CHAMARAM-LHE PORTUGAL – 12 – por José Brandão

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D. DINIS – O LAVRADOR

 (reinou de 1279 a 1325)

 

«Primeiras dissensões do infante D. Afonso

Apenas el-rei D. Dinis herdou o trono, o infante D. Afonso seu irmão afirmou sem rebuço pretensões de lhe ser preferido. O vicioso fundamento que alegava era o de ter nascido D. Dinis antes de alcançada a dispensa pontifícia para a validação do casamento de seus pais, ao passo que ele, D. Afonso, nascera legitimado, porque na data do nascimento já o pontífice legitimara o casamento de D. Afonso III com D. Beatriz.

A alegação era insubsistente, porque o pontífice, concedendo a dispensa necessária para a validação do casamento, legitimara também os filhos já nascidos, e quando o argumento procedesse, do mesmo modo procederia contra D. Afonso, concebido muito antes de alcançada a dispensa pontifícia.

Não tomou grande vulto a pretensão do infante, por falta de fundamento sério, mas bastou para deixar fermento de suspeições e más vontades entre os dois irmãos.

D. Afonso tinha o senhorio das vilas de Portalegre, Marvão, Arronches e Vide. Esta última era povoação aberta e o infante resolveu murá-la, ou no simples pensamento de enobrecer a terra ou acaso com intenções belicosas. Em Abril de 1281 dirigiu-se el-rei D. Dinis a Vide, com forças bastantes para reduzir o irmão, se este pretendesse resistir.

Dos acontecimentos não há notícia circunstanciada, mas sabe-se que em Vide foram encontrar o monarca português embaixadores de Aragão, enviados pelo rei D. Pedro, para ratificarem o casamento de sua filha com D. Dinis, e que a este aconselharam instantemente a paz, comprometendo-se a trazer D. Afonso à condição de obediência. Pela sua parte, o infante retirou-se prudentemente para Sevilha e de lá enviou procuração para se firmar o acordo com D. Dinis.

 Novas discórdias do infante D. Afonso

D. Álvaro Nunes de Lara, insofrido fidalgo castelhano, descontente de seu rei D. Sancho, andava em 1286 em Portugal, que então era — como diz António Brandão — valhacouto dos cavaleiros do reino de Castela. Como alcançara prestígio em ambas as monarquias, pôde reunir combatentes portugueses e castelhanos, com os quais, por terras de Riba Côa, fazia entradas em Castela, sem que D. Dinis, durante algum tempo, lograsse pôr cobro ao abuso.

Com D. Álvaro de Lara estava concertado o infante D. Afonso, que na fronteira do Alentejo praticava iguais demasias. Para ali se dirigia, em 1287, D. Sancho de Castela, para castigar as arremetidas do infante português. D. Dinis cumpriu pela sua parte os deveres que lhe impunha o direito de soberano, dirigindo-se com muita gente armada à vila de Arronches, a fim de pôr termo aos desmandos de seu irmão, que ali se recolhera. A 6 de Novembro já estava el-rei defronte da vila e logo as forças castelhanas com as portuguesas lhe puseram apertado cerco.

A resistência foi porfiada. A rainha viúva D. Beatriz e sua filha D. Branca, sabendo em Burgos da luta que se travara, puseram-se a caminho para tentarem a concórdia. No mesmo pensamento de pacificação se encontraram também a rainha Santa Isabel de Portugal e a rainha D. Maria de Castela. No princípio de Dezembro, o infante, iludindo o cerco, pôde transferir-se a Badajoz, onde estavam D. Beatriz e D. Branca. Na mesma cidade se fizeram as pazes, por instrumento público lavrado a 13 de Dezembro de 1287.

Não foi esta a última nem a mais grave das rebeliões do infante D. Afonso. […]

A seguir – Guerra com Castela

 

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