Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
O triunfo de GRILLO e o “movimento-empresa”
Giuliano Santoro.
Nas eleições de 24 e 25 de Fevereiro de 2013, o movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo obteve cerca de 25% dos votos nas duas câmaras do Parlamento italiano, tornando muito difícil a formação de uma maioria estável e, assim, a de um governo também. Aqui está o que Giuliano Santoro escreveu no rescaldo das eleições.
Anunciava-se um sucesso para Grillo. Em vez disso ele alcançou um triunfo. A estratégia de comunicação do comediante que invadiu a Internet e a utilizou para fazer passar as suas mensagens de alto a baixo, ganhou. Ganhou aquele que alarga a linha unindo a TV e a Web para traçar uma via de três pistas percorridas pelos autocarros dos eleitores que fogem do sistema de partidos. Os refugiados do voto que fogem com armas e bagagens dos escombros fumegantes da crise económica e da democracia. Estes, são homens e mulheres e entre eles há também alguns parlamentares iniciantes, o que não deve ser diabolizado mas sim, que deve ser compreendido, porque o sofrimento deve ser respeitado, mesmo que este sofrimento leve as pessoas ao erro: eles tomaram o caminho mais fácil porque dramaticamente este mesmo caminho aparece-lhes como a única via de saída possível.
Depois do ventennio (1) do partido empresa berlusconiano, o movimento-empresa de Grillo ganhou. Enquanto o primeiro tinha deslocado a organização política do século XX para a lógica do marketing e dos interesses particulares, a figura de Grillo e de Casaleggio desloca a acção dos movimentos e até à raiva anti-sistema, entre as paredes inexpugnáveis da fábrica social pós-fordista, onde o trabalho gratuito se torna ‘criativo’ e a disciplina se torna ‘liberdade de acção’.
Venceram aqueles que utilizam a Web como máquina para capturar a criatividade e fechar uma comunidade que tem a ilusão de finalmente estar a mostrar as suas “competências”, venceram aqueles que, com a desculpa de luta contra a “Casta”, constroem a unidade entre os explorados e os exploradores, ricos e pobres, fortes e fracos (“Nós aspiramos a cem por cento de votos,” promete Grillo).
Perderam aqueles que esperavam responder a um movimento-empresa com um partido, perderam aqueles que têm subestimado o declínio da representação mas também aqueles que exactamente a quem não se põe o problema da representação, para assim a ultrapassarem e também para a derrubarem .
Perderam os verdadeiros movimentos, por se deixarem envolver nalguns dos temas e também por alusões a certas práticas. Mas só os verdadeiros movimentos conhecem o antídoto contra o movimento-empresa. Porque sempre que um partido tradicional tenta desafiar o grillismo sai derrotado. E porque só os verdadeiros movimentos podem pôr em prática um outro uso da Internet e interrogar concretamente a falta quase absoluta de democracia sob a marca movimento 5 das estrelas.
O voto em Grillo está à medida da incapacidade da política dos partidos em mudar realmente a vida das pessoas. “Se se trata apenas de produzir palavreado então deixe-se falar aquele que nos faz rir e constrói ritos colectivos que exorcizam o nosso sofrimento”, parecem dizer os eleitores que deram a vitória a Beppe Grillo.
Mas que isto fique claro: aquele que não parou de agitar pelo baixo tem o dever de reivindicar como é que, ele durante estes anos levou verdadeiramente a cabo outras formas de vida e outras formas de política, construindo novas formas de cooperação e de apoio mútuo, edificando, criando, à beira do vazio cultural criado pelo último ventennio como pela crise económica. A palavra agora deve passar para àqueles que podem conter e sabotar o marketing privado do grillismo, mostrando praticamente quais são os seus limites e as suas falsas promessas sem ser com isso arrastado pelos restauradores da soberania violada dos partidos. Que os outros se afastem, eles já perderam.