EM VIAGEM PELA TURQUIA – 58 – por António Gomes Marques

(Continuação)

Embora a capital do país seja Ancara, mais uma medida de Mustafá Kemal Atatürk que nos parece bastante inteligente, proporcionando um desenvolvimento mais harmonioso da Turquia do que seria possível se a capital continuasse a ser Istambul. Mesmo assim, atendendo à privilegiada situação geográfica de que disfruta, Istambul continua a ser a maior cidade do país, cuja província, de que é capital, tem mais de 13 milhões de habitantes, continuando a ser o centro financeiro, económico e cultural da Turquia. Há também quem afirme que só a cidade de Istambul tem 14 milhões de habitantes; na verdade, a migração para a cidade é uma constante de ano para ano.

No estudo, ligeiro, que fiz da história da Turquia logo a minha atenção foi atraída para o corte com o passado que a implantação da República impôs, corte esse, e daí o espanto, que não impediu a preservação de uma civilização riquíssima que se deve aos bizantinos e depois aos otomanos, levando-nos ao atrevimento de dizer que os vários antagonismos foram proporcionadores, ao longo da história, da manutenção de uma civilização que soube preservar os tesouros do passado e, ao mesmo tempo, soube criar condições para a construção, ainda em curso, de um país moderno com peso no mundo contemporâneo, sabendo disfrutar da sua localização estratégica, ligando o Oriente e o Ocidente.

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Casulo do bicho da seda, numa fábrica de tapetes

Entre 1923 e o início da década de 80, do século passado, a economia turca seguiu um planeamento estatal, com limites à participação no sector privado, como já aflorámos na pequena biografia de Mustafá Kemal Atatürk, com grande controlo estatal sobre o comércio externo e o investimento estrangeiro no país, limitando mesmo a circulação de moeda estrangeira; a partir de 1983, por decisão do governo chefiado por Turgut Özal, a Turquia abriu-se à economia de mercado. Se o crescimento do PIB foi um facto, cerca de 4% ao ano, as crises financeiras, as recessões e os défices do sector público também se fizeram sentir. Se no início deste século o PIB começou a crescer a uma média superior a 7%, a Turquia também não escapou, aberta que está à economia de mercado, à crise financeira global, levando a que o PIB sofresse uma grande contracção em 2009. Contudo, em 2010, segundo um estudo do Millennium BCP, de Novembro de 2011, «a economia recuperou da recessão e o PIB cresceu cerca de 8%, com as exportações a retomarem o seu nível normal e o consumo privado a evoluir muito favoravelmente. Também o investimento aumentou bastante, apoiado nas baixas taxas de juro e na retoma da confiança dos agentes económicos. No entanto, a economia continua pressionada por um elevado défice das contas correntes e dependente dos frequentemente voláteis investimentos de curto prazo para financiar o seu défice comercial.»

 Os sectores mais importantes da economia turca são o da construção, dos electrodomésticos, da electrónica, dos têxteis, da petroquímica, da alimentação, da siderurgia e da indústria de máquinas e automobilística e, claro, o bancário. Em relação ao sector da indústria automobilística, a Turquia é já o 6.º maior produtor da Europa e o 15.º do mundo, tendo atingido cerca de 1,2 milhões de veículos em 2008. Segundo o Departamento de Promoção Comercial e Investimentos, do Brasil, os «principais grupos de exportados pela Turquia em 2011 foram: automóveis (12%); máquinas mecânicas (9%); ferro e aço (8%); máquinas elétricas (7%); vestuário de malha (6%); e combustíveis (5%).»

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Numa fábrica de tapetes

O turismo tem assumido um papel crescente na economia turca, sendo o país visitado por mais de 30 milhões de turistas/ano, com equipamentos de qualidade, como pudemos testemunhar.

 O sector agrícola, dantes o mais importante, representa hoje cerca de 9% do PIB. Ainda de acordo com o estudo que temos estado a citar do Millennium BCP, os «sectores industrial e de serviços têm um peso significativo na economia turca, embora a agricultura ainda empregue cerca de 30% da força de trabalho.» Diz ainda o mesmo estudo que o «tradicional sector dos têxteis e vestuário continua responsável por um terço do emprego no sector industrial, apesar da grande concorrência internacional. No entanto, sectores como o do equipamento de transportes, construção e indústria electrónica têm aumentado o seu peso, e já ultrapassaram o têxtil no mix de exportações da Turquia.»

 A União Europeia, considerando os seus 27 membros, é o principal parceiro comercial da Turquia, beneficiando da união aduaneira assinada entre as duas partes em 1995, havendo também um acordo de comércio livre entre a U. E. e a Turquia que dá acesso livre à Europa dos 27 dos produtos turcos. Ainda segundo o estudo do Millennium BCP, em 2010 a U. E. absorveu 46,2% do total das exportações turcas, tendo tido origem na U. E. 38,9 % das importações da Turquia

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Numa fábrica, apreciando os tapetes

Dado que falámos da União Europeia, é chegado momento de falar da adesão da Turquia; contudo, há que recuar um pouco no tempo, ou seja, até 1945, o que faremos de seguida.

(Continua)

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