FRATERNIZAR – Educar é preciso. Formatar não é preciso! – por Mário de Oliveira

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Oficina PALAVRA PÃO E VINHO no BC

A 3.ª Sessão da Oficina PALAVRA PÃO E VINHO, uma iniciativa da Associação Cultural e Recreativa AS FORMIGAS DE MACIEIRA, dinamizada pelo Pe. Mário, Presidente da Mesa da AG, realizada no último domingo de Junho, no Barracão de Cultura, foi mais uma inolvidável experiência de viva Comensalidade. As pessoas de Macieira da Lixa, do concelho de Felgueiras e do país que ainda a não frequentam, nem sequer podem imaginar como são todas aquelas horas passadas de manhã e de tarde no BC, intermediadas pelo Almoço compartilhado na respectiva Mesa comum. Imaginassem quanto esta Oficina tem de belo e de humano, de alegria e de festa, de afectos e de abraços, de canto e de dança, de improvisos e de palavra partilhada, e trocariam tudo no último domingo de cada mês, para a integrarem e saborearem. Como pessoas individuais, ou como família constituída, mãe, pai, filhas, filhos ainda ao seu cuidado. São, sem dúvida, as horas mais fecundas do viver de cada uma, cada um dos que já nos estamos a ter a graça de lhe darmos corpo. Aquele chão onde se ergue o Barracão de Cultura é um chão único no país. É um chão densamente humano e atravessado por um Sopro maiêutico, com tudo de parteira, que “puxa” por nós de dentro para fora. Tanto assim que, pouco tempo depois de lá estarmos, experimentamo-nos com vontade de sermos cada vez mais desinibidos, protagonistas, soltos, libertos, como meninas, como meninos.

É que aquele chão, antes de ser Barracão de Cultura, foi o campo que Maria Laura e Francisco Carvalho, recém-casados, adquiriram com o primeiro dinheiro que conseguiram juntar, fruto do seu trabalho, feito com muito suor e muitas lágrimas de saudade, como emigrantes em França, nos idos de setenta. Hoje, é propriedade da ACR AS FORMIGAS DE MACIEIRA/ BC, graças à doação que Maria Laura e os seus três filhos fizeram, para o exclusivo fim de nele se promover, nesta aldeia e a partir dela, a prática maiêutica da Cultura e da Arte, nas suas múltiplas manifestações, a única prática que nos faz progressivamente humanos, afectivos, relacionados, sororais, vasos comunicantes, sem qualquer necessidade de termos de recorrer às sempre humilhantes caridadezinhas, com as quais o poder financeiro, suas igrejas e seus governos, tornam cada vez mais pequenas, as pessoas e as populações que aceitem ir por essa via de hipocrisia, de atrofiamento das capacidades, de degradação humana. Porque o “bem-fazer”, próprio do poder e seus acólitos, em lugar do “fazer o bem”, próprio da Maiêutica, é, porventura, a pior droga que atrofia e degrada as pessoas e as populações, já que as impede de crescerem de dentro para fora, até se tornarem sujeitos das suas próprias vidas, protagonistas políticos afectivos e de corpo inteiro na sociedade.

Nesta 3.ª Sessão, a palavra geradora de outras palavras e de práticas alternativas às deste tipo de mundo financeiro em que estamos condenados a ter de viver, mas com a responsabilidade de nunca chegarmos a ser dele, foi o verbo EDUCAR. Um verbo que, no seu sentido etimológico latino, Educere, remete para posturas e actos que fazem lembrar as posturas e os actos da parteira, na sua relação com as parturientes, na hora delas darem à luz filhas, filhos. Por ser esta a temática, a Sessão abriu com dois momentos musicais previamente gravados no portátil e amplificados, na hora, graças às colunas de som com que o BC já está equipado no espaço polivalente correspondente à plateia. Precisamente, dois pequenos concertos, respectivamente, de Bach e de Vivaldi, o primeiro, para violino, o segundo, para flauta transversal. Foi a forma encontrada para ajudarmos a criar o ambiente propício para podermos partilhar uns com os outros as nossas histórias de vida, no que respeita à educação que nos deram e que hoje damos e recebemos. A surpresa foi total, mas o efeito nas mentes-consciências das pessoas presentes foi altamente fecundo. A Música, quando vem animada da Ruah/ Sopro da Liberdade e da Arte, torna mais humanas as pessoas que a criam e que a acolhem/ escutam com a sua mente cordial. Parte das pessoas escutou, sentada, aqueles dois curtos concertos, enquanto outras, preferiram movimentar-se, contemplativas, naquele amplo espaço do BC, movidas pela Ruah/ Sopro que cada um desses dois concertos, à sua maneira, faz acordar em quem os escuta com a sua mente cordial.

