POESIA AO AMANHECER – 82 – por Manuel Simões

Carlos Barral – Espanha

( 1928 – 1989)

ENTRE TEMPOS (fragmento)

Um pouco mais. Um pouco mais de tempo.

Partículas de mundo mais velozes

desbordam do seu cálculo.

Poderia

somar o que não existe, como conta

o remador suas remadas, uma e outra,

sem saber quantas faltam, sem se voltar

para ver a ponte imóvel, meditando

os pássaros que mudam de postura

com as asas abertas sobre as bóias…

[…]

Fomos uma espécie?

Séculos de minério,

de subterrânea obstinação foram

diferentes a princípio, mais comuns

do que azul foi o ar que enterravam?…

Ou foi sempre este vidro

a mesma pausa imemorial que agora

sólida entre memórias nos divide?

De pele a pele o tempo heterogéneo

alonga a sua galeria ameaçada.

Edificamos sobre fendas.

Ou que cidade

fundamos instantânea?

(traduçãode Egito Gonçalves)

Nasceu em Barcelona, onde dirigiu uma empresa editorial. Alguns títulos da sua obra poética: “Las águas reiteradas” (1952), “Metropolitano” (1957), Diecinueve figuras de mi historia civil” (1962).

Leave a Reply