UMA CARTA DO PORTO – Por José Magalhães (27)

CARTA DO PORTO

PORTO, INQUIETO E IRREVERENTE

.

Estamos a chegar à Primavera. A época carnavalesca, tardia este ano, já lá vai. A chuva também parece querer amainar e o sol vai querer fazer esquecer um dos Invernos mais chuvosos dos últimos anos.

Entretanto, o Porto, que nunca parou, já mexe, inquieto e irreverente.

Que bem que se está no Porto, a cidade de retalhos coloridos. Porto capital de tudo, de uma coisa de cada vez e de todas ao mesmo tempo. Uma cidade para apreciadores!

Faça um favor a si mesmo, enamore-se no Porto, e relembre-o durante toda a sua vida.

Já pensou em tudo o que temos e que cativa irremediavelmente os nossos visitantes, e também nos cativa enquanto residentes e Tripeiros?

Ora pense no nosso Património, nos mercadinhos e nas feiras de rua; nos bares, restaurantes e tascas; nos petiscos, nos vinhos e nas caves; nos cafés históricos, na Lello, nos alfarrabistas e nas lojas antigas; no Aeroporto, no Metro e no Estádio do Dragão; na Casa da Música, na casa de Serralves, no Palácio da Bolsa (com o seu Salão Árabe) e na Casa do Infante; na Estação de S. Bento e na Torre dos Clérigos; no Bolhão e no Bom Sucesso; nas nossas pontes, no nosso Douro, no nosso mar, no Palácio de Cristal e no Parque da Cidade; na nossa cultura, na noite de S. João, nos espectáculos, nos clubes de renome mundial e na movida nocturna; na nossa arquitectura, nos nossos arquitectos, na zona histórica, na Ribeira e na baixa da cidade; nos nossos hotéis e hostels; na nossa gastronomia, nas tripas e nas francesinhas; nos manjares Minhotos, no bacalhau e na lampreia; no nosso desporto, nas corridas de automóveis, no F. C. Porto e em todos os clubes, de bairro, que temos; nos nossos Museus, nas nossas Igrejas e nas nossas Universidades; mas, acima de tudo, nas nossas gentes e nos seus falares, tão castiços, e na nossa maravilhosa hospitalidade.

É claro que somos o Melhor Destino Europeu para o Ano de 2014, como o fomos em 2012.

O Mundo continua a querer conhecer-nos.

 .

Nas minhas continuadas voltas pela cidade, sinto vontades, muitas. Uma delas, a mais comezinha, é a de comer, e outra é a de beber. Outras, que muitas há, não são para aqui chamadas hoje.

 

VOLTAS E VOLTINHAS GASTRONÓMICAS

 

Fui a dois lugares, perto do centro, que me encheram as medidas. Casas de petiscos e de bem comer, simpaticamente atendido e melhor servido, num caso ao almoço e noutro à hora de jantar.

Num dos dias em que passeava, estava, à hora de almoço, pela zona do Jardim de S. Lázaro. Pouco passava do meio dia e já a vontade de comer me roía. Os meus amigos de passeata e lides fotográficas propuseram uma ida à Casa Guedes.

fotog internet
fotog internet

Ah, maravilhosas sandes de pernil! Do melhor que comi em toda a minha vida. As já famosas sandes de pernil com queijo da serra, variante que provarei na minha próxima visita, vêm acompanhadas de um vernáculo elegante e de um vinho da casa de trepar paredes. Aproveite o bem que a vida lhe pode fazer e visite esta maravilha dos petiscos.

Num dos outros dias em que passeei pela baixa do Porto, vi-me, à hora do jantar, perto da Rua da Picaria. Lembrei-me de ir visitar a Taxca.  Já conhecia de outras visitas a “casa mãe”, de seu nome “A Badalhoca”, pelo que resolvi ir saber se a qualidade era a mesma.

DSC01842-960x

Num ambiente acolhedor e muito simpático, sem a companhia do famoso vernáculo existente na “casa mãe”, lá me deliciei com umas papas de sarrabulho muito boas, e com umas sanduíches de presunto divinais, iguaizinhas às da “outra casa”. A sande de fígado de cebolada e a de panado estavam igualmente de se lhe tirar o chapéu e o espadal, como de costume, um sonho. Aproveitei para provar o tinto carrascão e fiquei rendido. A simpatia do atendimento foi exemplar. Casa a voltar sempre que por perto possa estar.

 

Para além destas duas casa de petiscos e para além das minhas voltas pelo centro do Porto, vou de vez em quando até aos “arredores”.

Estamos a meio da época da lampreia, e em cada dia 28 de Fevereiro, na maior parte das vezes sozinho e pelas razões que aqui já expliquei, almoço, esta maravilha da cozinha portuguesa na sua, para mim, melhor variante, à Bordalesa.

Também como de costume, um pouco à laia de tradição, poucos foram os anos em que tal assim não foi, anualmente e nesse dia, visito o Restaurante “O Gaveto”, em Matosinhos.

Restaurante "O Gaveto" Em frente à estátua de PASSOS MANUEL, natural de Matosinhos
Restaurante “O Gaveto”
Em frente à estátua de PASSOS MANUEL, natural de Matosinhos

Nesta última sexta-feira não fugi a essa tradição. Como das outras vezes, o acolhimento foi exemplar, o atendimento atencioso mas não em demasia, ali sentimo-nos em casa, e a bichinha, nem carne nem peixe mas melhor que carne e melhor que peixe, estava sublime. Debaixo da supervisão do Sr. Manuel Pinheiro, nada é deixado ao acaso, tornando o tempo em que lá estamos numa experiência muito agradável. Sendo a lampreia um prato que muitos detestam mas muitos mais adoram, será aqui, n’O Gaveto, que os que querem experimentar e não sabem se vão gostar, a devem provar. Bem cozinhada, sem vinagre a mais nem a menos, suave e deliciosa, roçando a perfeição do sabor certo e apurado, é um dos locais onde melhor a comi. Acompanhei a dita com um muito bom verde tinto, servido na malga, e acabei com uma laranja e um café. Simples e bom! Restaurante que facilmente se recomenda, sem o receio de errar.

6 Comments

  1. Gostei de aqui vir, como sempre.
    Gosto da simplicidade e autenticidade da sua escrita e dos seus percursos, que deixam marca, bem como (estes últimos, pelo menos), fazem crescer água na boca.
    Abraço.
    Maria Mamede

Leave a Reply