RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

Est-il normal de confier l’Europe à des anciens banquiers de Goldman Sachs ?

Por Albert Ricchi (no seu site)

sexta-feira 18 de novembro 2011 – disponível em
http://www.agoravox.fr/actualites/politique/article/est-il-normal-de-confier-l-europe-104543

É normal confiar a Europa aos antigos banqueiros da Goldman Sachs Europa?

Recrutar banqueiros como bombeiros da Europa, tal parece ser a política dos dirigentes europeus e, nessa tarefa e à cabeça estão pois Nicolas Sarkozy e Angela Merkel.

Mario Draghi, o novo Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Loukas Papadimos, o novo primeiro-ministro grego e Mario Monti, o novo primeiro-ministro italiano, três financeiros promovidos e em que dois deles são antigos funcionários do mal-afamado banco Goldman Sachs que ajudou a Grécia a esconder milhões de euros de empréstimos do Estado grego…

Mario Monti - V

Mario Draghi, Loukas Papadimos, Mario Monti, três banqueiros formados inicialmente nos Estados Unidos, sem falar também do economista português António Borges que foi colocado à frente do departamento do FMI para a Europa pela mão de Dominique Strauss-Kahn ou ainda de Paul Achieltner, conselheiro do director geral do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, FEEF, Presidente da gigante seguradora alemã Allianz e que trabalhou, também ele, para o banco Goldman Sachs durante 12 anos…

Hoje, o seu papel será, na actual crise europeia, sem dúvida, o de preservar os interesses dos bancos. O seu programa está com antecedências já traçado, seja o que for que pensem as pessoas, e será a redução das despesas públicas, a redução de benefícios sociais, a reforma liberal para a economia .

Mario Draghi fez os seus estudos nos Jesuítas. Mario Draghi é licenciado em economia e gestão  pela Universidade de Roma “La Sapienza” em 1970 e é diplomado pelo Massachussetts Institute of Technology (MIT). No período que vai de 1991 a 2001 foi director geral do departamento do Tesouro, responsável pelas privatizações que se fizeram nesse período em Itália. Dada essa função foi membro do Conselho de administração de vários bancos e de várias sociedades em fase de privatização (Eni, IRI, Banca Nazionale del Lavoro-BNL e IMI). De 2002 a 2005 foi vice-presidente para a Europa da Goldman Sachs, o quarto banco de negócios à escala mundial. Tornou-se governador do banco da Itália em 2006.

Loukas Papadimos é diplomado pelo Massachussetts Institute of Technology. Foi Professor na Universidade americana de Columbia antes de se tornar conselheiro económico do Federal Reserve de Boston. De 1994 a 2002, foi governador do Bank of Greece, lugar que manteve quando a Grécia se “qualificou” para entrar no euro, através da manipulação de contas organizada por Goldman Sachs. Depois, foi vice-presidente do BCE. Ele acaba de ser nomeado, sob a pressão da União Europeia e do G20, primeiro-ministro da Grécia, com o apoio dos dois partidos dominantes, e em um deles é o  partido de socialista grego (PASOK).

Mario Monti é diplomado pela Universidade de Yale. Ele estudou o comportamento dos bancos em regime de monopólio. Depois, foi durante dez anos Comissário Europeu, de 1994 a 2004, primeiro para “o mercado interno e direitos aduaneiros ” (ou melhor da sua supressão…) e, em seguida, foi Comissario para as questões da concorrência. Membro da Comissão Trilateral e do grupo Bilderberg – de acordo com a Wikipédia – foi nomeado conselheiro internacional de Goldman Sachs em 2005. Acaba agora de ser nomeado senador vitalício e a União Europeia em conjunto com o G20 impuseram-no como Presidente do Conselho Italiano.

O banco Goldman Sachs é apelidado nos Estados Unidos como o ‘governo Sachs’ tal é a sua influência no governo americano. O Secretário de Estado do Tesouro da Administração Clinton, Robert Rubin, o principal responsável pela desregulamentação financeira, veio da Goldman Sachs. Deste mesmo  banco veio igualmente o Secretário de Estado do Tesouro de Bush, Hank Paulson, que transferiu para os Estados as dívidas podres dos bancos durante a crise financeira.

O actual presidente do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, gosta de dizer que “faz o trabalho de Deus”. Na verdade, Goldman Sachs está no coração da predação financeira e tem estado envolvido em muitos escândalos: subprime, engano dos clientes (a quem o banco recomendava a compra de produtos financeiros contra os quais ela em segredo estava a especular à sua descida ) ou ainda a maquilhagem das contas gregas.

A nomeação destes três homens de uma certa forma esclarece as coisas. Com o BCE, principalmente, eles estão a defender não o interesse dos cidadãos e dos contribuintes europeus, mas sim o interesse dos bancos. Um estudo britânico recentemente citado pelo jornal Les Echos tem o mérito de quantificar claramente o processo actual. Este estudo indica que, graças aos «planos de resgate» da Grécia e ao mecanismo de europeu estabilidade financeira estabelecido pelo BCE, FMI e EU, a exposição de cada família vai passar €535 hoje em €1.450 proximamente!

O “resgate” da Grécia e da Itália é, na verdade, uma gigantesca operação de socialização das perdas do sistema bancário. Isto é, trata-se de transferir a maior parte da dívida grega – mas também espanhola e irlandesa – das mãos dos banqueiros para as mãos dos contribuintes. Em seguida, será então possível fazer assumir os custos da inevitável reestruturação destas dívidas pelos orçamentos públicos europeus.

Como o afirmam Os Indignados espanhóis, “isto não é uma crise, isto é uma farsa !” O Parlamento Europeu votou o “pacote sobre a governação” que reforma o Pacto de Estabilidade, reforçando as restrições sobre os orçamentos nacionais e as sanções contra os países que as violem. O Conselho Europeu completou o trabalho, a seguir. Finalmente, com o Acordo Europeu de 26 de Outubro, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, queriam fazer com que a opinião pública europeia acreditasse que estávamos no caminho certo.

Mas, para finalmente se ter os meios para resolver definitivamente a crise, precisamos de uma mudança radical de todos os tratados, de uma alteração dos estatutos do BCE, de uma “regra de ouro” para um mínimo de nível social, ambiental e fiscal na Europa.

No entanto, não há nenhum sinal de que estamos a caminhar nessa mesma direcção. No entanto, uma medida simples e eficaz de acção ainda não foi sequer tomada pelos chefes de Estado europeus: que o BCE esteja disposto a emprestar aos Estados a 1,25%, como o tem feito aos bancos privados que, estes e a seguir, têm estado a emprestar a 18% à Grécia. Esta medida tem sido continuamente recusada pela Alemanha e pelo BCE, que se defende atrás do Tratado de Lisboa que proíbe…

Outra medida que tem sido sucessivamente mandada para as calendas gregas: um simples imposto sobre as transacções financeiras que nas maior parte das vezes são de natureza pura e simplesmente especulativa e não contribuem em nada para a economia real, seria suficiente para repôr em ordem as finanças de todos os Estados europeus…

Eis porque é que hoje, que um grande avanço para uma alteração dos tratados a ser feita no sentido que a realidade impõe, ou seja, a ir na direcção certa para responder à crise, só pode acontecer se o futuro governo francês mostrar uma verdadeira firmeza na sua política de recuperação da soberania, nomeadamente monetária, esta verdadeira firmeza que consiste em estar pronto, se necessário, para sair da União Europeia…

Photo Créative Commons: Mario Monti par aeneastudio (http://www.flickr.com/photos/aeneastudio/6334039005/)

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