POESIA AO AMANHECER – 365 – por Manuel Simões

 

 

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                                   OSWALDO OSÓRIO                                     

                                               ( 1937 )                                                

 

            CAVALOS DE SÍLEX

            ainda estávamos em guerra quando fomos à lua

            e tínhamos fome e feridas nos olhos de cegar

 

            agarrávamos o futuro com a luz do laser

            e as flores gelavam aqui donde partíamos com carbúnculos nos braços

 

            pássaros de pio futuro por onde andávamos

            deixámos a terra grávida de salamandras esventradas

 

            ganhávamos o pão nosso cada dia com medidas de suor

            e um inverno de vómito estarrecia sob as raízes

 

            as galáxias mediam-se por braçadas de legumes ou milho ou arroz

            que no-las distanciavam e as estrelas fugiam perseguidas

            por cavalos de sílex

 

            o sonho criava lodo cada manhã

            as palavras mal nasciam apodreciam em limo

 

            nesta situação-limite os seios o sexo o sémen

            convenceram os homens nas suas fábricas

            de cavalos de sílex

 

            tarde

            peitos punhos pulsos resolvemos ousar nosso pão

 

            (de “Vértice”,1ª série, nº 333, 1971)

 

Poeta cabo-verdiano, pseudónimo de Osvaldo Alcântara Medina Custódio. Foi um dos fundadores de “Sèló – página dos novíssimos”. Colaborou na revista “Vértice” e figura em “Poesia 71” (Porto, 1972). Obra poética: “O Cãntico do habitante precedido de duas gestas” (1977), “Caboverdeanamente construção meu amor” (1975).

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