HÁ MATÉRIAS EM QUE OS CIDADÃOS É QUE SABEM O QUE ESTÁ BEM, NÃO OS PARTIDOS. – por Clara Castilho

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Na Mesa “Políticas de literatura: exigência escolar, a universidade e o ensino da literatura”, inserida no 1º ENCONTRO «LITERATURA:PRESENTE, FUTURO» – A URGÊNCIA DA LITERATURA,  em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, nos dias 11 2 12 de Janeiro, uma das intervenções mais apreciadas e ovacionadas foi a de Maria Alzira Seixo. Abordou ela a questão da Literatura e Ensino.

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Do muito que disse e consegui apontar, houve partes que me foram mais acessíveis, a mim, leiga nestas matérias e de que vou ousar falar.Preocupou-se com a inserção sociológica deste assunto, na sua inserção política, variando as metodologias consoantes as correntes dominantes nos governos. Defendeu que é necessário submeter a debates, ouvir os professores, correlacionar categorias de docentes, etc.

“Um dos efeitos positivos que o Ensino da Literatura pode ter é o de levar os cidadãos a não serem sectários, a verem o que é positivo onde de facto está, e, em vez de aprovarem o que os partidos lhes dizem que é bom porque eles, partidos, acham que assim é, os cidadãos com aprendizagem correcta dirão eles-próprios aos seus partidos o que de facto está bem ou não, em matéria que não é deles, partidos, é deles, cidadãos! […] a Literatura, além se ser ideológica, sofre a acção político-económica. E a acção comercial, que domina a própria política.

[…] Os sectores que a Literatura condiciona são os seguintes:

1. A educação estética, que permite, a quem aprende, entender que a Literatura é uma arte e não um mero amontoado de palavras, e por isso difícil, mas estando ao alcance de qualquer um através da tentativa própria – contradição que se anula pela conceptualidade da noção de «prática»;

2. A educação linguística, que familiariza o aluno com os usos da palavra e sua organização na composição do pensamento, sob formas de comunicação que se ligam ao usual quotidiano mas a ele não pertencem, pois induz a concepção dos ‘mundos possíveis’ que a Literatura confabula numa generalizada experiência do mundo e da vida, tanto quanto dos mundos transactos, da História, ou de mundos de suporte criativo original;

3. a educação cívica, política e, em especial, ética e filosófica (e estas últimas podem subsumir a cívica e a política), educação esta que se processa na leitura por efeito mimético de cenas, discursos, práticas, actuações, e até pela sua contra-mimese (em registos do fantasioso: fantástico, feérico,  sobrenatural, supra-mundano, e todos aos quais se alce a imaginação), criando uma experiência de diálogo com o texto e no texto, susceptível de desenvolver a vida em consciência e em convívio, com as suas componentes participativa, crítica e pragmática;

4) a educação retórica, que habilita o aluno (e todo o leitor) a desconstruir os mais variados discursos, nos mais diversos sectores, e lhe permitirá resistir ao uso e abuso que da retórica mundanamente se faz, usualmente em seu prejuízo (em prejuízo dos futuros cidadãos e da orgânica social no seu todo);

5) a educação do raciocínio, do qual, com a Matemática e a  Filosofia, a Literatura lança bases, fazendo de todo o profissional, não um mero ‘executante’, mas um fautor de sucessos, desde o simples passo em equipa ao salto de juízo próprio, consciente do papel da sua integração nas mais vastas comunidades, e consistente em resultados. Isto, a partir da sintaxe interiorizada e do uso de frases logicamente vertebradas, que incorporam segmentos narrativos, da sua própria e singular existência até à ficção, ou vice-versa, criando uma imagística particular que é coadjuvante da forma  mental de estar no mundo: porque poetizar é «pensar com uma imaginação ordenada», não é usar palavras ao acaso – e ele-próprio, acaso, quando usado em Literatura, conhece leis;

e 6)  a educação  histórica, pela observação dos vários tempos e épocas que os livros que se lhe facultam proporcionarão, e que, aliada ao estudo de Línguas Clássicas (o Latim, ao menos, é essencial), dá ao aluno a sua consciência reflectida de ser humano no mundo estratificado em  tempo e não apenas em espaço, o qual espaço se lhe apresenta tendencialmente uno, pese embora a diversidade, até no campo das linguagens; esse é outro tipo de educação, a espacial-geográfica, ainda integrável em Literatura.”

Impossível não ficar impressionada com tanta reflexão, exactidão e firmeza nas ideias.

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