Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota
O assalto geral sobre as contas bancárias em Chipre: um precedente que poderá ser aplicado noutros países da zona euro – II
François Asselineau
UM TEXTO ENVIADO POR PHILIPPE MURER, MEMBRO DU BUREAU DU FORUM DÉMOCRATIQUE E
PRÉSIDENT DE L’ASSOCIATION MANIFESTE POUR UN DÉBAT SUR LE LIBRE ÉCHANGE
PUBLICADO A 17 MARÇO DE 2013
(continuação)
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3 °) Além disso, é instituída uma retenção na fonte sobre os juros obtidos do que resta dos depósitos bancários.
Os organizadores de toda esta operação consideram que devem assim obter 5,8 mil milhões de euros.
Refira-se que este roubo organizado sobre os depósitos de particulares é uma situação sem precedentes. Os ministros das Finanças da zona euro não tinham submetido a Grécia, a Irlanda, Portugal ou a Espanha a uma tal condição de verdadeiro saque .
Atmosfera muito cordial, em Bruxelas, em 14 de Março de 2013: os dirigentes europeístas de Chipre e os dirigentes da UE riem de bom grado pelo assalto geral que acabam de estabelecer sobre as contas bancárias dos particulares em Chipre.
Da esquerda para a direita: Nicos Anastasiades, Presidente da República de Chipre, Herman Van Rompuy, Presidente do Conselho Europeu e Michael Sarris, ministro das Finanças da República de Chipre. Todos estes senhores parecem estar a saborear a ideia do assalto organizado sobre os depositantes cipriotas. O ministro das Finanças de Chipre parece mesmo ter uma certa dificuldade em não rebentar de riso.
Como se vê, no dia seguinte, 15 de Março, no encontro entre a francesa Christine LAGARDE e o ministro cipriota das Finanças Michael SARRIS mostra-se que estes estão descontraídos e alegres.
Sem nenhum pudor, um e outro não escondem a sua alegria pela solução que eles congeminaram: socorrer os bancos e ‘salvar o euro’, servindo-se para isso directamente das contas bancárias dos particulares e temos de admitir, é mesmo de morrer a rir quando se pertence ao mundo silencioso da oligarquia financeira.
Refira-se que este barulho não tem, obviamente, nada a ver com Christine LAGARDE. Esta não faria a estupidez de abrir uma conta bancária em Chipre para aí colocar as economias substanciais que lhe permite o seu salário anual do Director-geral do FMI, e que ascenderam a €380.939 em 2011 (€31 745/mês) sem estarem sujeitos a impostos sobre os rendimentos (provavelmente cerca de 35.000 € / mês líquidos de imposto em 2013).
Os 4 objectivos deste autêntico saque sem precedentes
O saque sem precedentes organizado pela UE, pelo BCE e pelo FMI sobre o conjunto das contas bancárias de particulares abertas em Chipre obedece a três objectivos explícitos e provavelmente a um quarto objectivo implícito:
• 1 °) Socorrer em conjunto o Estado cipriota e os bancos cipriotas, à beira da falência.
Em vez da garantia estatal cipriota sobre os depósitos dos particulares, este mecanismo dá o equivalente dos prejuízos aos bancos que utilizarão este dinheiro para pagar aos seus credores (entre os quais estão bancos de Chipre e não cipriotas).
• 2 °) Limitar as perdas de bancos não-cipriotas que teriam emprestado a Chipre.
Evitando o colapso do Estado cipriota e dos bancos cipriotas, esta medida visa em segundo lugar limitar a perda dos bancos não-cipriotas que teriam emprestado a Chipre. Incluindo, é claro, eventuais bancos franceses.
• 3 °) “Salvar o euro”.
Se se saqueiam todos os indivíduos que têm depósitos em Chipre, é, em última análise, para que Chipre não seja considerado “em situação de incumprimento” e, finalmente, ainda e, de novo, mais uma vez e outra, para assim se poder “salvar o euro”. No entanto, lembro aqui que o euro não é, enfim, não é viável a longo prazo. Esta grandiosa extorsão de fundos sobre as poupanças dos depositantes cipriotas será, na melhor das hipóteses, um meio para poder prolongar a agonia… e para socorrer os bancos.
• 4 °) lançar um balão de ensaio para testar a aceitabilidade social de um tal roubo organizado
Este objectivo não está, obviamente, colocado em cima da mesa pelos funcionários europeístas. No entanto, há rumores nos corredores da Comissão Europeia e do BCE que o dispositivo testado agora em Chipre terá o valor de um teste. Um tabu foi assim quebrado, que é a protecção dos depositantes e dos aforradores. Os dirigentes do mundo político e bancário irão agora observar se o povo de Chipre vai ou não deixar que se realize este verdadeiro saque sem reagir. Isto é, ir-se-á ver se a sequência dos acontecimentos vai ser importante.
Uma operação de verdadeiro saque violentamente premeditado, baseada no calendário litúrgico ortodoxo
Como nos ensinam os filmes e os inquéritos feitos pela polícia, a organização de um qualquer grande assalto pelos mafiosos nunca é deixada ao acaso. Tudo está sempre meticulosamente planeado.
Também foi assim para esta operação de um verdadeiro saque: a sua organização e programação foram projectados de forma particularmente viciosa.