RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Bruxelas concede o favor de  dar mais dois anos a Paris – A França de joelhos face aos favores da Alemanha.

Do Blogue Gaulliste Libre, de Laurent Pinsolle

Texto disponibilizado por Philippe Murer, Membre du bureau du Forum Démocratique,

Président de l’association Manifeste pour un Débat sur le libre échange

Gaulliste libre - I

Alguns dias atrás, a Comissão Europeia anunciou que ela dava mais  dois anos à  França para alcançar o objectivo de 3% de défice público. Se o governo acolheu rapidamente e com satisfação  o que ele vê como uma vitória da sua linha, esta apresentação dos factos é bastante abusiva.

A vitória do princípio da realidade

Pierre Moscovici,  a roçar a desonestidade intelectual, não se tem poupado em esforços para embelezar esta decisão: “isto é crucial, é um ponto de viragem na história da construção  da  integração europeia, desde que o euro existe (…)”. Estamos a testemunhar   o fim de alguma forma de ortodoxia financeira e ao fim do dogma da austeridade (…) Esta é uma vitória para teses francesas (obtidas), porque nós temos uma política credível. Nada mais do que isso! Passar-se-á da  credibilidade da sua política após a revisão à alta  do défice para 2012 e 2013 e à admissão que visar  2,9% em 2014   era verdadeiramente  irrealista.

Em primeiro lugar, refira-se que o tempo adicional dado à  França vem depois de vários prazos dados a outros países, como a Espanha. Então, pode-se pensar que a Comissão Europeia, cansada  de ver as previsões sobre  a  redução do défice não respeitadas  na França, na Espanha, em  Portugal, na Grécia ou na Itália, apenas  foi obrigada a aceitar e a registar o facto de que os  calendários dessa redução dos défices eram todos totalmente irrealistas  e, portanto,  seria  preferível deixar um pouco de lastro para recuperar a credibilidade  mas também tentar melhorar a sua imagem, a ficar cada vez pior em toda a Europa.

Um estrangulamento lento

Na verdade,  visar alcançar o objectivo de um défice de 2,9% em 2014  era  muito arriscado para a França. Isto representava  uma diminuição de 1,9% relativamente  a  2012. Isso pode não parecer tão difícil. Mas devido à  revisão à alta do  multiplicador  orçamental (o impacto da queda dos défices do PIB), os cortes necessários para obter um  tal valor  são muito mais importantes. Tomando como base  um coeficiente de 1, um valor na parte mais baixa  do novo estudo IMF, isso pressupõe que o esforço necessário  é o  dobro, ou seja,  é de 3,8% do PIB em cortes  nas despesas  ou nas altas de impostos para reduzir os  défices  , devido a diminuição do PIB.

De qualquer forma, isso significa que se a França  visa alcançar  um défice de 2,9% em 2015, ela terá que fazer um ajustamento orçamental  equivalente a 3,8% do PIB, o que vai deixar os PIB em 3,8 pontos abaixo do  que teria sido sem este plano. Ao contrário do que disse Pierre Moscovici, a austeridade não acabou . Ele vai ser apenas mais espalhada no tempo . Assim, não há nenhuma  possibilidade  de  que o desemprego  venha a descer  antes de 2015… E isto é pois   uma boa maneira de manter a pressão  sobre o mercado de trabalho  e  para  avançar para as ‘políticas estruturais’, o nome politicamente correcto do programa europeu de regressão  social.

Da Europa e da nossa soberania

Diga-se, de maneira bastante surpreendente, a maioria dos meios de comunicação  não se comoveram  com o facto de   a Comissão fixar hoje  os  objectivos para a redução dos défices no  nosso país. Como é que eles não compreendem   que o facto de não serem tecnocratas não eleitos que ditam  aos eleitos e aos governos  o  seu roteiro quanto à evolução pretendida dos défices  é em si-mesmo uma monstruosidade democrática? É claro, foi decidido em vários regulamentos e tratados europeus (TSCG, six pack, two pack), mas basicamente, esta forma de procedimento   demonstra que esta Europa é profundamente anti-democrática.

No entanto, afigura-se que a Comissão também joga aqui a sua sobrevivência, empurrando para mais tarde o alcançar dos seus  objectivos. Na verdade,  as políticas mais duras  poderiam  ainda precipitar mais rapidamente  o fim do euro e da UE na sua forma actual. Pode-se ver, portanto, um instinto de sobrevivência dos eurocratas. No entanto, este anúncio não  existe sem deixar de colocar grandes problemas  na Alemanha, onde tem provocado uma enxurrada de  comentários    muito negativos vindos da  maioria CDU-CSU-FDP, como relata   o Le Monde. Em suma, esta decisão também aumenta as tensões existentes entre os povos da Europa, fragilizando ainda mais  a EU.

O prazo dado para a França não é  em si-mesmo uma má notícia no sentido em que a  austeridade que vai ser realizada será menos violenta, mas continuará a ser muito  forte  (com um ajustamento anual de 1,3 pontos do PIB a partir de 2012 a 2015) e continuará também a ser muito dolorosa. E tudo  isto  marca de uma  forma bem concreta  a nossa  perda de soberania   orçamental.

Um grande obrigado a  Rodho pelo seu desenho. Pode vê-lo na sua página  Facebook.

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