EDITORIAL – MANUEL RIBEIRO DE PAVIA

Imagem2Num tempo, como este em que vivemos,  dominado por crápulas, por políticos sem honra e por banqueiros sem moral, por gente que se guia pelos fins que tem em vista e não pelos princípios que hipocritamente invoca, faz bem lembrar a existência de homens honrados  e que colocam os princípios adiante dos fins, o ser primeiro do que o ter. Homens que pagam um elevado preço pela sua falta de pragmatismo.

Faz hoje 113 anos que nasceu, e 56 anos que morreu,  Manuel Ribeiro de Pavia. Nasceu em 19 de Março de 1910, em Pavia, concelho de Mora e morreu em Lisboa, a 19 de Março de 1957.  Foi um excepcional  desenhador, ilustrador, aguarelista, talvez o mais brilhante artista plástico do neo-realismo português. As capas dos livros principais escritores do movimento, nomeadamente os romances de  Alves Redol, saíram da arte, a um tempo vigorosa e delicada, de Manuel Ribeiro de Pavia.Imagem3

O  Alentejo, região mais martirizada durante o meio século da ditadura salazarista,  foi o  protagonista dos seus trabalhos, principalmente desenhos e aguarelas. A beleza das suas ceifeiras e mondadeiras não impedia a violência com que denunciava a injustiça social. Participou em quase todas as Exposições Gerais de Artes Plásticas. Na segunda, realizada em 1947, algumas das suas obras expostas foram apreendidas pela polícia política. O regime salazarista não dava tréguas aos seus opositores. Para se lutar contra a ditadura ou se era rico ou se morria de fome. Manuel Ribeiro de Pavia era antifascista e pobre.

Imagem2É quase inimaginável o prejuízo que um regime estúpido, saído da imaginação doentia e tacanha de um déspota, causou ao desenvolvimento cultural de um povo, pois não podemos sequer imaginar o que Manuel Ribeiro de Pavia nos poderia ter legado se lhe tivessem sido facultados meios mínimos que lhe permitissem trabalhar e sobreviver – “Nunca tendo podido realizar sonhos de pintor mural, dentro dos esquemas estéticos do neo-realismo, em que ideologicamente se enquadrava, Pavia deixou larga obra dispersa de guaches a desenhos”, disse  José Augusto França.

Homem de princípios, de uma elevada moralidade, soçobrou, vergado pela miséria, Morreu no quarto de pensão que lhe servia também de atelier, na Rua Bernardim Ribeiro. Morreu no dia em que completava 47 anos.

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