RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota e de Luís Peres Lopes

A Economia Irlandesa volta a cair em recessão

Eric Albert, LE MONDE, 28.06.2013

Irlanda - IVLondres, correspondente

A economia irlandesa caiu em recessão no início de 2013, de acordo com as estatísticas oficiais publicadas na quinta-feira, 27 de Junho, levantando um conjunto de questões sobre a capacidade do país para sair do plano de resgate no final do ano. O Instituto central de estatísticas comunicou que se verificou uma diminuição de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. Foi a terceira queda, depois de ‑0,1% no quarto trimestre de 2012 (um valor que foi agora revisto à baixa) e de ‑1,2% no terceiro trimestre de 2012.

Esta recaída, após dezoito meses de crescimento em 2011 e 2012, resulta principalmente de um contágio do resto da Europa. As exportações recuam mais do que o que se esperava, um ponto crítico para a Irlanda, que tem uma economia muito aberta, servindo de base para o resto do velho continente e a muitas multinacionais. O fenómeno é agravado pelo termo de validade de várias importantes patentes farmacêuticas, um dos principais sectores do país.

Face ao abrandamento dos seus parceiros, a Irlanda não tem uma economia interna suficientemente sólida para se assumir como substituição da baixa de exportações. Após cinco anos de austeridade, os irlandeses não têm encontrado o caminho do consumo. Há porém alguns sinais positivos: o desemprego está em baixa, passando de 15,1% para 13,7%. Os preços dos imóveis, depois de caírem para metade, começaram a aumentar nas grandes cidades. Mas trata-se mais de sinais de estabilização que de sinais de crescimento. “Na melhor das hipóteses, teremos um ano com um crescimento zero”, afirma Alan McQuaid, economista na Merrion Capital.

INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA

Nestas condições, quais são as hipóteses da Irlanda poder sair do seu plano de resgate? Assinado com o FMI e a Comissão Europeia no final de 2010, e incidindo sobre 67,5 mil milhões de euros, este plano tem como data de vencimento, o final de 2013. O Governo irlandês diz que não será necessário renovar e que a Irlanda pode novamente voltar a financiar-se nos mercados.

A sua taxa de juro nas obrigações caiu de 14% para cerca de 4%, o que parece dar-lhe razão. O país emite regularmente obrigações, para testar o mercado. Em Março, ainda tentou financiar-se a títulos de dez anos, a referência no campo das obrigações. Com sucesso: foram amplamente subscritas e em 82% por investidores estrangeiros. Resultado, o Estado irlandês conseguiu financiar-se até Março de 2015. Se bem que a economia continua hesitante, a Irlanda deve poder-se permitir alcançar e retomar a sua independência financeira. “Os novos dados económicos não alteram nada e uma saída do plano é provável,” confirma o senhor McQuaid.

No entanto, mesmo nesse cenário positivo, a Irlanda não terá ainda virado a página. Dublin está a preparar um plano de ajuda condicional’ ‘, uma espécie de garantia para usar após a saída do plano de resgate. Especificamente, o FMI e a União Europeia iriam abrir uma linha de crédito, que a Irlanda poderia utilizar quando necessário. O seu montante poderia ser de 15 mil milhões de euros, ou seja, um ano de financiamento do Estado. Essa ajuda não é gratuita: em troca, a Irlanda se empenharia a continuar com as reformas e a disciplina orçamental actual. “A questão, então, é política: como fazer para que as condições não se assemelhem a um segundo plano de ajuda?”, disse uma autoridade irlandesa.

Eric Albert, L’économie irlandaise retombe en récession, LE MONDE, 28.06.2013

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