CRÓNICA DO DOMINGO – O caso de Ana Leal, jornalista da TVI, despedida por ferir interesses privados – por Carlos Loures

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Já aqui tínhamos falado de um jornalista de um conhecido órgão de comunicação social que, incumbido de entrevistar determinada personalidade, ao entregar na redacção o seu trabalho, viu recusada a publicação porque as perguntas não haviam induzido as respostas que se esperava. Ou seja, as perguntas não continham a dose de provocação que motivariam as respostas irritadas do entrevistado, acentuando a reputação de desbocado que criou e lhe  foi criada. No quarto ponto do Código Deontológico dos jornalistas portugueses, diz-se que o jornalista «deve utilizar meios leais para obter informações»; no segundo diz-se que o jornalista deve lutar contra o sensacionalismo. Há dias, um amigo e colaborador, escreveu-nos chamou a nossa atenção para o caso de uma jornalista que foi despedida da TVI, pois o conteúdo de reportagens suas denunciavam os compadrios que prevalecem também no sector do ensino. O primeiro caso não passou ao domínio público, pois o jornalista em causa quer conservar o seu lugar; o segundo, ocorrido o ano passado provocou escândalo e tem sido amplamente comentado. Vejamos o vídeo

Ana Leal foi despedida, não por ter violado o código deontológico da sua profissão, mas por o ter respeitado. A maioria dos órgãos de comunicação social não quer jornalistas – quer escrevinhadores que cumpram com zelo os recados de que são incumbidos. E a dificuldade de arranjar colocação que, não podia deixar de ser, afecta também o sector, obrigando muitos profissionais a ter de optar entre  a sua consciência e o desemprego.

 O salazarismo mantinha uma legalidade formal com instituições que mais não eram do que fachadas atrás das quais se ocultava um regime ditatorial ao serviço de um serventuário das grandes famílias. Com um aparato institucional mais complexo, a democracia que temos está ao serviço das mesmas famílias. Não se tem saudade da passada e miserável ditadura; tem-se saudade de um futuro em que a democracia seja efectivamente um governo do povo e para o povo.

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