CARTA A ANTÓNIO JOSÉ SEGURO, OU OS SWAPS QUE NOS GOVERNAM. Por JÚLIO MARQUES MOTA

Hoje dedicamos grande parte do espaço disponível a falar de swaps.

Logo que possível faremos uma peça em profundidade, espero, sobre  este tema, mas por agora deixo-vos com uma carta enviada ao camarada José António seguro e por respeito igualmente ao líder parlamentar do PS.

Nunca soube se receberam ou não esta carta agora que dela dou conhecimento público, se a receberam e a consideram sem significado, o que é francamente possível, ou então uma outra hipótese qualquer.

Falamos de CDS, falamos de um tema  que é transversal a toda a Europa. Mario Draghi, o super Mario, como Ballotelli, é agora apontado a dedo e não pelas mesmas razões que o jogador de futebol o é, pois Draghi é apontado a dedo porque os swaps durante o seu reinado começam a mostrar os seus estragos. E estes são de muitos milhares de milhões em risco para os contribuintes italianos poderem pagar e Draghi, que é o homem mais poderoso da Europa actualmente, é o homem sob o nariz de quem eles foram feitos! Tal como Constâncio em Portugal, tal como Jean-Pierre Jouyet, residente da Autoridade dos mercados financeiros, em França, os nossos reguladores ganharam uma especialidade que é a de ganhar milhões, mas andarem de olhos vendados.

De Itália também falaremos logo que possível porque afinal é esta Europa a apodrecer por obra destes senhores que é necessário salvar da incompetência e da malvadez ou até da ignorância dos mesmos. Trata-se de uma Europa  balizada nos seus tratados, que por eles foram ardilosamente montados e de tal modo que nos permitem fazer o check-out da União Europeia e da Zona euro, sem que dela possa de seguida sair, como na canção Hotel Califórnia dos Eagles, trata-se de uma Europa que é necessário libertar pela força da democracia agora tão fortemente em perigo.

Gostava de saber o destino da carta enviada ao secretário-Geral do PS, pelo que pedirei esta tarde a um amigo meu do blog, um tal Sérgio Madeira, que com as ferramentas intelectuais de que dispõe, possa então indagar sobre o tema.

E a carta aqui está.

 ***

Coimbra, 17 de Junho de 2013

Camarada António José Seguro

Em tempos via site do PS escrevi-lhe um email relativamente à participação do PS na Comissão de Inquérito sobre os contratos de swaps.

Não tive nenhum sinal de que o texto lhe mereceu alguma atenção, independentemente de estar de acordo ou não com o seu conteúdo e a isso nem eu estou habituado nem creio que seja a sua forma de actuar em política. Podemos discordar em muitas questões, como cidadãos, mas numa coisa é certa: tenho-o  em muito alta consideração do ponto da seriedade e do respeito para com os outros. Portanto essa ausência de sinal não é concordante com a visão que tenho do seu comportamento em política. Porque assim penso, decidi reenviar um outro texto sobre o mesmo tema, em que procuro, de memória, ser fiel ao texto anterior, mas agora directamente pelo correio e em carta registada.

Os swaps, instrumentos financeiros que em aparência deveriam ser instrumentos simples,  tornaram-se, por conveniência de banqueiros e especuladores , instrumentos altamente complexos e instrumentos terríveis de espoliação e de corrupção, também.

O que na altura sugeri era que o PS contactasse Claude Bartolone, actual Presidente da Assembleia da República de França, a solicitar-lhe o seu  apoio para a vossa tarefa nada fácil, acrescente-se. A razão desta sugestão é simples: grande parte das câmaras francesas estão tecnicamente em risco de falência, por causa dos…swaps. Ora o homem que mais batalhou para libertar as câmaras destes contratos assassinos foi exactamente Bartolone e os seus colaboradores. Poder-lhes-iam pedir ajuda para o PS lidar com o processo em Portugal. De resto, em tempos fiz uma peça para um blog colectivo A viagem dos argonautas  sobre este tema e nessa sequência contactei mesmo um assessor de Bartolone quando este estava à frente de um Departamento no Norte de França que me enviou uma série de textos oficiais, inclusive do Tribunal de Contas, textos espectaculares, que vos poderiam ajudar nesse trabalho de desmontagem dos swaps em Portugal.

Aliás, basta levantar uma pergunta muito simples: não haverá organizações internacionais directa ou indirectamente ligadas ao BEI e ao Banco Mundial que tenham proposto taxas de juro fixas e que os ditos gestores tenham recusado para aceitar empréstimos a taxas variáveis para depois irem aos bancos privados obter os swaps e transformar a taxa variável em taxa fixa? Se é verdade, qual a razão? Se não é verdade, porque é que não pediram a versão de empréstimo a taxa fixa a estas mesmas organizações.

Por último ponto nesse email, referia-me a uma prática americana e agora também francesa, ao que sei, que é a dos deputados poderem convidar especialistas, nacionais e ou mesmo estrangeiros, a audições públicas e a ajudarem também os deputados nas elaborações respectivos dos relatórios. E nesta óptica sugeria então um nome, Nicholas Dunbar, autor de The Devils Derivatives. Hoje tomo a liberdade de sugerir mais três:

  1. François Morin, antigo conselheiro de Leonel Jospin,
  2. Sajayt Das, autor de Traders, Guns and Money: Knowns and unknowns in the dazzling world of derivatives.
  3. Frank Partenoy, Infectious Greed: How Deceit and Risk Corrupted the Financial Markets.

Sem outro, apresento as minhas mais cordiais saudações.

Júlio Marques Mota

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