Por Júlio Marques Mota
(CONTINUAÇÃO)
III Parte
Os países periféricos e as fugas de capital
O problema para as economias emergentes é que a natureza dos fluxos financeiros em – moeda do banco central fornecido ao sector bancário – é diferente da natureza do capital saído do país – uma liquidação de participações de capital e da carteiras de títulos de rendimento fixo bem como de depósitos financeiros e não financeiros em banco comerciais . Nós gostaria de afirmar que o capital que flui para fora do país é mais potente em termos do seu impacto sobre a economia real do que a moeda do banco central que entra para o país.
Em ambos os países, Espanha e Itália, o sector bancário está actualmente a contrair empréstimos de enormes quantidades junto do Eurosistema. E na medida em que estes empréstimos são de operações LTRO a 3 anos, então, pelo menos, é de duração relativamente longa. Mas, dado que estes sectores bancários estão em desalavancagem e sob uma enorme pressão financeira para aumentarem as suas participações de dívida pública estas entradas de capital não está a ser retransmitida para a economia real e de maneira suficiente para compensar o impacto das partidas de capital .
Menos capital é mais caro
Uma maneira em que a natureza assimétrica destes fluxos se manifesta – numa forma que aparece como negativa para a actividade económica – é através de um aumento do custo de capital na periferia, especialmente quando comparado com a parte central da zona euro.
As altas taxas de juros cobradas aos soberanos periféricos estão, é claro, extremamente bem documentadas. Mas as saídas de capitais levaram a um custo elevado e crescente de capital que está a prevalecer em toda a periferia. E isto é susceptível de levar a uma pressa à redução do nível de actividade económica.
O grau a que a oferta abundante e barata da liquidez do banco central para o sector bancário periférico não tem sido transmitido através dos balanços dos bancos o que pode ser visto nos gráficos abaixo. Estes mostram que as taxas de empréstimos para as empresas e para as famílias aumentaram agudamente na periferia, mas em geral caíram em países centrais.
Embora não seja fácil separar o impacto destas saídas – e a associada restritividade de crédito – de outros factores nas economias periféricas, tais como a pressão fiscal e a baixa confiança quer dos industriais quer dos consumidores, o comportamento das empresas e gastos do consumidor é certamente consistente com tais condições apertadas de crédito. Como os gráficos abaixo mostram, em termos absolutos e relativos, a procura interna do sector privado está em queda em Itália e em Espanha.
E até ou a menos que se restaure a confiança dos Estados membros da zona euro sobre a Espanha e em Itália, é provável que continuem as saídas de capitais, mantendo-se um insustentável elevado custo para o capital privado e público e uma enorme pressão para colocar ainda mais em queda a procura interna.
Na opinião de Yiagos Alexopoulos e da sua equipa do Credit Suisse é de extrema importância que as autoridades europeias começam a porém em prática as decisões da sua recente cimeira e de uma forma rápida e eficaz. Mas também consideram que “Infelizmente, parece ser mais provável que venha a acontecer o oposto”.
De novo relembremos os Eagles:
“We are all just prisoners here,
of our own device ”
E é o oposto que está acontecer. As decisões da última Cimeira já só serão aplicadas muito mais tarde, depois das audições exaustivas que o Tribunal Constitucional alemão em Karlsruhe vai realizar face aos abaixos assinados que lhe foram apresentados. O Tribunal tomará o seu tempo, dir-se-á.