e as flores gelavam aqui donde partíamos com carbúnculos nos braços
pássaros de pio futuro por onde andávamos
deixámos a terra grávida de salamandras esventradas
ganhávamos o pão nosso cada dia com medidas de suor
e um inverno de vómito estarrecia sob as raízes
as galáxias mediam-se por braçadas de legumes ou milho ou arroz
que no-las distanciavam e as estrelas fugiam perseguidas
por cavalos de sílex
o sonho criava lodo cada manhã
as palavras mal nasciam apodreciam em limo
nesta situação-limite os seios o sexo o sémen
convenceram os homens nas suas fábricas
de cavalos de sílex
tarde
peitos punhos pulsos resolvemos ousar nosso pão
(de “Vértice”,1ª série, nº 333, 1971)
Poeta cabo-verdiano, pseudónimo de Osvaldo Alcântara Medina Custódio. Foi um dos fundadores de “Sèló – página dos novíssimos”. Colaborou na revista “Vértice” e figura em “Poesia 71” (Porto, 1972). Obra poética: “O Cãntico do habitante precedido de duas gestas” (1977), “Caboverdeanamente construção meu amor” (1975).