UM CAFÉ NA INTERNET – Cândida no Serviço Nacional de Saúde – Novas Viagens na Minha Terra– Segunda série Cap. 4 – por Manuela Degerine

Um café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

No dia 15 de Março recebi o resultado da análise Anti-Borrelia Burgdorferi: positivo. Entretanto soubera que o Hospital Ricardo Jorge trata a doença de Lyme. Dirigi-me portanto, mais uma vez, ao Centro de Saúde para pedir uma credencial. A médica do costume não estava presente; a outra fez-me esperar durante três horas e, quase à uma da tarde, declarou que não passava nada porque tinha que almoçar.

 

Havia portanto dezoito dias que eu lutava para me tratarem uma doença que, quando não é mortal, tem consequências neurológicas, cardíacas, reumáticas, pulmonares, oftalmológicas, dermatológicas muito graves… E que deve ser tratada nos primeiros dias após o contacto com a carraça, enquanto a bactéria ainda não se espalhou pelo corpo. Ora, decorrido tanto tempo e não obstante a minha obstinação: eu continuava a não ter acesso a qualquer tratamento. Resignei-me a recorrer à medicina privada. No mesmo dia foi-me passada a receita de um antibiótico que trata a doença de Lyme.

 

Compreendo por que razão os médicos franceses garantiam quase não haver doença de Lyme em Portugal: a táctica lusa para erradicar esta doença consiste em não a registar estatisticamente. Genial… Assim as mortes que ela provoca passam a ser simples falhas cardíacas, as complicações neurológicas tornam-se doença de Parkinson ou de Alzheimer… Aconselho que se faça o mesmo com o cancro.

 

 (Se bastou eu passar num caminho para apanhar esta doença, qual não será o risco para os agricultores portugueses? Deve portanto haver pelas aldeias uma taxa muito elevada de paralisias musculares, artroses invalidantes, cegueiras e outros graves distúrbios, todos inexplicados… O grau de civilização mede-se pelo valor atribuído à vida e – à qualidade de vida – humana. Em Portugal vemos qual é.)

 

O meu problema é simples. Daqui em diante, quando estiver doente, apanho o avião para França: fica-me mais barato e sou bem tratada. Mas inquieto-me com o risco que correm os meus amigos e familiares num monstro denominado Serviço Nacional de Saúde que põe médicos incompetentes nos serviços de urgência e atribui um poder absoluto a médicos de família sem ética nem formação.

 

Objectam-me que faltam médicos – mas conheço jovens que, com médias de dezasseis e dezassete, não entraram no curso de Medicina. Estranho, não é?… Vejo no SNS médicos espanhóis, ucranianos, sul-americanos… Por que razão em Portugal só os jovens portugueses não podem ser médicos?

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