TEMOS DE MUDAR RADICALMENTE DE POSTURA POLÍTICA – por Mário de Oliveira

 

Transcrito, com a devida vénia, do Editorial, 48 Edição 79, do Jornal FRATERNIZAR de Sexta-feira, 8 de Junho 2012

 

Temos de mudar radicalmente de Postura Política. Assumir, de uma vez por todas e para todo o sempre, o nosso próprio viver na História. Deixarmos, por isso, de continuar a entregar a um estranho, tamanha e decisiva responsabilidade política. E um estranho, em relação ao nosso viver na História, é sempre o Poder, nas múltiplas formas em que ele tem subsistido através dos tempos. No início dos tempos racionais, e durante muitos milhares de anos, é o Poder Patriarcal-Religioso-Sacerdotal, autoligitimado pelo seu Deus Ídolo, que ele próprio cria e impõe, por todos os meios, às populações, como único deus verdadeiro. Cada Povo, o seu deus, que, com o apoio dele, sonha conquistar, dominar e submeter os outros Povos.

 

Com a fundação do Cristianismo, em Jerusalém, algumas semanas depois da Morte Crucificada de Jesus, o filho de Maria, nado e criado em Nazaré, desaparece, progressivamente, na História, a velha concepção, Cada Povo, o seu deus, e começa a concretizar-se o velho sonho da dinastia de David, de domínio absoluto sobre todos os outros Povos, Um só deus, um só Povo com muitos povos submetidos, um só Cristo /Mediador, visualizado no rei /Poder. O primeiro Cristianismo, de Pedro-e-Tiago, ambos judeus e opositores /inimigos de Jesus e do seu Projecto Político Maiêutico de Sociedade, é o portador deste velho sonho da dinastia de David e do seu mítico Cristo /Mediador. Propõe-se, desde o início, esta ciclópica missão histórica, Um só Deus, um só Povo com todos os outros povos subjugados, um só Cristo /Mediador, visualizado no Rei-Imperador /Poder, com o qual as populações têm de lidar.

 

Durante quase dois mil anos, pelo menos, no Ocidente e lá, onde, o Ocidente conseguiu chegar e levar, através das chamadas descobertas e conquistas e, posteriormente, através das Missões, a sua fé cristã, o seu único deus Ídolo, e o seu Cristo /Mediador, a Sociedade torna-se massivamente cristã, quer dizer, educada /formatada /domesticada /dominada pelo Poder Religioso-Sacerdotal-Imperial, adoradora do seu único deus Ídolo, cujo mítico Cristo /Mediador se faz realidade histórica e bem visível, no Papa de Roma, monarca absoluto e infalível, o único senhor e patrão, urbi et orbi, na cidade e no Planeta.

 

Com a Revolução Francesa, a Sociedade torna-se progressivamente secular e laica, ou ateia. E, neste início do Terceiro Milénio, já com dimensão bem expressiva, e tendência a tornar-se, até, massiva. Graças a ela, o Poder Político, materializado no Estado, autonomiza-se progressivamente do Poder Religioso-Sacerdotal, passa a ter vez e voz, embora nunca de modo suficientemente autónomo, como mostra à saciedade, a nossa própria actualidade. As populações, é que nunca chegam a ter vez, nem voz. Cabe-lhes somente obedecer aos seus carrascos ou algozes /Cristos /mediadores, assistir às suas festas, aplaudir as suas decisões e financiar os seus requintados luxos. Ultimamente, é-lhes permitido, senão mesmo imposto, escolherem os seus carrascos ou algozes. Nunca, por nunca, assumirem o seu próprio viver na História.

 

Mais recentemente, emerge na Sociedade e, de forma cada vez mais galopante e imparável, o Poder Económico-Financeiro, com que o Poder Religioso-Sacerdotal cristão e o Poder Político – o Estado – têm de negociar e de se entender. Porém, nestes anos, de início do Terceiro Milénio, que são os nossos, o Poder Económico-Financeiro, com o seu deus Ídolo e o seu Cristo /Mediador, o Dinheiro, é já, praticamente, o único dono e senhor do Planeta, que as populações e os Povos, religiosos-cristãos e laicos, ou ateus, indistintamente, reconhecem e servem. E ao qual confiam, por inteiro, o seu próprio viver na História.Para sua vergonha!

 

Em boa verdade, no início dos tempos racionais, já é o Poder Económico-Financeiro, com o seu deus Ídolo e o seu Cristo /Mediador, o Dinheiro, o único dono e senhor do Planeta. Simplesmente, nesse então, veste de Religioso-Sacerdotal, e hoje, veste de secular e laico, ou ateu. E o próprio Cristianismo, ao longo destes dois mil anos, mais não faz do que preparar o terreno – as mentes das populações e as mentes das elites que dominam as populações – e conduzir-nos a este INFERNO que hoje conhecemos /vivemos. A sua teologia, fortemente idolátrica, por isso, sacrificialista, tem um Deus Ídolo por objecto de Fé e de estudo. O mesmo Deus Ídolo do imperador Constantino. O seu Credo diz, textualmente, Creio em Deus Pai todo-poderoso e em Jesus-Cristo, o seu único Filho, que está sentado à direita do Pai! É este Deus Ídolo, mai-lo seu mítico Cristo /Mediador, o Papa, que o Cristianismo impõe às populações, lá onde quer que chegue. Nem que seja a ferro e fogo. Numa mão, a cruz, na outra, a espada. Tal e qual como faz hoje o Poder Económico-Financeiro Global, com o seu mítico Cristo /Mediador, o Dinheiro.

 

Que fazermos, então? Ou deixamos as coisas correr, como sempre temos feito e, nesse caso, não nos podemos queixar; ou, se queremos verdadeiramente ser-viver com dignidade humana, na História, temos de mudar radicalmente de Postura Política. O que implica, assumirmos, de uma vez por todas e para todo o sempre, o nosso próprio viver na História. Jamais o confiarmos a um estranho, hoje, o Poder Económico-Financeiro com o seu mítico Cristo /Mediador, o Dinheiro. Deixar correr, como sempre temos feito, é a pior escolha que podemos fazer. Por isso, somos estas populações tão paradas, passivas, pacientes, resignadas, humilhadas, que até o próprio Estado que, a todo o momento, nos domina, humilha, rouba e mata, reconhece que somos e cinicamente nos agradece. Assim nos fez e continua a fazer o Cristianismo, intrinsecamente, perverso, o grande inimigo histórico de Jesus, das populações e dos Povos.

 

(Para melhor compreensão desta questão verdadeiramente nuclear, cf. Pe. Mário de Oliveira, Evangelho de Jesus, Segundo Maria, mãe de João Marcos,e Maria Madalena, Edium Editores, 3.ª edição, Maio 2012; 1.ª edição, Março 2012).

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