Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Goldman Sachs, o lado escuro de Draghi e de Monti
Enzo di Frenna
Não são os governos que dirigem o mundo, mas sim Goldman Sachs, é este banco que dirige o mundo |
Aqui está um interessante artigo de Enzo Di Frenna publicado em “Il fatto Quotidiano” sobre a relação entre duas personalidades de primeiro plano, ou seja a do novo primeiro-ministro italiano Mario Monti e a do director do BCE recentemente nomeado Mario Draghi e o banco americano de negócios e de investimento Goldman Sachs. .—GV (co-editor de e ReOpenNews)
Por detrás da classe política, por detrás destes políticos, será que está então a mão, a força , o dinheiro, a ganância de Goldman Sachs ?
La corsa al Colle è già cominciata. Prodi, Amato, Draghi? E l’ipotesi B. è davvero improbabile?
Molti vogliono una donna: Bonino, ma anche Bindi. Guarda il vox di Ricca e rispondi al sondaggio
Nos dias de hoje, o Le Monde assinalava que Goldman Sachs representava o ‘lado escuro’ de Mario Draghi, o antigo governador do banco da Itália e actual presidente do BCE. Devemos aplicar esta mesma expressão também a Mario Monti. Vamos ver o porquê desta equivalência. Goldman Sachs é o mais poderoso banco de investimento americano, um banco com uma dimensão tal que afecta os mercados e os governos. As palavras do suposto trader independente Alessio Rastani eram pura verdade, quando ele se aproveitou de uma entrevista com a BBC para declarar que “não são os governos que dirigem o mundo, mas sim Goldman Sachs, é este banco que dirige o mundo.” . Em “Inside Job” do realizador Charles Ferguson, o banco de negócios Goldman Sachs é claramente assumido como sendo um dos protagonistas da crise económica que ocorreu em 2008 nos Estados Unidos.
Mas é interessante notar como os homens do Goldman Sachs têm assumido funções importantes na administração dos EUA, até a chegar muitas vezes a funções importantes: Na Administração Clinton, o antigo director do Goldman Sachs, Robert Rubin, tornou-se sub-Secretário de Estado do Tesouro.
Em 2004, Henry Paulson, administrador-delegado da Goldman Sachs, conseguiu que fosse aprovado pela Comissão de Títulos um aumento do limite do rácio do endividamento, permitindo assim que os bancos de investimento pudessem conceder novos créditos para futuras manobras especulativas. Em 2005, Raghuram Rajan, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (2003-2007) publicou um relatório em que anunciou a possibilidade de que as sociedades financeiras, através de enormes riscos que elas assumiam para obterem lucros não menos gigantescos, poderiam fazer entrar em colapso todo o sistema económico. No primeiro semestre de 2006, o Goldman Sachs vendeu 3,1 mil milhões de dólares em CDO’s (Collateralized Debt Obligation) e durante este período, o director foi Henry Paulson. A 30 de Maio de 2006, George W. Bush nomeou-o Secretário do Tesouro e ele foi forçado a vender as suas acções da Goldman Sachs, embolsando de passagem US $ 485 milhões (e curiosamente não pagou nenhum imposto graças a uma lei promulgada pelo anteriormente pelo pai George Bush), [N.T.-JMota- tudo isto a fazer lembrar o que se passou em 1929 com o secretário de Estado Mellon a permitir que as grandes fortunas praticamente não pagassem impostos. Desse ponto de vista ficou famoso o trabalho da Comissão Ferdinand Pecora em mostrar à luz do dia a relação brutal entre os governos que precederam a crise e os principais responsáveis por essa mesma crise.] .
