EDITORIAL – A Feira do Livro

 

logo editorialNo Parque Eduardo VII, mais uma Feira do Livro, a 84ª, um certame de editores, torna mais oportuno falarmos sobre o papel da edição no caminho que o livro tem de percorrer entre o autor e os destinatários – os leitores. Os editores são, na mitologia criada em torno do livro, os maus da fita. Os direitos de autor, quando são pagos, são uma miséria; quando devolvem um original, estão a faltar ao seu dever de divulgar a boa literatura… Em suma, o editor é um vampiro, um abutre que vive do sangue do autor. Será, de facto, assim? Depende de que tipo de editores estamos a falar.

Nas altas esferas da edição tudo se passa como em qualquer outro negócio. Neste momento trava-se uma luta de vida ou de morte entre dois gigantes do mundo editorial – a Hachette e a Amazon – uma guerra que tem a ver com os livros electrónicos e, na área do livro impresso, pela fixação de margens, de percentagens a atribuir à rede de vendas. Em nenhuma destes grandes empórios se coloca a questão do que se vende – tudo se centra no quanto. Mas deixemos a guerra das estrelas.

Regressando ao pequeno asteróide do nosso mercado, temos de reconhecer que os editores, os pequenos e os médios, pelo menos, têm prestado um serviço à cultura nacional, investindo muitas vezes em edições que se justificam numa perspectiva cultural, mas cujo retorno financeiro é duvidoso. O livro, analisado na óptica do negócio, é um produto, tem custos de produção, tem custos de distribuição e, às vezes, os autores e os editores também recebem respectivamente os direitos e os lucros. Façamos contas.

Dando como exemplo uma livro cujo preço de venda ao público seja de 10 euros, terá uma estrutura de custos que será aproximadamente a seguinte, de montante para jusante – o livreiro recebe 30%, portanto, ganha 3 euros. O distribuidor recebe do editor um desconto de 50%, dos quais saem os 3 euros para o livreiro, pelo que ganha 2 euros. O editor, na hipótese de esgotar a edição, fica com 5 euros, dos quais paga ao autor – 10%, um euro, pelo que fica com 4 euros. Desses 4 euros tem de pagar os custos da edição (revisão, papel, impressão e acabamento…). As percentagens não são bem estas, mas dão uma ideia – percebe-se que o negócio é muito arriscado. E o risco devia ser assumido pelo Estado que, com uma política cultural correcta, podia promover a edição de livros que, não sendo de êxito comercial assegurado, constituam mais-valias para o enriquecimento do património literário ou científico do País. Com relativamente pouco dinheiro assegurar-se-ia a publicação de obras que poderiam ser canalizadas para a rede de bibliotecas e absorvidas por compras institucionais.

Como essa política não existe, os pequenos editores continuam a arriscar e quase sempre a perder. E a manter a fama de predadores.

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