Pentacórdio para Quinta-feira 28 de Março

por Rui Oliveira

 

 

   A escassez de outros acontecimentos públicos, musicais ou outros, torna provavelmente o concerto do Hot Club esta noite de Quinta-feira, 28 de Março o evento novo a destacar, dando como conhecido que prosseguem neste dia (bem como nos anteriores) as actuações na Fundação Calouste Gulbenkian da sua Orquestra e Coro na interpretação de Um Requiem Alemão de Brahms (ver Pentacórdio de Terça 26).

 

 

   Assim os amadores de jazz poderão beneficiar do regresso àquela mítica “mansão do jazz” (que é o Hot) do saxofonista britânico Julian Argüelles que aqui vem formar um Julian Argüelles Quintet de circunstância (ou para persistir?) com os músicos nacionais Mário Laginha (piano), André Fernandes (guitarra), Nelson Cascais (contrabaixo) e Marcos Cavaleiro (bateria).Julian_Arguelles[1]

   Tendo iniciado a sua carreira com a “European Community Big Band”, com a qual realizou uma digressão europeia quando contava com apenas catorze anos de idade, integrou mais tarde a big band britânica “Loose Tubes”, tendo colaborado também com vários membros dessa formação, da mesma forma que Django Bates, director musical dos Loose Tubes, participou nos seus álbuns “Skull View” e “Escapade” editados nesse período.

Julian_Arguelles ground rush   Tem (como diz na sua biografia) actuado como solista com inúmeros músicos internacionalmente reconhecidos como Tim Berne, Hermeto Pascoal, Steve Swallow, John Abercrombie, Dave Holland, Dave Liebman, Jim Black, Peter Erskine, Django Bates, John  Taylor, Kenny Wheeler ou Carla Bley.

   Nos últimos quatro anos teve uma participação de sucesso como membro da “HR Big Band” de Francforte (Alemanha) e à sua discografia foram durante esse tempo acrescentados os títulos dos álbuns “Inner Voices” (2009), “Momenta” (2009) e “Ground Rush” (2010).

   Damos aqui ao leitor a possibilidade de ouvir um curto excerto da sua passagem há exactamente 5 anos (em Março de 2008) pelo Hot Club com outro quinteto :

   Para algum contraste, eis em seguida a canção “Brushes” do álbum “Inner Voices” que tem a particularidade de nela Julian Argüelles ter tocado todos os instrumentos  desde os saxofones soprano, tenor e barítono, aos clarinetes, às flautas, à harmónica e mesmo ao piano preparado :

 

 

   Musicalmente, há ainda um segundo concerto na Sala dos Espelhos do Palácio Foz, como habitualmente de entrada livre, como conclusão do “II Concurso Internacional de Clarinete de Lisboa”, uma iniciativa da Cultivarte e da Fundação Inatel.

   Aí actuará, às 17h, o vencedor do referido Concurso, tocando em clarinete um programa não anunciado. Será, segundo se anuncia, acompanhado ao piano pela Profª Aniko Harangi, docente do Conservatório – Escola de Artes Engº Luís Peter Clode da Madeira.

 

 

 

   Num polo diferente da música, a bossa nova será o tema da última semana do mês de Março no Espaço Brasil (à LX Factory em Alcântara).

hqdefault   Aí se apresentará, para a abrir, a cantora paulista Wanda Sá nesta Quinta-feira, 28 de Março, às 22h30.

   Considera a propaganda do Espaço Brasil que “… se João Gilberto é o pai da Bossa Nova, Wanda Sá é a mais fiel intérprete feminina desse movimento …”. Exagero ? O facto é que  Wanda Sá começou a cantar em 1963, ainda menina , no programa Dois na Bossa ao lado de Tom Jobim e Ronaldo Boscoli e este ano, ao completar 50 anos de carreira , tem o seu nome  ligado a uma história de prestígio dentro da música popular brasileira.

   Desde que, em 1964, gravou o antológico disco “Wanda Vagamente” que a tornou conhecida, a que se seguiu “Softly” (1965), Wanda pertenceu à banda de Sergio Mendes do grupo Brasil 65 com Jorge Benjor e Rosinha de Valença e fez múltiplos shows com Vinicius de Moraes, Miele e Baden Powell.w3

   Possui uma vasta discografia e a sua voz característica, acompanhada a violão, fez uma trajectória notável dentro da música popular brasileira ligada aos grandes compositores do movimento da bossa nova, como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Marcos Valle, João Donato, Tom Jobim.

   Também nas apresentações e gravações contou com a presença de diversos intérpretes destacados da MPB, tais como Gal Costa, Marcos Valle, João Donato, Roberto Menescal, Nana Caymmi ou Ivan Lins.

   Este é um registo recente (em 2008) dum show em que Wanda Sá contracenou com Roberto Menescal retomando o velho tema “Vagamente” :

 

   E para comparar, recuemos quase 50 anos, para ouvir o tema “Tristeza de Amar” do álbum de estreia “Wanda Vagamente” :

 

 

   Perante este panorama modesto, voltemo-nos ainda hoje para a tarefa de lembrar aos leitores que encerrarão em breve algumas exposições, deixando para amanhã a referência a duas importantes no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian.

