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Irá Noonan publicar a carta enviada pelo BCE que obrigou a Irlanda a pedir o resgate financeiro?

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

mapa da ireland

Fianna Fáil pediu a Michael Noonan para divulgar a carta enviada pelo próprio  Jean-Claude Trichet, depois do Ministério dizer que isso poderia ser feito 

 Trichet - IIO anterior Presidente do BCE , Jean an-Claude Trichet, escreveu a Brian Lenihan  em Novembro de Novembro de  2010
Image: Markus Schreiber/AP

O partido Fianna Fail, pediu a Michael Noonan  para que este  publique uma carta enviada pelo  Banco Central Europeu ao seu antecessor, Brian Lenihan,  onde se percebe  que o BCE  teria forçado o governo  irlandês  a aceitar uma ajuda da UE e do FMI.

A carta, enviada em Novembro de 2010 pelo então presidente do BCE, Jean-Claude Trichet,  sugere  que os empréstimos de emergência concedidos aos bancos  irlandeses seriam cortados se a Irlanda se recusasse  a deixar os mercados de títulos e aceitasse  financiamento de fontes internacionais.

Numa  entrevista ao Sunday Independent de hoje, Noonan disse que a carta, considerada “ameaçadora”,  deve ser publicada  e comentou que a carta “muito directa” deixou   o ministro das Finanças de então, Lenihan,  com “pouca ou nenhuma opção”  que não fosse a de  iniciar negociações sobre um pacote de resgate.

O ministro disse, no entanto, que ele não tem a autoridade para ordenar ao seu  Department’s Freedom of Information  que divulgue a referida carta  – e nada sugere que tenha  tido qualquer desejo de publicar a carta unilateralmente.

O ministro disse, porém, que não teria nenhum problema com a publicação da referida carta em face de um  qualquer inquérito bancário estabelecido pelo governo ou pelo Parlamento,  nos próximos meses.

Até agora, os pedidos para publicar a carta  na base de  Freedom of Information Act  (lei de Liberdade de Informação) , incluindo um feito pelo The Journal   têm sido  rejeitadas pelo Ministério das Finanças e pelo BCE .

O pedido do The Journal  resultou  na informação pública da existência de várias  cartas entre Trichet  e Lenihan, em Novembro de 2010, mas também na  recusa em  disponibilizar  toda a correspondência que possa   estar  relacionada  com o resgate pelo FMI-Comissão-BCE.

Um efeito adverso grave

‘O  Ministério  disse que a correspondência  em questão ‘ contém informações comunicadas  por via diplomática e em situação de confidencialidade, para ou dentro de uma organização internacional de Estados –  o que a torna não elegível para ficar disponível para publicação  na base das condições de aplicação  de   Freedom of Information Act.

O Ministério também afirmou   que alguma correspondência, se libertada, se divulgada,  poderia ‘ter um efeito adverso grave sobre os interesses financeiros do Estado, ou sobre a capacidade do governo de gerir  a economia nacional’.

A utilização  desta cláusula desencadeou  um teste sobre o interesse público, após o qual um alto funcionário do  Ministério  concluiu que o interesse público “não é melhor servido pela  divulgação  relativa a estes registos relativamente aos quais tenha  sido recusado o acesso”.

Entre as razões da recusa estava a possibilidade de que futuras decisões poderiam ser prejudicadas pela publicação das cartas  e que os registos continham informações que:[…] poderia razoavelmente ter um efeito adverso grave sobre os interesses financeiros do Estado, ou sobre a capacidade do governo de controlar   a economia nacional.

Outros pedidos de divulgação  foram feitas junto do  BCE por Gavin Sheridan de The Story. mas foram  recusadas pelo  presidente actual do BCE, Mario Draghi

Quando foram  escritas?

Curiosamente, Lenihan tinha anteriormente indicado  que a carta de Trichet tinha sido recebida em 12 de Novembro de 2010, poucos dias antes de uma reunião dos Ministros de Finanças da zona euro – mas nenhuma carta próxima dessa data aparece na agenda  da  correspondência  recebida pelo Ministério .

Apenas quatro dias depois, Bloomberg citava uma fonte anónima, um alto  funcionário da União Europeia,  segundo a qual a  Irlanda já tinha começado a falar sob a possibilidade  de aceitar pedir  o   resgate.  O valor do resgate acordado  de 67,5 mil milhões  confirmou-se em menos de duas semanas mais tarde.

A única carta  de Trichet, que o Ministério  estava disposto a divulgar  era  uma carta de 2 de Novembro,  em que se discutia um assunto não relacionado com o resgate  – especificamente,  tratava-se  do parecer formal do BCE sobre um plano para alargar as  garantias  bancárias.

O sucessor  de Lenihan como porta-voz do ministério das  Finanças  no  governo  Fianna Fáil, Michael McGrath, disse que  Michael Noonan  declarou  ter sido  a primeira vez que ele tinha ouvido falar dessa carta e que iria pedir para ser publicada imediatamente.

“Essencialmente, trata-se de  uma situação  em que  o Banco Central da zona euro foi apontando uma arma carregada contra  o Governo irlandês, a fim de que este entrasse no caminho imposto,” disse  McGrath .”

Não há nenhuma qualquer razão  para que o povo irlandês  tenha que esperar  décadas para compreender   o plano de fundo completo  que  terá levado   a Irlanda  para  um programa de resgate formal com a UE, o BCE e o FMI em Novembro de 2010.”

Thejournal.ie  “ Will Noonan publish the ECB letter that forced Ireland into a bailout? “ Disponível em :
http://www.thejournal.ie/ecb-trichet-bailout-letter-to-lenihan-573038-Aug2012/

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