Um beijo no cinzeiro – Adão Cruz

(Adão Cruz)

É uma delícia para os olhos ver a paisagem de belas pernocas com que muitas jovens calcorreiam diariamente a cidade. Deu-lhes para usar mini-saias curtíssimas e calções sem pernas, vestir o sétimo véu de Salomé, espremer e desenhar as formas em jeans apertadíssimos ou libertar o corpo dentro de finíssimos vestidos que lhes moldam sensualmente as íntimas curvas…o que, a mim, muito me agrada.

A mulher, especialmente nestas idades da florescência, é uma obra-prima da natureza, um ser muito bonito de magnífico encanto. Pena é que, muitas vezes, dê cabo da sua atraente beleza camuflando-a com artifícios de maquilhagem, com ridículos arabescos e tatuagens, ou quando se empoleira naqueles horrorosos sapatos que lhe conferem metade da sua altura, ou ainda quando queima a beleza na ponta de um cigarro. Sim, sobretudo quando envolve a sua beleza na tosca fumarada de um cigarro. Ao contrário do que se possa pensar, o cigarro não é bonito, não é elegante, não é fino, não é bom, não arrasta consigo essa tal ideia de independência, antes pelo contrário, e reflecte, de uma maneira geral, desprezo pela inteligência, ainda que uma mulher que fume possa ser muito inteligente. O cigarro agarrou-se à vida feminina como carraça em pele de cão.

A indústria do tabaco não anda a dormir. Tomada como um novo e promissor mercado, a mulher tornou-se um dos alvos da publicidade que sempre procurou conferir-lhe a ela, mulher, essa falsa e perversa sensação de emancipação e independência. O número de mulheres fumadoras aumenta vertiginosamente em todo o mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento, colocando o tabaco no patamar de uma das maiores ameaças à saúde da mulher e da humanidade. Uma grande parte das graves enfermidades da mulher de hoje não existia antes de ela começar massivamente a fumar. O homem já começou a ter algum juízo. É altura da mulher parar para pensar.

O cigarro é muito mau, porque para além dos males descritos, transforma o delicioso beijo de uma mulher num desagradável beijo no cinzeiro.

6 Comments

  1. Concordo que amulher não precisa de embelezamentos ou de caraterizações para demonstrar aquilo que já foi suscitado na Pré-História: Ela é a deusa-mãe, como a terra: introduza-se-lhe uma semente e ela procria! Melhor que ela não há na Natureza. O seu criador é inigalável. E ela também!

  2. Amigo Adão
    Belo trabalho de Pintura, um bom naco de prosa…e Klimt – um virtuoso triângulo. Bem sei que um dos seus discípulos, o Schiele, é, e com muita razão, um dos teus preferidos, mas por vezes faz-nos bem louvar os “pais” que tão belos “filhos” deram ao mundo.
    Um abraço

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