 

 

   Na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão, nº 18-B) permanece até Sábado 30 Março a exposição intitulada “Ana Maria” de Ana Jotta, conjunto de pinturas fruto do seu trabalho recente de dois anos.arvore

   Nascida em Lisboa em 1946, Ana Jotta frequentou a Faculdade de Belas Artes de Lisboa e a École d’Arts Visuels et d’Architecture de l’Abbaye de la Cambre, em Bruxelas, e prefere não se definir como autora, mas sim como “reveladora” da realidade.

   “Tudo o que existe já está feito. Nada é novidade. As coisas estão à frente dos nossos olhos“, declarou em entrevista, descrevendo-se como uma “intermediária” entre a realidade e o público, cujas reações tem muito interesse em conhecer.

   Em folha de sala da mesma galeria em exposição anterior, a artista já sublinhara a mesma ideia: “Um artista é um criado(r), não é um autor, uma autoridade. Eu revelo o que já existe, e que é bem visível, a natureza, o espírito; eu mostro o espírito, eu faço espírito. Evidentemente“.

   A artista gravou esta entrevista na divulgação da sua mostra :  http://youtu.be/aVZt-Az5ieU

 

 

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   No Domingo 31 de Março, entre outras exposições que encerram, está a mostra “No Fly Zone – Unlimited Mileage” patente no Museu Colecção Berardo, comissariada por Fernando Alvim, Simon Njami e Suzana Sousa.

   A exposição apresenta seis artistas angolanos Bynelde Hyrcam, Edson Chagas (quadro à dir.), Kiluanji Kia Henda, Nástio Mosquito, Paulo Kapela (quadro à esq.) e Yonamine que trabalham com instalação, fotografia e vídeo e pretende, a partir das suas obras, reflectir sobre espaços imaginários e de questionamento. Estes jovens artistas (todos nascidos após a independência do seu país) «… trabalham diferentes temas num universo tão global quanto africano, ao mesmo tempo que interrogam discursos sobre África. OIKONOMOS_EDSON-CHAGAS1-768x767

Entre si partilham um gesto de contestação destes discursos, mas também de estéticas, de realidades – um gesto subversivo no sentido em que corrompe a realidade que encontra, ao mesmo tempo que forja olhares e pontos de vista alternativos. Assiste-se ainda a um foco sobre o indivíduo e o seu papel de actor na história e na construção da memória, sendo que esta, em vários momentos, transita entre o coletivo e o individual…» − diz a folha de sala.Paulo-Kapela-klein

«… A proliferação de múltiplos centros e lugares de produção a que assistimos vem deslocar e questionar a própria ideia de localização da produção artística, que deixou de se situar especificamente numa cidade para também ela, como a vida contemporânea, se implicar nas deslocações do seu produtor, embora as temáticas das suas obras muitas vezes se refiram a particularidades da vida e da história de um lugar específico em qualquer parte do mundo. Penso que este aspeto caracteriza muita da produção angolana contemporânea, já que a maioria dos seus artistas vive entre o país de origem e outros, geralmente europeus, estabelecendo com isso uma troca de referências importante na redefinição dos próprios paradigmas artísticos. Uma atenção particular às tensões e jogos de poder entre culturas manifesta-se assim, tornando o panorama do princípio deste século mais complexificado e sobretudo menos dócil para as tradicionais perspetivas culturais, sejam elas vernáculas ou eruditas, colonizadas ou colonizadoras… (consta no catálogo da exposição, em texto de Pedro Lapa)».

 

 

   Por último, agora na área das conferências/debate, o Institut Français de Portugal organiza nesta Quinta-feira, 28 de Março, das 19-21h, mais um Bar das Ciências onde, numa conferência de entrada livre (em francês), o biólogo Bernard Jégou, director do INSERM (Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale) e do GERHM (Groupe d’étude de la reproduction chez l’homme et les mammifères), da Universidade de Rennes, tentará responder à pergunta “A fertilidade humana estará verdadeiramente em perigo?”Cartaz_fertilite_Web

   Desde os anos 70 que as preocupações face à degradação do ambiente e aos riscos que afectam a saúde humana assim como a biodiversidade atingiram um nível sem precedentes na história humana. Em termos de saúde, as estatísticas existentes suscitam a preocupação e o debate. Para citar alguns exemplos, todos os estudos evidenciam um aumento das alergias nas crianças, uma maior incidência dos diabetes do tipo II e um aumento nos próximos 25 anos do número de novos casos de alguns cancros, tanto nos homens como nas mulheres.

   A esta preocupação junta-se agora, e há mais ou menos 20 anos, a expressão de uma outra ameaça potencial  −  e se as actividades industriais humanas fossem susceptíveis de comprometer não só a saúde dos indivíduos mas também as suas capacidades reprodutivas, ou seja de perpetuar a espécie ?

   Esta questão alimenta um debate intenso, não só na comunidade cientifica como no grande público, nos media, no mundo industrial e nos decisores políticos.

   Nesta conferência Bernard Jégou apresentará a síntese mais actual dos conhecimentos sobre este assunto com o desejo de alimentar o debate e de poder ajudar na tomada de decisões colectivas pensando no desenvolvimento e na saúde pública.

 

 

 

 

(para as razões desta nova forma de Agenda ler aqui ; consultar a agenda de Terça aqui)

 

 

 

 

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