AO REDOR DO LAROUCO – 3 – por Rui Rosado Vieira

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O CABO ADOLFO

 

O homem mais importante da terra, na opinião de Ti Manecas, era, na década de 1960, o cabo Adolfo, comandante do posto da guarda-fiscal ali aquartelado.

Era casado com a regente escolar encarregada de ministrar o ensino primário às meninas, mulher que tinha fama de gostar da pinga. Cabo e professora eram pais de um rapaz e de três raparigas, a maioria das quais, bem pouco dotadas de beleza, não chegaram a concluir a instrução primária.

Adolfo era homem gordo. Usava bigode à Hitler e obrigava as alunas da esposa, meninas com sete ou oito anos de idade, a marchar, logo de manhã, calçadas de meias grossas e pesadas chancas, sobre a água gelada da invernia, de braço estendido, à maneira hitleriana.

Pela sua forma de actuar, o cabo da Guarda Fiscal, era o terror da aldeia.

Tudo o que conseguia retirar aos pobres contrabandistas da terra, mercearias, azeite, tecidos, revertia a seu favor pessoal. Produtos que usava no consumo diário de sua casa, ou vendia a merceeiros das cercanias.

Desrespeitando as mais mínimas regras de convivência, perseguia homens e mulheres pelos pretextos mais fúteis. Na sua sanha persecutória conduzia, sob prisão, para Montalegre, rapazes acusados de cantarem aos domingos na via pública, ou extorquia pequenas porções de volfrâmio às mulheres que se dedicavam ao rebusco do metal entre as terras já abandonadas de uma exploração mineira.

Na sua ânsia de tudo vigiar e controlar, nem as suas filhas escapavam, limitando-lhe, o mais que podia, os passeios pela aldeia. Quando se aproximava o dia da festa anual do lugar, mandava-as trabalhar para as terras de que era proprietário.

Parece que o recato que impunha às suas descendentes, não resultou. Ganharam fama de serem bem liberais nas suas relações com os homens.

Ti Manecas contava que uma delas, já de idade entradota e imensamente gorda, se apaixonara por um rapaz muito mais novo. Jovem que, chegado à idade de cumprir o serviço militar, foi colocado num quartel da Amadora.

A mulher enamorada, desgostosa com a ausência do seu homem, abandonou a casa paterna em segredo, viajando em direcção ao aquartelamento.

Ao chegar à porta de armas do regimento pediu para falar com um soldado cujo nome indicou. A sentinela, após avaliar a idade e o enorme corpo da mulher, perguntou-lhe se queria ver o filho de imediato ou podia esperar um pouco.

Porém, consta que não obstante a pouca elegância da mulher, a acentuada diferença de idades e a forte oposição do cabo Adolfo, seu pai, o casal viveu vida longa e feliz.

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