EDITORIAL: COMO PODE ESTAR PORTAS NO GOVERNO?

Diário de Bordo - II

 

Num debate realizado na passada sexta-feira na TVI24, a eurodeputada socialista Ana Gomes disse não haver  “risco” de Paulo Portas sair do Governo porque precisa de “manter a imunidade em relação à justiça”. É uma ironia, pois a saída de Paulo Portas do Governo não seria um risco, mas um imperativo de honra da democracia portuguesa. A presença no executivo de um político sob o qual impendem graves acusações, que vão desde a suspeição de envolvimento activo no processo da Casa Pia, até à questão dos submarinos, é um absurdo. Absurdo que só é explicável pela deturpação da essência da democracia que enforma o nosso sistema político. Sabe-se que as suspeições não foram (ainda) provadas em juízo. Porém, o simples facto de existirem devia de ser impeditivo da sua presença no Governo.

No tal debate televisivo com Pires de Lima, Ana Gomes referiu “as contradições” do CDS em relação ao Orçamento do Estado, acentuando as críticas que têm sido feitas por Paulo Portas, actual ministro dos Negócios Estrangeiros. Lembrou que Portas era o ministro “responsável pelo contrato da aquisição dos submarinos e das contrapartidas”, quando titular na pasta da Defesa. Pelo que “não há risco nenhum do CDS sair do Governo” pois sairia de “rastos por causa de todas as contradições”. Por outro lado, Portas só permanecendo no executivo pode «manter a imunidade inclusivamente em relação à justiça pelo caso dos submarinos»..Pires de Lima contrapôs que Paulo Portas “não é arguido, nem sequer testemunha de coisa nenhuma ao nível da justiça portuguesa ou de qualquer justiça internacional”, pelo que “são afirmações gratuitas”.

Pires de Lima tem tanta razão como os que durante o salazarismo invocavam as leis salazaristas á luz das quais tudo o que o regime fazia era de uma legalidade impecável. À luz de um sistema democrático invadido pela corrupção, dominado por interesses obscuros e servido por gente rasteira e sem dignidade, Paulo Portas está inocente de todas as acusações. Só uma última nota, para lembrar à eurodeputada Ana Gomes que nem só o CDS se debate com contradições…

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