Quando o tenente Fragoso fez menção de abandonar o hotel com Elisabete, sua mulher, o inspector Ramos dissera:
– A senhora pode sair, o nosso tenente, não – o pronome possessivo, na linguagem militar era um adjectivo que colocava quem o usava acima daquele a quem se dirigia. O tenente não gostara:
– Só obedeço a superiores… – De imediato, Ramos tirou do bolso do casaco um envelope. Estendeu-o a Fragoso:
– Aqui tem ordens dos seus superiores.
Paulo Fragoso, retirou a carta do envelope e leu-a e, sempre carrancudo, guardou-a num bolso. O inspector Ramos esclareceu:
– É uma carta assinada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra que comanda a Zona Marítima da Madeira e que chefia o Departamento Marítimo – e acrescentou – mas a iniciativa vem mais de cima – Em Lisboa, estive com o Vice-Almirante Comandante Naval e foi ele que ordenou ao seu superior directo que o pusesse à minha disposição.
– Eu li a carta… – Fragoso não estava interessado em continuar aquele diálogo – Vamos então para a tal sala. E, com Elisabete, seguiu atrás do gerente do hotel e do inspector Ramos. António, Cecília e, encerrando o cortejo Norberto de Sousa que, com impulsos ritmados das mãos, deslocava a sua cadeira de rodas.
Entraram na sala que lhes fora reservada, pequena mas muito confortável. Sobre a mesa, travessas com biscoitos, pequenas garrafas de água mineral e chávenas. Uma cafeteira eléctrica ligada à corrente, libertava um penetrante odor a café. Dando passagem ao grupo, o gerente disse:
– Se precisarem de alguma coisa, é só premir o botão da campainha.
Entraram. A sala já tinha um ocupante, um homem que lia um jornal, Levantou-se. Era o Dr. Alfredo Nunes.
Cumprimentou todos e abraçou Norberto com visível emoção:
– Olá, companheiro. Parece que a nossa missão está a chegar ao fim.
– Parece que sim, mosqueteiro – e Norberto soltou uma casquinada com voz enrouquecida.