Um artigo publicado na última Visão (30.1.14), com o título “Marcelo recebe os ardinas” fez-me lembrar outra situação que vivi pessoalmente.
O que o artigo não diz é que Marcelo, “desabafou” com os ardinas, dizendo que “É muito difícil governar” (Lembro-me que…Ferreira Fernandes, Oficina do Livro, 2004).
E isto fez-me lembrar de duas semanas da minha vida, como “hospedeira” na Feira Industrial de Lisboa, no antes do 25 de Abril. Tinha eu um saco, que um familiar me trouxera de Londres, e que reproduzia um dos jornais de Londres. A FIL era visitada por quem pagava a entrada e pelas “crianças de rua” que entravam por entre os muros, postos em blocos na diagonal, por onde os seus pequenos corpos passavam. E era oficialmente inaugurada pelo Presidente da República de então – Américo Tomáz (Tomáz com “z”, como era mais chique…) que apertava a mão a toda a gente. Dessa inauguração ficou na família, para grande gozo ainda hoje, uma foto minha com o dito cujo.
Mas voltemos aos meninos de rua. Percorriam os stands a ver o que “cravavam”. E logo repararam no meu saco. E imediatamente começou o pregão ”Olha o Diário Popular, Olha a Capital, Olha o Diário de Notícias”. Quem ainda ouviu estes pregões na rua, consegue imaginar a cena. Eu divertia-me e eles percebiam que me não zangava. Quem se zangava era o “patrão”… E tivemos que arranjar subterfúgios para continuarmos com a nossa cumplicidade: passavam sorrateiramente pelo stand e, se eu estivesse sozinha, levavam disfarçadamente umas bolachas. A cena acabou por ser imitada pelos colegas dos stands do corredor e a viagem valia-lhes um saco cheio. Mas, quando chegavam ao fim, já longe do alcance, não resistiam e desatavam, de novo, com o pregão…
Foto de Bem Hardy, 1951