Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Uma lição sobre equilíbrio orçamental e a República de Weimar
Fabius Maximus
Parte II
(conclusão)
Assim, Bruening gastou os primeiros meses do seu governo a tentar equilibrar o orçamento, apenas para descobrir depois que a situação económica o tinha ultrapassado completamente, que estava fora de qualquer controle. O défice projectado triplicou durante os seus primeiros três meses de governação e neste período em que a tributação aumentou, as receitas dos impostos desceram e aumentaram as despesas com a segurança social, [ ou seja o défice disparou, como agora em Portugal ou em qualquer outro país sob o reino dos imperadores de Bruxelas e da Troika].
A 16 de Julho de 1930, o programa de orçamento equilibrado de Bruening foi derrotado no Reichstag por 256 contra 193. Bruening imediatamente repôs na integra o programa orçamental então recusado no Parlamento através de um decreto presidencial de emergência. Por uma votação muito próxima, o Reichstag exigiu que o Decreto fosse anulado. Em resposta, Bruening dissolveu o Reichstag, na esperança de que a realização de novas eleições lhe daria um mandato para continuar a prosseguir as suas políticas de austeridade orçamental. A dissolução da legislatura explodiu-lhe em plena cara: os nazis ganharam 107 lugares. Os partidos da direita parlamentar a partir dos quais o Chanceler tinha a sua base parlamentar colapsaram, desmoronaram-se.
Mas Bruening mesmo assim continuava a acreditar na necessidade de um orçamento equilibrado e na manutenção do padrão ouro. As despesas públicas foram cortadas em cerca de um terço de 1928 a 1932. Mas os cortes orçamentais da política de redução do Estado Providência não foram uma boa coisa e provocou bastante mal-estar. A economia alemã avançou ainda mais a caminho da Grande Recessão .
… Mesmo após a crise financeira a expansão era ainda possível em 1931 — porque a Alemanha já não estava no padrão-ouro – Brunning continuou a esperar que equilibrar o orçamento era a atitude fundamental para restaurar a confiança dos investidores, dos mercados. No final ele acabou por impor uma situação de profunda deflação na economia: um decreto de 8 de Dezembro de 1931 ordenava a redução de dez por cento em todos os preços fixos e um corte de dez a quinze por cento nos salários.
Do nosso ponto de vista tal uma tal queda dos preços não iria ajudar a economia. As dívidas seriam um maior fardo para a economia na base de preços agora mais baixos, a incerteza sobre a estabilidade do sistema financeiro seria agora maior, e assim o investimento iria cair ainda mais. As medidas deflacionistas e de suposta equilíbrio do orçamento não ajudaram mesmo nada. Os ingleses tentaram cancelar a carga da dívida mas essa decisão chegou já demasiado tarde para permitir restabelecer a confiança, enquanto Bruening ainda estava no governo. O desemprego aumentou.
E, como o desemprego aumentou, a votação do partido nazi também subiu. Porque é que o aumento do desemprego fez aumentar a percentagem de votos obtida pelos nazis? Como a grande depressão se aprofundou, as alianças entre os velhos partidos foram abaladas e os que anteriormente eram apáticos passaram a ir às urnas. Seria muitíssimo pouco provável que os eleitores viessem a mudar-se para os partidos ditos da direita parlamentar: estes tinham governado o país e, então, presumivelmente teriam forte responsabilidade na depressão económica criada.
Quanto aos eleitores não pertencentes à classe trabalhadora na indústria era muito pouco provável que viessem a votar nos sociais-democratas: os social-democratas eram um partido explicitamente baseado na luta de “classes” com a sua retórica e sua forma de organização em que se tornavam incómodos ou desconfortáveis para a classe média; os sociais-democratas carregavam a dupla carga num país fortemente nacionalista de serem oficialmente “internacionalistas” e de terem sido os colaboradores dos aliados que tinham imposto o acordo de paz de Versalhes. Na verdade, os eleitores social-democratas tendiam a deslocar o seu voto a favor dos comunistas.
Os eleitores descontentes estavam interessados num partido que prometesse fazer qualquer coisa que respondesse à depressão instalada: um partido que tivesse a explicação de quem eram os responsáveis pelo que se estava a passar, que tivesse um programa e um sentido em direcção à acção, em vez das conversas no Parlamento. Os nazis tinham a explicação de quem eram os responsáveis: os judeus, os financeiros, os capitalistas estrangeiros e os “criminosos de Novembro”, os social-democratas que tinham assinado o Tratado de Versalhes. Eles tinham uma vocação em direcção à acção. E eles tinham um programa, não importava que fosse confuso ou indefinido: a recusa do Tratado de Versalhes, o rearmamento alemão e a reafirmação nacional assim como a reconstrução e reconfiguração industrial e a sua colocação ao serviço da nação para assim criar empregos.”
Fim de citação.