SALAZAR E A I REPÚBLICA – 5 – por José Brandão

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No início do ano de 1902 ocorre o suicídio de Joaquim Mouzinho de Albuquerque, herói das campanhas de Moçambique. Era por altura da morte aio do príncipe real D. Luís Filipe. A sua posição crítica face à política e aos políticos da sua época foi determinante no lançamento de uma campanha contra a sua pessoa, para o afastar do Paço, correndo também rumores sobre uma sua ligação íntima à rainha D. Amélia. Incapaz de, pela sua própria formação militar rígida e pelo feitio orgulhoso, de resistir ao clima de intriga, de indecisão política e de decadência em que a monarquia agonizava, Mouzinho de Albuquerque prepara minuciosamente a sua morte.

Na noite de 7 de Janeiro de 1902, Mouzinho de Albuquerque assistiu a uma peça no teatro. Na manhã seguinte levantou-se aparentemente calmo e mandou que lhe chamassem o trem, tendo conversado demoradamente com a esposa, de quem se despediu afectuosamente. Seguiu para o Paço e pediu ao Rei uma dada fotografia que lhe prometera. Às 14 e 30 seguiu para a baixa de Lisboa, entrou numa espingardaria na Rua do Ouro, comprou balas para o seu revólver. Esteve no Turf-Club onde escreveu cartas e na Livraria Ferrin, onde perguntou por certos livros que deixara a encadernar e comprou o romance Cruelle Énigme, que folheou.

Deu ordens para que o carro descesse até ao Rossio, mandou subir a Avenida e seguir para Benfica. Quando o trem transpunha as antigas portas de S. Sebastião da Pedreira, local deserto, na velha estrada de Benfica, desfechou um tiro na fronte. A detonação fez com que o cocheiro desse um salto no banco. Surpreendido, abriu a portinhola do coupé e deu com o corpo inerte, tombado para diante, empastado em sangue, tendo aos pés o revólver. Foi de imediato conduzido ao Hospital da Estrela mas o ferimento era mortal.

 Em 1903 dá-se a «Greve geral» em Coimbra contra a carestia de vida, conhecida pela Revolta do Grelo. No mercado de Coimbra, as vendedeiras ambulantes revoltam-se contra uma licença designada imposto do selo, que começou a ser exigida nos dias 8, 9 e 10 de Março. Tratava-se não de uma nova licença, mas de novas formas de cobrança. A grande onda de descontentamento popular teve lugar a 11 e 12 de Março, sendo de registar violentos choques com as forças da ordem, em que se registaram dois mortos e numerosos feridos.

A 3 de Julho efectua-se em Viana do Castelo o Congresso do Partido Nacionalista, onde se vota o programa. O novo partido é declaradamente católico.

No ano seguinte, a 19 de Junho, dirigente republicano Afonso Costa é preso pela polícia no Rossio quando se insurge contra a violência policial após o comício organizado nos Anjos pelo Partido Republicano. Bernardino Machado, que o acompanhava com outros dirigentes republicanos, não chegaria a ser conduzido à esquadra pois era portador do cartão de «Ministro de Estado Honorário». A situação política estava particularmente tensa e as Cortes seriam, mais uma vez, dissolvidas no dia seguinte.

O ano de 1904 termina com motins dos estudantes do seminário de Bragança.

 Em 1905, Salazar deu início ao curso de Teologia, ao qual se entregou totalmente.

Terminado o primeiro ano, obteve a nota máxima atribuída, 12 valores, em Teologia

Fundamental e História Eclesiástica.

Em 25 de Março de 1906, Salazar discursa na cerimónia de inauguração do monumento comemorativo dos 50 anos da Imaculada Conceição, perante assistência onde se encontrava o bispo de Viseu.

O país vivia dias amargos e particularmente violentos. A todo o momento surgiam novos confrontos entre as forças policiais e os descontentes do regime.

Nos últimos anos da monarquia o movimento republicano tinha chegado à conclusão que a substituição do regime monárquico não seria levada a cabo por uma forma pacífica. Os republicanos teóricos são, então, substituídos pelos homens de acção que irão fazer a ligação à Maçonaria e à Carbonária.

A condenação que o Papa Pio VII entendeu lançar sobre as sociedades carbonárias não servira para outra coisa senão para aumentar o ódio popular contra a opulência e o poderio das instituições religiosas, que viviam paredes-meias com a terrível miséria que atingia a maior parte da população do País.

Nas suas Memórias, Raul Brandão conta que o dissidente monárquico José de Alpoim lhe teria feito esta afirmação: «Um dia o cardeal-patriarca convidou-me para jantar. Estavam muitos bispos. São jantares que nunca acabam, de quinze pratos, serviço esplêndido – e não calcula a impressão que eu senti, no fim, quando eles se levantaram, muito congestionados, cheios de vinhos magníficos, mamando charutos enormes e com as saias arregaçadas.»

 Salazar 1928

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