Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Resumo : Já se contam cinco anos de crise na Europa e, no entanto, as suas ruas estão basicamente a manterem-se calmas . O que é que explica isso? Quanto tempo é que a situação vai assim continuar
“No centro da crise, está o grande desafio de redefinir o contrato social para salvaguardar a sustentabilidade do modelo social europeu..”
— Speech by Benoit Coeure (Executive Board of the ECB), 2 March 2013
“Certo, Benoit. O problema é que os líderes europeus e as suas instituições parecem querer redefinir o contrato de forma que pelo menos metade dos cidadãos europeus esteja contra ou não confiam neles seja para o que que seja tido como necessário para ser feito. . Assim debaixo de uma crise de três frentes, a crise da dívida, a crise bancária e a crise da dívida soberana, temos um grande problema de confiança e de legitimidade que está a alimentar a agitação social .”
— George Magnus, Economic Advisor, UBS, 20 March 2013
A liberdade a guiar o povo , Eugène Delacroix (1830)
O quadro “A liberdade a guiar o povo” comemora a Revolução de Julho de 1830 num século de forte agitação social em França . Neste pretende-se mostrar o resultado de uma muito má utilização das forças de mudança.
Esquema:
- Porque é que a Europa está ainda estável ?
- O que é que vem a seguir ?
- Compare-se com o que acontece com a China
- Para mais informação
(1)
Porque é que a Europa ainda está estável?
A estabilidade na Europa desde a segunda recessão que começou em Março de 2010 tem surpreendido muitos observadores (por exemplo, eu). Três anos de condições fortemente recessivas nos países ditos periféricos ainda não produziram grandes e graves surtos de agitação social. As eleições têm produzido maiorias a favor da União Europeia e da austeridade que esta opção implica (veremos em breve se as eleições de Fevereiro em Itália diferem deste registo ).
O que é que gera essa estabilidade? Os normais suportes de apoio para este tipo de sistemas são a inércia humana e o facto das pessoas não gostarem de mudanças radicais. Daí o fracasso frequente das previsões publicitadas sobre as mudança de regime nas nações desenvolvidas. Essas explicações parecem ser adequadas, assim como também o medo na União Europeia de se cair numa guerra parece igualmente ser uma explicação adequada.
A história fornece uma resposta possível: a ausência de uma alternativa . Thomas Kuhn, na sua obra The Structure of Scientific Revolutions (1962) diz que os paradigmas científicos morrem, não quando eles são publicamente reprovados mas sim que os paradigmas morrem e são substituídos somente quando se tem uma alternativa superior. Acontece a mesma coisa com as revoluções (pacíficas ou não) que exigem uma nova política económica, uma nova ideologia política para substituir o modelo anterior ..
Sem alternativa, o stress acumulado irrompe na maioria das vezes através de formas fúteis, de manifestações e de agitação social que podem mesmo desembocar em motins. Estes são um lugar comum na história, tais como os protestos dos camponeses (Wikipedia) e motins por devido a razões raciais (Wikipedia). Estas movimentos podem por vezes dar origem a reformas menores, de detalhe, (embora, geralmente, não dêem origem a nenhuma mudança), se bem que seus os participantes raramente tenham uma visão objectiva de um melhor sistema realisticamente melhor. Embora reconhecido como defeituoso, outros sistemas foram considerados ainda ou menos atraentes ou até mesmo impraticáveis (por exemplo, plutocracia, na Holanda, cidade-estado na Suíça). Durante séculos isto tem servido para reforçar as monarquias europeias.
(2) O que vem a seguir na Europa actual ?
Um sonho a tornar-se amargo
Os povos da Europa permaneceram tranquilos durante cinco anos desde o começo da grande recessão que começou em 2008. Eles vão estar assim por mais cinco anos, com a perspectiva, no melhor dos cenários, de não terem nenhum crescimento? Sob a pressão dos acontecimentos, poderá o povo da Espanha, da Itália, de Grécia e de Portugal criar novos sistemas políticos e económicos?
A comparação habitual é com a situação vivida em 1930. Mas, naquela época, comunismo e fascismo eram ideologias bem desenvolvidas, bem estabelecidas, com fortes expressões organizacionais. A paisagem intelectual de hoje parece bastante estéril em termos de alternativas.
Os líderes europeus deram cabo dos seus lemes, atiraram-nos à agua. Eles continuarão a impor a austeridade na periferia até que a reforma das suas economias ou a agitação social eclodam. Sem nenhuma outra alternativa, os povos da Europa só podem continuar a ficar juntos e a sofrerem — ou a recuarem, e aparecerem de novo apenas como pequenas nações [isto é, saírem do euro] . Permanecer num imobilismo total ou protestar, trata-se de uma perspectiva bem sombria.
(3) Comparem com a China
Tal como a Europa (e talvez os Estados Unidos), a China tem feito crescer as suas estruturas económicas e políticas. Isto pode ser visto na lista das tensões sociais diz-nos Magnus quando descreve: os direitos sobre a terra (confiscados), destruição do meio ambiente e poluição, altos funcionários corruptos, muito pobres condições de trabalho e crescente desigualdade de rendimento.
Os novos líderes da China tomam posse este mês. Os relatórios dizem-nos que eles têm conhecimento destas realidades e que planeiam agir . Nós só podemos imaginar quanto mas apenas no que se refere ao ritmo que este serão capazes de impor para o conjunto das necessárias e urgentes reformas e também como à profundidade que estas reformas poderão atingir. Estas reformas poderão abrir um novo capítulo para a China com isso criar novos desafios. Tocqueville na sua obra O Antigo Regime e a Revolução (1856) descreve minuciosamente os resultados desestabilizadores das reformas sentidas como necessárias e bem intencionadas – assim como a dificuldade de as colocar em prática . Os líderes da China está a ter conhecimento de tudo isto e seria interessante saber o que pensam sobre isto. Os Czares dão-nos uma outra demonstração de reformas mal geridas assim como das suas consequências.
Todos os trajectos de evolução possíveis- não, as reformas rápidas ou lentas , conduzem a alguma turbulência na China .
(4) For More Information
(a) Studies and reports about social unrest (from Magnus’ report):
- “Demographics: the Ratio of Revolution“, David Munro and Claudia Zeisberger, INSEAD, March 2011
- “The Austerity Trap: A Century of Unrest and Budget Cuts“, Hans-Joachim Voth, Institute for New Economic Thinking, 12-15 April 2012
- “Social Unrest“, Aleksandar S. Jovanovic, Ortwin Renn, and Regina Schröter, OECD, 10 August 2012
(b) Posts about Europe:
- The periphery of Europe – a flashpoint to the global economy, 8 February 2010
- Delusions about easy fixes for Europe, dreaming during the calm before the storm, 30 September 2011
- Is Europe primed for chaos, as it was in July 1914?, 7 October 2011
- Status report on Europe’s slow re-birth (first, the current system must die), 10 November 2011
- Looking ahead to see the new shape of Europe, 22 November 2011
- Europe passes the last exit. A great crisis lies ahead., 21 February 2012
- The Fate of Europe has become visible. Only how and when the break comes remains uncertain., 6 June 2012
- Europe has a political crisis. The economics are just symptoms., 11 July 2012
- The hidden goal of Europe’s leaders. See it and then their actions make sense., 27 July 2012
- Spain’s’ only three options for recovery, 17 November 2012
Reblogged this on Das Culturas.