Fèlix Cucurull: Um grande escritor catalão e um amigo de Portugal – por Carlos Loures

Fèlix Cucurull foi uma daquelas vozes incómodas que, ao longo de todo o consulado franquista, nunca deixou de defender a cultura catalã e de a tentar proteger da agressiva aculturação a que a ditadura submeteu as nacionalidades integradas no espaço geográfico do estado espanhol.

Os seus livros, muitos deles publicados em Portugal, foram sempre escritos em catalão. Em todo o caso, Cucurull nunca se eximiu de falar castelhano sempre que isso facilitava o contacto e a aproximação, porque a sua luta não era contra a cultura castelhana – era contra a repressão exercida pelo governo fascista de Franco. E a partir dos anos 60, vindo com frequência a Portugal, mercê de uma bolsa da Fundação Calouste  Gulbenkian, aprendeu português. Falava e escrevia na nossa língua e era, sobretudo, um excelente tradutor de português para catalão. A ele se deve a divulgação na Catalunha de grandes escritores portugueses.

Deixamo-vos com este seu poema traduzido por Stella Leonardos:

 

 

Como um dos tantos

 

Virei barbeado de fresco…

Não te falarei de exílios,

nem de lutas,

nem de fome,

nem do destino dos homens;

só de coisas

que sei que hão de te enternecer.

Dir-te-ei: “Tenho um iate,

uma grande fábrica,

um Cadillac,

e terras e mais terras…”

Pode ser que me acredites,

porque é preciso que te enganes;

porque a toda a hora te falam de princesas;

e do filme de domingo

entretecerás um sonho

para toda a semana.

Félix Cucurull
(1919-1996)

1 Comment

  1. Cucurull fou un home de conviccions fermes. Un patriota de pedra picada. I un home obert, dialogant. Un poeta de vena humanista, amb una veu fondament arrelada a la terra.

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