RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

mapa da ireland

Porque razão a Irlanda não pode ser um modelo para a Europa

Um texto enviado por Philippe Murer, Membre du bureau du Forum Démocratique e Président de l’association Manifeste pour un Débat sur le libre échange

 

Romaric GodinLa Tribune| 14/10/2013  1

540 palavras
(conclusão)

A receita Europeia necessariamente eficaz a curto prazo

Se o aplicado para a Grécia ou a receita de Portugal eram questionáveis, porque vai ser muito difícil mudar a base do modelo econômico destes países nas exportações, enquanto sua capacidade industrial e a produtividade são baixas, eles foram muito bem na Irlanda.

Por recuperar, com medidas rigorosas de compressão dos salários e das despesas públicas, competitividade de exportadores irlandês, eles rapidamente vão recuperar a parte de mercado perdida entre 2003 e 2008 e  ganhar ainda mais.

A receita Europeia necessariamente eficaz a curto prazo

Se as receitas aplicadas à Grécia  ou a Portugal eram questionáveis, porque será  muito difícil para basear o modelo económico destes países nas exportações, enquanto a sua capacidade industrial e a sua produtividade são baixas, estas poderiam funcionar bem  sobretudo na  Irlanda.

Fazendo com que ganhassem competitividade através de medidas severas  de compressão dos salários e das despesas públicas, no sector de exportação da Irlanda, neste sector  rapidamente se recuperou  as partes de mercado perdidas entre 2003 e 2008 e ainda mais, melhorar ainda a sua posição em termos de mercados externos.

Tendo em conta a parte das exportações da economia irlandesa (90% em 2009, em comparação com 24% para a Grécia e 32% para o Portugal), estas medidas rapidamente iriam  produzir os seus efeitos. As exportações cresceram rapidamente (cerca de 6% ao ano desde 2010), enquanto a compressão da procura interna reduzia as importações.

Resultado: o excedente comercial atingiu 24,2% do PIB em 2012 e espera-se que venha a ficar acima dos  25% em 2013. Isto pode representar para os mercados a ideia de que a Irlanda é um país fiável e assim  tranquilizar os mercados sobre as capacidades de financiamento do país…

A  generosidade do BCE

No caso da Irlanda, a “austeridade” só podia  funcionar no curto prazo. É por esta razão que  fazer dela um exemplo ou um modelo para o resto da Europa não tem nenhum significado.

Tanto mais que  a Irlanda  recebeu um tratamento extremamente generoso do BCE. Em 2010, o país tinha emitido uma “promessa de dívida” (nota promissória) de EUR 30  mil milhões sobre o BCE para nacionalizar os seus bancos. A instituição de Frankfurt tinha então imposto condições bastante difíceis para que se pudesse fazer o respectivo reembolso: o pagamento deveria ser feito no prazo de  10 anos.

Dublin fez pressão em  fevereiro passado para reduzir este fardo, ameaçando  entrar em incumprimento sobre esta dívida devida ao BCE. Assustado, o Banco Central aceitou  as condições da Irlanda e trocou a sua ” promissory note  ” contra uma obrigação com uma maturidade de  40 anos e reduzindo o peso do reembolso no orçamento irlandês em cerca de mil milhões de euros, ou seja, de um pouco menos de 10% do défice previsto em 2013.

Sem dúvida, a perspectiva de ver o “bom aluno” das políticas de austeridade entrar em incumprimento  terá levado o BCE a actuar com esta  generosidade.

Um défice e uma dívida ainda elevada.

O Estado irlandês pode, portanto, esperar regressar definitiva e permanentemente aos  mercados. E pode mesmo dispensar um novo plano de ajuda de 10 mil milhões de euros, que era, de resto evocada por  Michael Noonan há um mês. Mas o país em por isso está livre de dificuldades, pelo menos  até agora.

Primeiro, Dublin não pode parar com a sua política de austeridade. Na verdade deve ser mesmo bem cuidadoso, porque os mercados, embora se tenham tornado novamente compradores, são ainda desconfiados de um país que esteve  à beira do fracasso, e que ainda tem um défice de 7,3% do PIB e uma dívida pública de 123.3% do PIB.

Ao contrário da Grécia ou de Portugal, a Irlanda não terá nenhum excedente  primário este ano. Mas ela vai ter, ao contrário, que os conseguir alcançar e por muito tempo  para conseguir reduzir a sua dívida . .

Tanto mais que tem  de pagar os 85 mil milhões de euros desde 2010 obtidos por empréstimo da UE e do FMI, e isto ainda vai custar muito sofrimento. Será preciso  ainda, forçar a lógica da desvalorização interna, reduzir as despesas e, pelo menos, estabilizar os salários para manter a competitividade.

Condenada à austeridade, aguentar-se-á então a  Irlanda?

O problema é que esta política deve manter o desemprego em alta. O próprio governo não pensa  diminuir o desemprego abaixo de 12% em 2016 (contra 14% em 2013).

O consumo continuará a ser, na época, sem dúvida, baixa. A economia irlandesa que tinha começado a sua trajectória para o equilíbrio desde o início da década de 2000 está  agora exclusivamente dependente das  suas exportações. O cúmulo para uma política de austeridade, que se apresenta  como uma política de “reequilíbrio”.

No caso de uma desaceleração da procura global, a Irlanda vai arriscar permanentemente a derrapagem. Ou acelerar  ainda a redução das despesas. Vão ser necessários anos para se restabelecer um equilíbrio viável entre a procura interna  e a competitividade. Para poder encontrar esse compromisso, a Irlanda terá provavelmente de  forçar  menos os custos do que a inovação.

No entanto, no seu estudo publicado em Setembro, a OCDE apelava a  Dublin para reequilibrar a sua economia e para  investir mais na inovação das suas PME. Em vão, o comboio  irlandês pode dificilmente ser parado.

Mas no primeiro semestre de 2013, em que, devido a uma redução  na procura  global, a economia irlandesa entrou novamente entrou em recessão, o que deveria inquietar os responsáveis políticos  do novo “tigre celta”.

Sem mencionar que será também necessário enfrentar um  descontentamento  crescente de uma população que eventualmente vai reivindicar a compensação dos seus esforços. Para já,  a última sondagem  mostra que quase um quarto dos irlandeses estaria disposto a votar pelo muito à esquerda e muito nacionalista Sinn Fein. O Labour,  actual parceiro de coligação com  Fine Gael, cairia para o seu mínimo histórico: 6%!

Por fim, a Irlanda, a mais longo prazo, vai  ter que encontrar  uma forma de  financiar o seu sistema de pensões uma vez que os  fundos previstos para esta finalidade foram esvaziados para capitalizar os bancos . Como é que ela o irá fazer?

Se Dublin aumenta a poupança, esta pesará ainda mais sobre a procura interna  mas ela não será capaz de financiar as despesas públicas. Em suma, tudo continua a estar por fazer. A Irlanda não pode ser um modelo para ninguém na Europa. E o seu sucesso poderá ser  uma bela vitória à  Pirro.

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Para ler a primeira parte deste trabalho sobre a Irlanda de Romaric Godin, publicada ontem, 31 de Outubro, em A Viagem dos Argonautas, vá a:

http://aviagemdosargonautas.net/2013/10/31/retratos-imagens-sintese-dos-efeitos-da-crise-da-zona-euro-sobre-cada-pais-196/

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