Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Porque razão a Irlanda não pode ser um modelo para a Europa
Um texto enviado por Philippe Murer, Membre du bureau du Forum Démocratique e Président de l’association Manifeste pour un Débat sur le libre échange
Romaric Godin, La Tribune| 14/10/2013 1
540 palavras
A Irlanda saí do plano de ajuda da União Europeia. O resgate de uma estratégia que foi adaptada às especificidades do país, mas que não foi até agora verdadeiramente uma estratégia totalmente de sucesso .
A Irlanda, portanto, será capaz de poder dispensar a ajuda dos seus parceiros europeus e do FMI. O primeiro-ministro Enda Kenny anunciou-o oficialmente no domingo durante o Congresso do seu partido, o Fine Gael.
Mas esta boa notícia não deve esconder o ainda longo caminho que a ilha verde deve prosseguir antes de sair totalmente da crise. Como o próprio ministro das Finanças Michael Noonan resumiu: “isto não é suficiente para sair do plano de ajuda, nós precisamos de sair e de ficar fora.”
Vai ser a tarefa mais difícil e o orçamento de 2014, que, segundo o próprio Enda Kenny, será “muito duro” e que será apresentado na terça-feira, será disso uma prova. O fim do “resgate” não é o fim do sofrimento dos irlandeses.
Um país produtivo e exportador
Lembremo-nos primeiro que tudo das especificidades do caso irlandês, que lhe permitiram tornar-se um exemplo para os adeptos da estratégia europeia. Primeiro, a Irlanda, ao contrário de Portugal ou a Grécia, era já antes da crise um país exportador.
Em 2008, as exportações de bens e serviços irlandeses eram três vezes superiores da Grécia ou de Portugal, contudo, duas vezes mais populosos. Acima de tudo, na mesma data, a produtividade na Irlanda estava entre as mais altas na zona euro.
Em uma hora de trabalho, um empregado irlandês produzido em 2008, 45 euros de bens ou serviços, foi a quarta mais produtivas na Europa. Em comparação, um grego foi produzido em um mesmo tempo 22,2 e um Português 16 euros. Em outras palavras, a Irlanda tinha ativos um pouco antes da crise do que a Portugal ou a Grécia não.
Não há crescimento “à bomba”
Seguramente, o país sofreu desde o início da década de 2000, de uma perda de competitividade. O crescimento das exportações, tinha sido apenas de 28,1 por cento entre 2003 e 2008, em comparação com 46% para a média da zona euro. A sua produtividade estava em desaceleração. .
A Irlanda reequilibrava o seu crescimento para o consumo e a construção. Agora passou a apoiar o seu crescimento no sector financeiro ultra dimensionado pelos anos de forte crescimento da economia.
Entre 2000 e 2007, a Irlanda teve durante seis anos uma taxa de crescimento superior a 5%. Mas, em contraste com a Grécia ou Portugal, este crescimento não foi obtido ” à bomba” pelo acréscimo na despesa pública.
Entre 1997 e 2007, Dublin tem apenas um único ano com défice orçamental (um pequeno valor de 0,4% do PIB em 2002). E, por vezes, como em 2006, alcançou mesmo situações de excedentes consideráveis (2,9% do PIB nesse ano).
Durante este mesmo período, a Grécia e Portugal tiveram sempre défices e sempre para além dos 3% do PIB. Além disso, o excedente irlandês sempre foi superior a 9% do PIB.
A Irlanda não é a Grécia
A diferença é considerável. De um lado, nos países do Sul, o potencial de crescimento das exportações é baixo. Habituados a actuarem com uma moeda fraca para apoiar as exportações, a Grécia e Portugal, uma vez na zona euro, tiveram que encontrar um mecanismo de substituição para apoiar o seu crescimento. Este sria então a despesa pública e o consumo das famílias pelo aumento dos salários. Portanto, um défice crónico e uma significativa perda de competitividade externa.
A Irlanda não foi sujeita nunca a um tal fenómeno. A libra irlandesa era, antes doy seu desaparecimento, uma moeda forte. Apesar do reequilíbrio da economia no início da década de 2000, a quota das exportações manteve-se importante no PIB. E acima de tudo, o desenvolvimento da procura interna assentava no sector privado.
O fardo bancário
Se a Irlanda teve que procurar a ajuda europeia, é porque o seu sector bancário não resistiu à crise. Hipertrofiado face à dimensão do país é o resgate pelo Estado irlandês que faz explodir o défice público até 31% do PIB em 2010! Neste momento, é claro, conceder empréstimos à Irlanda tornou-se tão impossível como emprestar à Grécia ou a Portugal. Mas se o resultado foi o mesmo, as causas eram diferentes.
E se abstraíssemos deste elemento excepcional, a Irlanda manter-se-ia uma economia muito mais aberta, muito menos estatizada e muito mais dinâmica do que as economias gregas e Português.