POEMAS SOBRE O ALENTEJO
VICENTE CAMPINAS
Cantar alentejano
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Este poema de António Vicente Campinas é habitualmente atribuído a José Afonso, autor da belíssima música da popular canção. Quando José Afonso publicou a primeira edição de “Cantares” (Nova Realidade, Tomar, 1967) não indicou a autoria do poema. Para quem tenha conhecido o Zeca, o motivo para tal ‘esquecimento’ só pode ter sido a situação de clandestinidade em que Vicente Campinas se encontrava. A ilustração destes poemas não tem sido orientada no sentido de uam correspondência cabal – para poemas inspirados no Alentejo, temos escolhido temas plásticos de igual inspiração. Neste caso, seria estranho não usar a bela gravura de José Dias coelho (que viria também a ser assassinado atiro, pela PIDE). E a canção de José Afonso por ele interpretada é outro elemento indispensável neste conjunto de criações artísticas dedicado à ceifeira Catarina Eufémia.
Gravura de José Dias Coelho
Amanhã – Florbela Espanca (2)