POESIA AO AMANHECER – 238 – por Manuel Simões

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NATÁLIA CORREIA

( 1923 – 1993 )

A DEFESA DO POETA

Senhores jurados sou um poeta

um multipétalo uivo um defeito

e ando com uma camisa de vento

ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis

de armazenado espanto e por fim

com a paciência dos versos

espero viver dentro de mim

Sou um código o azul de todos

(curtido couro de cicatrizes)

uma avaria cantante

na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade

o vosso enfarte serei

não há cidade sem o parque

do sono que vos roubei

(…)

Senhores juízes que não molhais

a pena na tinta da natureza

não apedrejeis meu pássaro

sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta

de um verso onde o possa escrever

ó subalimentados do sonho!

a poesia é para comer.

(de “Mátria”)

Organizadora da “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica” (1965) e da antologia “O Surrealismo na Poesia Portuguesa” (1973). Da sua vasta produção poética destacam-se os livros: “Rio de Nuvens” (1947), “Dimensão encontrada” (1957), “Cântico do país emerso” (1961), “O Vinho e a Lira” (1967), “Mátria” (1969), “As Maçãs de Orestes” (1970), “Poetas a rebate” (1975), “O Armistício” (1985).

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