Em Abril de 2010, os dirigentes de Goldman Sachs foram obrigados a depôr perante o Congresso dos EUA: Daniel Sparks, ex-chefe do departamento de obrigações da Goldman Sachs (2006-2008) tinha-se explicado sobre certos e-mails, nos quais ele qualificava certas operações, como sendo “negócios de m…» . Fabrice Tourre, Director Executivo dos produtos estruturados de Goldman Sachs vendeu acções que ele próprio definia como um “lixo”. Lloyd Blankfein, Presidente da Goldman Sachs e David Viniar, vice-presidente executivo, tiveram que admitir que, sob as perguntas cerradas do senador Carl Levin, que eles sabiam muito bem que eles estavam a vender simplesmente m…
Infelizmente, até mesmo Barack Obama reforçou o poder dos bancos. O novo Presidente do Federal Reserve Bank de Nova York (accionista do Fed) é chamado William Dudley; É o antigo economista-chefe do Goldman Sachs (aquele que, em 2004, elogiava e de que maneira os produtos derivados ). O chefe de gabinete do departamento do Tesouro chama-se Mark Patterson, uma ex-lobista de Goldman Sachs. À frente da CTFC (Commodity Futures Trading Commission), encontra-se Gary Gensler, um ex-chefe da Goldman Sachs, que ajudou a impedir a regulação sobre produtos derivados .
Na Europa também, Goldman Sachs opera sobre o longo prazo. Em 1999, a Grécia não cumpria os critérios para a entrada no Euro. E assim maquilharam-se os números . Em «Presseurop», Gabriele Crescente escreveu : « em 2000, Goldman Sachs International, a subsidiária britânica do banco de negócios americano, vende ao governo socialista de Costas Simitis um “swap” em valor que permite que a Grécia se esteja a proteger contra os efeitos das variações cambiais ao transformar em euros a sua dívida inicialmente emitida em dólares ou iénes. O estratagema permite a Atenas incluir a sua ‘nova’ dívida em euros e da excluir das suas operações em balanço fazendo-a contabilisticamente desaparecer . Assim, Goldman Sachs ganha as suas comissões substanciais e alimenta uma vez mais a sua reputação como um excelente gestor da dívida pública. »
Mas voltemos a Mario Draghi . Entre 2002 e 2005, ele foi vice-presidente e membro do Comité de Direcção Mundial de Goldman Sachs. Por outras palavras, isto corresponde exactamente ao período em que nos EUA os bancos de negócios estão de modo desenfreado metidos em manobras especulativas e assim alargaram o abismo que se materializou em 2008, e que se espalhou por todo o mundo. O nosso economista italiano realmente não tinha nenhum conhecimento do que se estava a passar, não tinha nenhum conhecimento destas tendências? Se assim é então, e no mínimo, podemos e devemos considera-lo um incompetente.
Mario Monti também trabalhou para o banco de investimento Goldman Sachs: desde 2005, é consultor internacional da Goldman Sachs e mais especificamente, de Research Advisory Council de Goldman Sachs Global Market Institute. Quer tudo isto dizer que isto se passa desde que a crise económica mundial começou a emergir.
Estas informações curiosamente não são publicadas na imprensa italiana . Mas encontramos-las na Internet. Na segunda emissão de “Servizio Pubblico” [nova edição na Web do famoso apresentador Michel Santoro – NdT], o bloguista Claudio Messora explicou as relações entre Mario Monti e Goldman Sachs. E ele mencionou um artigo publicado por Milano Finanza que – coisa excepcional – revelou o papel do Goldman Sachs no aumento do ‘spread’ de títulos italianos nestes últimos dias . No espaço de alguns minutos no Facebook, os internautas, respondendo a uma sondagem on-line mudou : antes, eles queriam que Mário Monti fosse nomeado Primeiro-ministro , mas depois destas revelações mudaram de opinião. Isto é bem a prova que se o sistema de informação cumpre o seu dever nós teríamos menos lóbis no poder e teríamos igualmente muito mais democracia. ..
Enzo Di Frenna, Goldman Sachs, le côté obscur de Draghi et Monti, publicado em AgoraVox, disponível no site: http://www.agoravox.fr/actualites/international/article/gold.
Tradução de GV pour AgoraVox para a edição francesa ,