UMA CARTA DO PORTO – Por José Magalhães (38)

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NO PORTO, TODO O RECANTO TEM MUITO ENCANTO

Regressou a chuva e o menos bom tempo, durante toda esta semana. Os dias anteriores tinham-nos dado a esperança de uma vinda duradoura do calor e dos dias claros e secos, propícios a idas aos jardins, em busca de sombras e de aragens frescas, ou à praia, ou até às esplanadas da cidade, que felizmente são muitas.
Durante a semana passada andei pelos jardins da cidade, a revisitá-los, e descobri recantos maravilhosos aos quais nunca tinha ido.
Um deles fica ali para os lados do Fluvial, em Lordelo do Ouro, Freguesia do Porto Ocidental desde 1836. Um cantinho à beira-rio plantado (Monografia de Lordelo do Ouro – de Adriano Leitão, 2011).
Em tempos idos, Lordelo do Ouro foi terra de homens do mar, pilotos, mestres e contramestres, capitães de navios, calafates e carpinteiros. No seu estaleiro, o mais importante do Porto, à época, que ficava na extensa praia que existia entre a Arrábida e a Cantareira, construíram-se importantes embarcações, Caravelas, Galés e Naus, para os Descobrimentos e Conquistas Portuguesas, e também para o Cerco de Lisboa (O cerco de Lisboa foi implementado pelas forças de Castela e durou quase cinco meses. Ocorreu em 1384 aquando da sucessão de D. Beatriz à morte de D. Fernando, por causa da revolta popular que culminaria com a aclamação do Mestre de Avis como Regedor e Defensor do Reino).
Quando se tornou necessária uma maior profundidade das águas para a construção dos grandes Galeões, o estaleiro de Lordelo perdeu a importância que até aí detinha. Desses tempos áureos, de vida e trabalho dedicados ao rio e ao mar, sobram ainda as capelas de Santa Catarina e a de Nossa Senhora da Ajuda, mandadas construir pelos marinheiros.

Local de observação de pássaros - Jardim do Ouro
Local de observação de pássaros – Jardim do Ouro
Monumento à expedição a Ceuta (1415)
Monumento à expedição a Ceuta (1415)

Andava eu pela beira rio (Praceta da Ribeira do Ouro ou jardim do Ouro, também conhecido por jardim António Cálem – construído em 1960), olhando as águas e os pássaros que por ali abundam, a ponte da Arrábida e as águas do rio Douro a caminho do mar, e apreciando a leve brisa que me retirava um pouco do calor que a tarde trazia, quando ao chegar à Ribeira da Granja resolvi subir e deixar o rio para trás.
Pobre ribeira que, nascendo nos montes caulinos e desaguando mesmo ali, foi um dia uma das mais importantes da cidade, estando, hoje, entubada e desaparecida dos olhares dos Portuenses. Não resistiu ao desenvolvimento urbano, nem ao desprezo com que os mais diversos autarcas sempre a olharam (sendo que Fernando Gomes e Nuno Cardoso foram os principais responsáveis, mas, mais recentemente, também Rui Rio não está isento de culpas), muito embora tenha chegado a haver um esforço para a sua reabilitação, entretanto abandonado. Lamentavelmente, não está previsto, julgo que por motivos económicos, agora que é necessário arranjar os últimos metros na rua Aleixo Mota devido ao aluimento da rua, desentubá-la e arranjá-la urbanisticamente. Claro que também seria necessário fazer com que deixasse de ser um autentico esgoto, despoluindo-a, mas não tenho a certeza de que os interesses instituídos o permitam. Se o fizessem, a cidade ganharia muito com isso.
Parece, no entanto, que o infortúnio da Ribeira da Granja, teima em prolongar-se.

Ribeira da Granja - Em cima à direita a capela de Santa Catarina
Ribeira da Granja – Em cima à direita a capela de Santa Catarina

Comecei a minha subida, a partir do Largo de António Cálem, quando reparei na capela do Senhor e Senhora da Ajuda (mesmo à esquerda do início da ciclovia em madeira), que infelizmente se encontrava fechada. É muito bonita, pelo menos por fora. Do outro lado, à direita da rua Aleixo Mota, e lá no alto, está a capela de Santa Catarina, de que já aqui falei na minha crónica nº 5

Capela de Nossa Senhora da Ajuda - ao fundo e em cima, a capela de Santa Catarina
Capela de Nossa Senhora da Ajuda – ao fundo e em cima, a capela de Santa Catarina

Enquanto me dirigia para o parque/jardim da Pasteleira, passei por um dos recantos mais bonitos que por ali há. Mesmo junto aos prédios, sobranceiro à rua Aleixo Mota e de Dom Pedro de Manezes (se a ribeira estivesse arranjada e a céu aberto, a “vista” seria lindíssima), está um mini parque, calmo. bonito, escondido dos passantes, que vale a pena ir ver. Não tem bancos, é certo, para o descanso dos mais velhos, ou para um mais calmo e prazenteiro apreciar do sossego do lugar, mas quem sabe, um dia, eles possam ser por lá colocados. De preferência uns que não sendo de desenho moderno, sejam confortáveis. Este bocadinho de espaço de bem estar, está separado do Parque da Pasteleira pela rua Diogo Botelho.

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Fotografias com tratamento especial

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Jardim da Rua de Paulo da Gama sobranceiro às ruas de Dom Pedro de Menezes e de Aleixo Mota

Dirigi-me para o jardim da Pasteleira (Parque Urbano da Pasteleira é o nome oficial).

Os pontões que unem as duas partes do Parque da Pasteleira
Os pontões que unem as duas partes do Parque da Pasteleira

É um parque lindíssimo com mais de sete hectares separados em duas parcelas pela rua de Afonso de Paiva e com três pontões de madeira (todos diferentes) a uni-las. Por este parque passa uma ciclovia que vem do Parque da Cidade e termina no Jardim do Cálem, onde entronca noutra que vem da Foz e acaba na ponte Luís I. Sobre este Parque, falarei mais tarde, noutra crónica.

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A cidade já tem uma razoável rede de ciclovias a atravessá-la, mas agora, com a nova lei, os ciclistas optam por andar pelo meio da rua, ao invés de as utilizarem.
Enfim, são o resultado dos dias em que vivemos.
Temos direito, fazemos, homessa!

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