Compositores desconhecidos – Erich Korngold – por Paulo Rato

ERICH KORNGOLD (Brno, 1897 – Hollywood, 1957)

 “Música é música, seja para o palco, a tribuna, ou o cinema. A forma pode mudar, a maneira de escrever pode variar, mas o compositor não pode fazer concessões, seja o que for que conceba como sendo a sua própria ideologia musical” (entrevista de 1946)

 

 

 

Erich Wolfgang Korngold nasceu em 29 de Maio de 1897, em Brünn, cidade da Morávia, então integrada no Império Austro-Húngaro e, actualmente, na República Checa, denominada Brno(1).

 

Filho de um eminente crítico de música (razão da mudança da família para Viena em 1901), foi uma criança-prodígio, que começou a compor aos 8 anos e tocou, em 1907, a sua cantata Gold para Mahler, que o considerou um génio e recomendou ao pai que contratasse Zemlinsky como mentor do pequeno Erlich.

 

Aos 11 anos compôs o bailado Der Schneemann, que causou sensação quando da sua estreia na Ópera de Viena em 1910. Seguiu-se um Trio com Piano e a notável Sonata para Piano N.º 2, em Mi maior, que Artur Schnabel estreou e levou a toda a Europa.

 

As suas primeiras obras orquestrais, a Schauspiel Ouvertüre e a Sinfonietta, de 1912, impressionaram fortemente Richard Strauss, que afirmou que era quase assustador pensar que tais obras tinham sido compostas por um adolescente, tendo em conta a firmeza do estilo, o domínio da forma, a expressão individual e a estrutura harmónica. Puccini acolheu com semelhante entusiasmo a sua primeira ópera, Violanta, a que se seguiu uma segunda – também em um Acto – Der Ring des Polykrates, cujo êxito cimentou o prestígio do jovem de 19 anos.

 

Prestígio que aumentou ainda mais com a criação da sua obra-prima operática, Die tote Stadt (A Cidade Morta), composta com apenas 20 anos e aclamada por todo o mundo. No entanto, a sua música, se bem que inovadora, começou a perder progressivamente o apoio do público, na agitada vida cultural da Viena de então, em favor de estilos considerados “mais modernos”.

 

Nos anos seguintes continua a empenhar-se em várias actividades, como compositor, maestro e Professor da Academia de Música de Viena.

 

Em 1934 desloca-se a Hollywood, a convite de Max Reinhardt, com quem já colaborara em Viena, para adaptar a música de cena “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Mendelssohn, para uma versão fílmica desta peça de Shakespeare. Começava aí uma segunda e absorvente carreira, que lhe valeu ser considerado o “pai da moderna música de cinema”.

 

O avanço do nazismo e a anexação da Áustria, que impede, mesmo, a estreia da sua 5.ª ópera, Die Kathrin, contribuíram decisivamente para a sua permanência em Hollywood, a partir de 1938. Aí compôs algumas das melhores partituras para cinema da história da 7.ª Arte, introduzindo novos conceitos da função da componente musical nos filmes. Ganhou dois Óscares e foi nomeado mais duas vezes. Entretanto, aproveitava os rendimentos que essa actividade lhe proporcionava para apoiar muitos dos refugiados das perseguições nazis. Em 1946, disse adeus à indústria cinematográfica, regressando à composição musical pura, onde, no entanto, ecoam memórias da anterior actividade, já que recorreu a temas e motivos de várias das suas partituras para filmes para criar os concertos para Violino Op. 35 (estreado em 1947, com Jascha Heifetz como solista) e para Violoncelo Op. 37, bem como a Serenata Sinfónica Op. 39.

 

Regressado a Viena, foi confrontado com o esquecimento e incompreensão da sua obra, para o que terá contribuído um juízo depreciativo sobre o seu trabalho “menor” na indústria do cinema. Os últimos anos de vida passou-os entre desiludidos retornos à América e regressos à sua Viena, onde as suas obras continuaram a ser mal acolhidas. Ainda voltou a colaborar num último filme, uma biografia de Wagner produzida em Berlim. Em 1956, um AVC deixou-o parcialmente paralisado. Mas ainda preparava a sua segunda Sinfonia e uma nova ópera, quando morreu, em Hollywood, a 29 de Novembro de 1957. Durante muitos anos, a obra daquele que terá sido o último dos grandes compositores românticos, foi minimizada e esquecida.

 

No final dos anos 60 do século passado, porém, o lançamento de um LP com a sua música para cinema, dirigida por Lionel Newmann, desencadeou um movimento de redescoberta dessa obra. Muitas das suas criações regressaram às salas de concertos e começaram a ser gravadas. E o enorme êxito da reposição de “Die tote Stadt”, em 1975, consagrou, esperemos que irreversivelmente, esta redescoberta de um grande compositor. Três exemplos da música de Korngold: – A “Canção de Marietta”, da ópera “Die tote Stadt”, magnificamente interpretada por Anne Sofie von Otter, numa gravação ao vivo, datada de 2000, no Théâtre Musical de Paris – Châtelet .

 

 

(Entre as interpretações que encontrei no Youtube, o meu coração balança entre esta e a de Renée Fleming…) – O segundo andamento – Romance: Andante – do Concerto para Violino N.º 2, por Anne-Sophie Mutter, com a London Symphony Orchestra e o maestro André Previn

 

 

 

E “Reunion”, da banda sonora do filme “The Sea Hawk” (O Gavião dos Mares), um dos mais famosos filmes protagonizados por Errol Flynn.

 

 

 

(1) Para os interessados nestas minúcias: [ˈbr̩no] (um “e” mudo brevíssimo a seguir ao “b”, “r” de “aro”, rolado e também breve, um “o” aberto na sílaba final – “nó” – resultam numa pronúncia bastante aproximada do nome da 2.ª cidade da República Checa).

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