público – contribuição do audiovisual (que actualmente se cifra em €27,00 anuais + I.V.A.) e transferências directas do Orçamento de Estado.
Antena 3, outro canal do chamado “serviço público de rádio” que marginaliza, de forma perfeitamente criminosa, o nosso património musical mais valioso e qualificado.
Urge, portanto, que o problema seja resolvido por quem tem nas suas mãos o poder para tal. E para mostrar, com exemplos concretos e audíveis, o quanto é vasto e qualitativamente superior o repertório votado ao ostracismo pelas Antena 1 e 3, dar-se-á hoje início à expedição de uma circular, ao ritmo de uma por semana, com a letra de um espécime poético-musical (ou instrumental) e respectivo link para audição. Felizmente que a internet, nas suas diversas plataformas de armazenamento de som e vídeo, designadamente no YouTube (http://www.youtube.com/user/montradeperolas), é já (e sê-lo-á cada vez mais) um importante repositório de boa música portuguesa.
Para passar a receber a referida mensagem na sua caixa de e-mail, basta que se inscreva no Grupo de Amigos do LUGAR AO SUL.
Textos relacionados:
Petição pública: por uma ANTENA 1 mais divulgadora da música portuguesa
Considerações sobre a ‘playlist’ da Antena 1
Cresci com A. Gedeão e todos os músicos que figuram na lista. Foi com eles que aprendi a sonhar outros mundos, a questionar as aves que voam mais alto que a próprias montanhas, é com eles que vou navegando momentos de raiva…que voltem com a força da palavra.Saudações
Muito bem , Inês. O que é genial é de todos os tempos e a palavra de então é cada vez mais urgente no mundo em que vivemos.
O comentário anerior é meu. Esqueci-me de escrever o nome. Gosto de assumir o que digo.