Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Karel de Gucht: “O made in France não corresponde à realidade do terreno “
Karel de Gucht, o comissário europeu para o Comércio esteve em missão em Paris – Copyright Reuters
Romain Renier | 17/01/2013, 07:40 – 673 mots
La Tribune
Numa visita a Paris, na quarta-feira, o Comissário Europeu para o comércio externo aproveitou a oportunidade para explicar a linha de Bruxelas face às questões levantadas pela globalização. Enquanto criticava em filigrana as posições proteccionistas do ministro para a renovação do tecido produtivo em França, Arnaud Montebourg, distribuiu uma boa notação ao governo ao saudar o acordo alcançado sobre o emprego entre os parceiros sociais.
Karel de Gucht, Comissário Europeu para o comércio estava em missão na quarta-feira em Paris. O belga, conhecido por sua franqueza havia criticado fortemente as posições proteccionistas do ministro Arnaud Montebourg. Esta é sua primeira visita oficial à capital, onde ele falou na quarta-feira perante a Comissão de relações exteriores da Assembleia Nacional para convencer os deputados dos benefícios da política comercial de Bruxelas face aos mercados emergentes. Foi também a oportunidade de um primeiro encontro com uma dúzia de jornalistas durante o qual ele defendeu as suas ideias com confiança, e temos de admitir, com muito pouco respeito pelas ideias menos liberais que as suas próprias opiniões.
As trocas extra-europeias, fonte de empregos na Europa
Tomando uma contra-argumentação aos pontos de vista do ministro francês, o Comissário defendeu uma maior abertura comercial entre os países da União Europeia (UE) e as economias emergentes. Do seu ponto de vista seria a única maneira para fazer arrancar o crescimento económico. Segundo ele, “30 milhões de trabalhadores da indústria e dos serviços devem o seu posto de trabalho à existência do actual comércio externo”. E este número deverá “aumentar ainda mais se quisermos reencontrar o crescimento”, disse .
Colocar a tónica sobre o comércio mais do que sobre a balança comercial
Para convencer dos benefícios da globalização, ele desejou explicar aos franceses, a começar por alguns membros do governo, que eles devem rever a sua maneira de apreender o que são as trocas comerciais. Mesmo se ele próprio reconheceu que não estava em “terreno fértil”.
“Há uma diferença entre o comércio e as exportações, uma vez que a ideia do “made in France” não corresponde à realidade no terreno,” disse Karel de Gucht. Para ele, a hipótese de um país se concentrar nas exportações é uma atitude vã, até porque as importações contam tanto quanto as exportações. “Para exportar, é necessário importar”, frisou. Ele defendeu também neste sentido um novo método de cálculo proposto pela OCDE e pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que querem avaliar o comércio externo baseando-se sobre o valor acrescentado. “Com esse método, baseamos-nos no valor acrescentado, não sobre o produto acabado”. E dá a seguir um exemplo: “as noções em jogo são muito complexas mas tomemos o exemplo de um telemóvel concebido na Califórnia e que é montado na China a partir de materiais da República Democrática do Congo e com peças electrónicas produzidas na Malásia. Hoje o produto é considerado como sendo exportado pela China, mas a parte chinesa no valor acrescentado é estimada em 15% do seu valor total.”…
Esta nova ferramenta permitirá calcular com mais precisão o que é exportado, tendo em conta o que é produzido realmente em cada país e não apenas o o valor que atravessa, que saí pelas fronteiras. “Isto coloca em destaque e valoriza a propriedade intelectual”, argumenta. “Estas estatísticas são mais favoráveis à Europa, felicitou-se Karel de Gucht Estas mesmas estatísticas mudam então de modo significativo as balanças entre a Europa e Ásia e entre os Estados Unidos e a China porque os défices são muito menores em valor acrescentado.”
O acordo sobre o emprego é “um passo realista na direcção certa”
Finalmente, na sua opinião, para alcançar progressos na concorrência a nível mundial, “o que é mais importante é o ambiente político e financeiro,”. Neste sentido, o recente acordo sobre o emprego que foi celebrado entre os parceiros sociais em França é, na sua opinião, um “passo realista na direcção certa”. Mesmo se os esforços são devam apenas ficar por aqui . E coloca a tónica sobre a investigação e o desenvolvimento (R & D) assim como sobre a educação. “Temos de criar as condições para que as empresas possam produzir em França,” concluiu o Comissário.
Esta visita a Paris de Karel de Gucht tinha todo o ar, sob a forma de uma argumentação, de querer ser uma operação de sedução face aos políticos francesas e à opinião pública. Bruxelas é muitas vezes vista em França, como a cidadela do liberalismo puro e duro. O Comissário pretende ser pedagógico e por esta via informar e convencer os franceses dos benefícios da política de Bruxelas em matéria de política comercial nos tempos da actual globalização. Numa forte lógica de livre-troca. Mas a sua mensagem poderia encontrar eco, numa altura em que o défice da balança comercial crónico da França e as ondas de destruição de postos de trabalho na indústria estão e fortemente a aumentar.