Eis as casas. Grutas de sal a céu onde me descubro. E sou
nome ou reboco do dia que se extenua e sonha, vento marítimo
que me leva às praias fulgurantes que faltam nos livros. Aqui
me deito, peixe, memória, homem, contigo e a chuva e o iodo e
o som das casuarinas circulares, teu verde escuro açoitado de
desejo. O bosque.
Aqui me ergo, pendurado em panos às janelas, imagem de
despudor sem mim. Porque aqui me esqueço do que me
querem. Da história que me fizeram e fui. Olhem estas pare-
des que respiram! Arfam? Olhem onde não me posso esconder,
no laborioso percurso das tardes jogando-me, brincando,
obsessivo gerúndio doutra estória às avessas da história, onde
não me vissem mais, quando me distraio, viandante de mim
nos alvéolos iluminados do tempo.
(de “A Ilha de Moçambique pela Voz dos Poetas”)
Poeta e jornalista moçambicano. Estreou-se literariamente já depois da independência. Coordenou a “Gazeta das Artes e Letras” da revista “Tempo”. Obra poética: “Monção” (1982), “A inadiável viagem” (1985), “Vinte e tal novas formulações e uma elegia carnívora” (1992), “Mariscando Luas” (1992).