DIÁRIO DE BORDO de 20 de Outubro de 2012

Austerity in Portugal – More pain, less gain

 A revista inglesa The Economist ,  sob o título «mais dor, menos receita» lembra como num passado recente, um crânio destes que de quatro em quatro anos são renovados (sempre para pior), designou o Algarve por Allgarve, num claro apelo ao turismo britânico. Diz o articulista que, seguindo a mesma lógica,  circula em Portugal uma graça – renomear o País – Poortugal – ou seja Pobretugal. E o articulista, analisando a crise, diz como foi recebida a proposta de Orçamento do Estado para 2013, pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar:  na imprensa, editoriais demolidores e protestos furiosos. Como a revista faz notar, nunca analistas de quadrantes políticos diferentes, estiveram tão de acordo contra as medidas de austeridade, enormes aumentos de impostos, classificados como brutais e como crime contra a classe média. Não estamos a traduzir, mas simplesmente a tentar transmitir o sentido geral do artigo. Nele se salienta que tudo isto tem como prémio, o governo português ser considerado «aluno modelo» da zona euro.

Deixemos o artigo  da revista londrina – nada diz que não saibamos; mas é reveladora do evidente desprezo provocado pela atitude deste executivo de lacaios sem vergonha – como  caniches amaricados que, após fazerem uma habilidade, ficam à espera de apanhar em voo um biscoito que a dona, uma velhotas gorda, lhe atire como prémio. O biscoito para Gaspar, para Coelho ou para qualquer outro cão da matilha é aquilo a que durante o salazarismo chamávamos o «pontapé pela escada acima» – a demissão do cargo oficial e a nomeação para uma administração qualquer.

Já aqui dissemos, citando Fernão Lopes na sua Crónica de D. João I  -«todos os tempos são difíceis», mas temos tendência para considerar que nunca houve tantas nem tão ruins privações como as que estamos a passar. Tendo em conta a ironia do grande cronista, nós que estávamos tentados a afirmar que nunca houve um governo tão mau como o que temos neste momento, vamos apenas dizer que esta gente é pior do que a que formava os governos de Salazar – mais estúpida, mais incompetente, mais insensível. Não dispõe dos instrumentos jurídicos de que os ministros da Ditadura dispunham, mas está a fazer tábua rasa da Constituição que veio na sequência do 25 de Abril. Eles, este primeiro-ministro imbecil, mas exibindo a estupidez e a falta de carácter com um sorriso de sábio, um Gaspar que faz as suas comunicações terrorísticas com o ar espavorido de quem acaba de acordar de um pesadelo, e todos os outros, são piores do que qualquer salazarento gabinete – o velho ditador considerava-os descartáveis a todos e demitia-os, como se disse, «como quem puxa o autoclismo». Há uma diferença e devemo-la a homens como Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho – agora podemos denunciá-los publicamente.

Não é muito, mas tem a sua importância.

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