UMA CARTA DO PORTO – Por José Magalhães (37)

CARTA DO PORTO

CRÓNICA DE BEM DIZER

Foi no sábado passado, a meio da tarde, que me deu uma vontade, quase incontrolável, de ir até à baixa. Ora, quando estas vontades me acontecem, especialmente se forem, como esta, incontroláveis, nem faço questão de resistir. A baixa do Porto está a tornar-se novamente numa coqueluche, a exemplo do que já foi, nos tempos áureos do comércio tradicional Portuense. Mas se nesses dias o motor comercial estava do lado do sector têxtil e do de calçado, hoje, a força comercial situa-se no do turismo, no do lazer e no da restauração.
Era dia de futebol, dia com alguma importância por se jogar um chamado clássico do futebol, mas de pouca relevância para o desfecho do principal campeonato (liga) de Portugal. Os visitantes já eram campeões, e aos visitados restava a consolação de vencer. Não sendo um entendido e limitando-me a ser um modesto apreciador deste tipo de desporto (?), gosto de ver o meu clube (nas mais diversas modalidades) ganhar. Não era, no entanto, grande, o incentivo.
Dessa forma, a vontade, incontrolável, de ir à baixa aumentou, ganhando uma forma e um tamanho tremendos.
Parti do princípio de que, como dia de jogo grande, a cidade estivesse mais deserta durante e depois da hora do jogo.
Assim, esperei que a primeira parte do desafio acabasse, e lá fui, com alguma satisfação pelo resultado parcial que na altura se apresentava, para o centro da cidade.
Estacionei o carro no parque dos Clérigos, e logo ali me admirei por encontrar o espaço, praticamente sem lugares vazios.
Decidimos começar a nossa passeata pelo Passeio dos Clérigos, aquele corredor que fica por baixo do Jardim das Oliveiras de que já aqui falei, e de onde se vê a Torre dos Clérigos de um ângulo diferente. Gosto imenso de entrar no “COSTA”, e degustar uma das suas brilhantes ofertas. Assim fizemos. O Passeio estava à cunha, assim como o café. Muita gente, nova e bonita, a par de outra de muito mais idade, mas não menos bonita, e em especial, muitos estrangeiros, pude ver naqueles minutos que por lá andámos.
Na saída, em direcção à rua Cândido dos Reis, as pessoas eram aos magotes. Na rua propriamente dita, estava a laborar uma feira de artesanato. Já estávamos quase no fim do dia, mas as bancas estavam rodeadas de potenciais clientes.
-Que bom, dei por mim a pensar, a baixa mexe! O Porto vive, seja a que horas for!

Rua Cândido dos reis - Mercado
Rua Cândido dos reis – Mercado

 

Foi um bocadinho difícil percorrer a rua, tanto pelas solicitações que metro a metro se nos apresentavam, e nos obrigava a parar para melhor poder ver, como pela enorme quantidade de gente. Mesmo sem comprar fosse o que fosse (desta vez foi assim, noutra altura poderá ser melhor), demorámos muito mais de meia hora a chegar à rua de St. Teresa, onde, depois de muitas paragens a ver colares e pulseiras e brincos e anéis, e roupinhas, e brinquedos, parámos a apreciar discos antigos, de vinil. Tive de ser empurrado dali para fora, ou já não iria a mais lado algum.
A Praça Filipa de Lencastre, ficava a poucas dezenas de metros, e eu ia “filado” em atravessar para os lados da rua da Picaria. Havia por lá casas de bom comer. Isso eu sabia, e a vontade de voltar a sítios onde já tinha estado, e bem, aguçava-me o apetite. É difícil ficar indiferente aos mimos que a cidade nos oferece a cada esquina.
Mas, após passar o Café Avis (um dos mais emblemáticos do Porto) demos de caras com uma casa nova. Ainda não a tinha visto nem ouvido da sua existência (fiquei a saber depois, que ainda não tinha dois meses de vida).
Como o Porto muda em tão pouco tempo. São constantes as novidades, com cada nova casa a ser tão boa ou melhor que a que tenha aberto antes, e com novos tipos de comércio. Neste caso, uma nova casa de bem comer, com o saboroso suíno (ou Tó, ou Porco, ou, como neste caso, Leitão) como prato principal e quase exclusivo.
O nome da casa, “O RECO DA BAIXA”.

O RECO DA BAIXA
O RECO DA BAIXA

 

Nome mais apropriado não poderia ter. Servido em agradáveis caixotezinhos (as sandes do dito – maravilhosas, em pão quente a acabado de fazer – as batatas fritas – de qualidade muito boa – e a cerveja – a minha escolha de bebida nesse dia) o menu potencia os sentidos e provoca a vontade de repetir, conquanto a quantidade seja mais do que suficiente. O preço, não amedronta ninguém.
De dentro do espaço, ou da esplanada, tem-se uma visão privilegiada da Praça, com um dos melhores Hotéis do Porto logo ali à direita, e com outros restaurantes e bares à esquerda, mais ao longe. Ao fundo vislumbra-se a Avenida dos Aliados, a sala de visitas da cidade.
Um pormenor de extrema importância, fomos excepcionalmente bem servidos, com pessoal muito atencioso e de trato agradável. Sem desprimor para a restante equipa, devo dizer que tivemos da parte da Soraia (a funcionária que nos atendeu) o melhor atendimento que se poderia desejar.
Mais uma casa de excelente comer, um espaço de qualidade que não interessa deixar de conhecer.
Quando saímos, a casa estava já quase sem espaço para os clientes que estavam ainda a chegar. O jogo tinha já terminado e não se via ou ouvia quaisquer festas nas ruas.
Passeamos pelas ruas da baixa até decidirmos regressar a casa e não me lembro de ver tanto turista (têm aspecto diferenciado do nosso) a calcorrear as nossas ruas.
Que lindo! Fiquei contente por todos nós. A cidade continua em grande!

 

9 Comments

  1. fechando os olhos ,depois de ter este texto, conseguimos ouvir os pregoes.. aspirar o aroma das pipocas….auscultar o turbilhao das multidoes enfim
    .sentir o pulsar da cidade

    obg por me fazer ver de novo a cidade que tanto amo

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