RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

mapa de portugal - imagesCAJ7RL13

Porque é que a crise política em Portugal inquieta os mercados

Mathieu de Taillac, Le Figaro, 3 de Julho de 2013

Portugal Financial Crisis

A crise política em Lisboa revela o fim do consenso a favor da austeridade exigido pelo FMI e a UE. Poderá levar a eleições antecipadas.

Uma inesperada crise política em Portugal, desencadeada por demissões governamentais em cascata, voltou a agitar os temores dos investidores sobre a estabilidade da zona euro. As taxas das obrigações portuguesas a  10 anos subiram acima dos  8%, o valor mais alto desde Novembro de 2012. Rendimentos de títulos são esticados na Grécia, Itália, Espanha. A bolsa de valores de Lisboa caiu 5.31%, fazendo com que todas as bolsas europeias ficassem no vermelho. Mas no final do dia, o contágio parecia contido. O índice europeu Euro Stoxx 50 estava em baixa, mas somente de  1,2%.

Os investidores estão preocupados com a continuação do plano de resgate de Portugal, país em recessão, onde a economia continua a estar muito frágil. A crise política revela o fim do consenso a favor da austeridade imposta pelos credores em troca de 78 mil milhões de euros de ajuda financeira. Esta crise abre o caminho para uma possível demissão do governo e para eleições antecipadas. A única base de referência que leva a que o contágio não se tenha desencadeado, de acordo com alguns analistas: Portugal não precisa de se refinanciar nos mercados antes do primeiro trimestre de 2014.

Desde o anúncio da renúncia “irrevogável” do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, o destino do governo de Passos Coelho é incerto. O Ministro dos Negócios Estrangeiros detém a chave para a estabilidade do governo. Líder do centro social-democrata conservador (CDS), este dava até agora os membros que faltavam para a existência  de uma maioria parlamentar do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Se, na sequência de Portas, os ministros e os deputados conservadores retirarem a sua  confiança ao governo, Passos Coelho poderia ser forçado a apresentar o seu pedido de demissão.

Vitória dos socialistas

O chefe da  diplomacia portuguesa,  justifica-o  pela  decisão da  nomeação como ministro das Finanças da  Secretário de Estado  do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, em substituição do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, também ele demissionário. Este economista independente tinha chegado a conseguir a reabertura aos mercados à custa de uma vaga de austeridade sem  precedentes . Gaspar era visto como o homem de confiança da Troika (Comissão Europeia, BCE e FMI), que supervisiona a assistência financeira na ordem de 78 mil milhões desbloqueada  em 2011. Ele era muito impopular. Paulo Portas considera que a escolha de Maria Luís Albuquerque para  suceder  a Vítor Gaspar  é uma oportunidade perdida para abrandar o garrote da austeridade ,  que ele considera muito excessivo.

Resta saber se a ruptura da coligação  governamental  irá resultar num  retirar  de apoio dos deputados CDS na Assembleia da República. De acordo com o semanário Expresso a demissão de Portas é uma decisão pessoal que provocou surpresa e consternação nas suas hostes. O chefe do CDS explicar-se-á numa  reunião prevista para este fim de semana, enquanto as sondagens  são desfavoráveis para o partido.

Se, pelo contrário, o Parlamento for dissolvido e forem então convocadas eleições, as sondagens prevêem uma maioria para o Partido Socialista (PS), actualmente na oposição. Uma vitória socialista poderia resultar numa mudança de ritmo na redução dos défices e de  integração de medidas de estímulo à economia . A linha de  rigor deve, no entanto, ser mantida.

Leave a Reply