REFLEXÕES SOBRE A MORTE DA ZONA EURO, SOBRE OS CAMINHOS SEGUIDOS NA EUROPA A CAMINHO DOS ANOS 1930

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

Grécia, Irlanda, Portugal, Itália, bancos: a caminho do grande incumprimento?

Laurent Pinsolle – Blog gaulliste libre

 http://www.gaullistelibre.com/2013/05/grece-irlande-portugal-italie-banques.html

Texto disponibilizado por Philippe Murer, Membre du bureau du Forum Démocratique
Président de l’association Manifeste pour un Débat sur le libre échange

 

Conforme o mostra a crise que estamos a viver desde há quase cinco anos, a zona euro está profundamente disfuncional. Isto levará mais cedo ou mais tarde ao desmantelamento da moeda única. E há forte a apostar que o factor que fará disparar de gatilho será o incumprimento desordenado de um Estado ou de  um banco.

Gaulliste libre - II

O castelo de cartas aumenta

Desde há mais de cinco anos com Bear Sterns e há mais de três anos com a Grécia, os estados concebem  planos de resgate para salvar bancos ou outros estados. A Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a Irlanda foram obrigados a nacionalizar as suas principais instituições financeiras para evitar o seu colapso, mesmo com  isso a representar um preço muito alto para a colectividade . Mas, ao fazê-lo, as dívidas do passado não desapareceram. Elas apenas mudaram de mãos e aumentaram descontroladamente os  passivos desses estados…

Se a situação dos Estados Unidos e a da Grã-Bretanha é relativamente controlável  , devido a valor relativamente baixo da dívida pública em torno de 90% do PIB e especialmente devido à a monetarização de parte substancial da dívida pública pelos respectivos bancos centrais, a situação é completamente diferente  para a Irlanda. Aqui  está  um país que tinha uma dívida pública de menos de 40% do PIB em 2007 e que hoje chega aos  120%! Certamente, o país beneficiou de uma assistência discreta, mas importante do BCE (que  monetarizou  quase 20% da sua  dívida , mas pode ser tudo menos ser evidente que Dublin poderá pagar  a  sua dívida nas condições actuais.)

A situação também é muito perturbadora  em  Portugal, que apresenta  uma dívida pública superior a 100% do PIB, ou na Itália (130% do PIB em dívida pública). Além disso, os novos mecanismos europeus apenas acrescentam dívida à dívida , conforme o relata um trabalho do  BFM, que nos lembra  que o governo de França  já está envolvido  em 69 mil milhões… Todo o  problema na  zona  euro está em que  a EU não dispõe da válvula de escape que é a  monetarização pelo Banco Central que lhe permitiria  reduzir a carga dos Estados.

Evitar um incumprimento desordenado

Na verdade, nós vivemos desde há 5 anos num verdadeiro sistema de  Ponzi, em português dir-se-ia um esquema tipo Dona Branca  em que as dívidas são pagas com mais dívidas e de forma crescente, o  que  acabará por  explodir. Porque a adição da recessão e dos défices  torna a situação insustentável. A recessão (e a  muito baixa taxa de  inflação) não permitem que o peso relativo da dívida  venha a ser reduzido pelo crescimento,  ao mesmo tempo que se está a   complicar   a redução dos défices. E os esforços de redução dos défices acentuam a recessão, melhorando apenas marginalmente o nível dos défices, como até mesmo o FMI admite. E enquanto isso, o peso da dívida aumenta, sem recurso possível ao BCE , ao nível da zona  euro.

Mas uma vez que os políticos e os eurocratas não estão dispostos a reconhecer os seus erros, eles continuam a tentar fazer com que o sistema funcione desta forma transferindo as dívidas de uns países sobre os outros , daí os múltiplos  ‘planos de resgate’  aos estados  (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Chipre) e aos bancos (Dexia França, Irlanda, Itália, Espanha). É claro, de  tempos a tempos , o princípio da realidade exige uma reestruturação, tal como já aconteceu duas vezes na Grécia, mas também significa que se está a deslocar o foco do incêndio como  vimos com os bancos gregos e com os de Chipre.

A recessão produziu uma explosão de incumprimentos conforme se relata no Jornal Les Echos   sobre bancos italianos, ou como The Economist observou sobre os bancos espanhóis. Seja, todo o sistema ainda se mantém graças às baixas taxas de juro , à  acção dos bancos centrais e ao afluxo de liquidez, o que facilita o financiamento dessas montanhas de dívidas, mas tudo isso só se mantém  graças a uma confiança de que tem visto desde 2008 que é muito precária.

A questão não é agora de  se saber se haverá mais incumprimentos  mas sim quando e quem será então o próximo, quem e quando será afectado.  O menor grão de areia pode desencadear uma nova crise ainda mais violenta do que a rebentou em 2008. As más escolhas ao nível monetário (moeda única, monetarização somente ao serviço de bancos) e a austeridade é a isso que nos levam.

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