Vieram, depois, sucessivas histórias de vida e sucessivas reflexões sobre a temática EDUCAR, histórias que nunca mais esqueceremos, porque são testemunhos vivos que nos alimentam a mente cordial. É que, nesta Oficina, as pessoas não vêm para ouvir conferências ou palestras. A Oficina é essencialmente Movimento de dentro para fora, que torna animados os corpos e leva-nos a recuperar a voz e a vez que este tipo de mundo do poder financeiro e suas igrejas e escolas, sistematicamente, nos roubam. A experiência é tão gozosa, tão plena de dentro para fora, que as pessoas chegam a comover-se até às lágrimas, quando se partilham e se dão, na palavra que lhes sai de dentro, porque sentem-se nascer de novo, do Sopro/ Ruah, fonte de Liberdade, experimentam-se movimento, palavra, afecto, protagonistas.

Cada pessoa que chega a tomar a palavra e esta lhe brota de dentro, como a água de uma fonte, é uma palavra mesmo dela, não mais a mera reprodução da velha cassete que catequeses eclesiásticas e escolas/ universidades/ grandes media conseguiram gravar, ao longo dos anos, nas mentes/ consciências das populações. Por isso, a pessoa que faz esta experiência nunca mais é a mesma, torna-se Eu-sou único e irrepetível e, desde esse momento, faz derrubar impérios e todos os muros que a impedem de ser. Sobretudo, passa a derrubar todos os ancestrais medos com que continuam a andar tolhidas as populações. Nada é mais fecundo na história, do que uma mulher, um homem, com voz e vez próprias. O poder e suas igrejas, suas escolas, seus grandes media nunca mais conseguem formatá-la, formatá-lo. Essa mulher, esse homem, experimenta-se cada vez mais habilitada, habilitado a transformar em Sabedoria, o saber, em Fecundidade, o poder, em Entrega de si, o egoísmo. Torna-se mulher culta, homem culto, mesmo que não tenha estudos académicos, ou seja, até, iletrada, iletrado.

Depois de mais de hora e meia de partilha de testemunhos e de histórias de vida sobre a educação que nos deram e que porventura damos, eis que, inopinadamente, salta das colunas de som do BC, a voz do nosso Fausto Bordalo Pinheiro, com o seu “Navegar, Navegar”, e todas, todos nós, como se uma mola nos fizesse levantar das cadeiras, entramos a dançar e a cantar, a beijar e a abraçar, porque a força da Comensalidade a tanto nos leva, numa sororidade que as palavras são insuficientes para a dizer por inteiro. Só mesmo vivido. E, logo depois deste canto-dança, a manhã lá prosseguiu até ao almoço compartilhado. Os farnéis que cada uma, cada um trouxe, ficam expropriados, a partir do momento em que são colocados sobre a Mesa comum. E cada qual alimenta-se com eles, segundo a sua necessidade. É uma variedade de sabores e de cores, que nenhum manjar da terra consegue igualar. Porque tudo vem confeccionado de casa com muito afecto, muito amor, total gratuidade. As conversas são mais intimistas, o serviço da mesa é assumido por todas, todos, sem necessidade de ninguém mandar ninguém. Somos plena Comunhão, que nenhuma igreja, nenhuma religião consegue realizar, já que, nesses locais e nesses cultos, tudo é faz de conta, hipocrisia, encenação, ao contrário do que acontece nesta Oficina.

Têm de vir viver esta Oficina para crerem. Aliás, a temática EDUCAR, longe de ter sido esgotada, nesta 3.ª Sessão, prosseguirá na 4.ª Sessão, a realizar no último domingo de Julho, dia 27, a partir das 10,30 h. Se vierem – ela está sempre aberta a quem quiser começar integrá-la – depressa concluirão que educarmo-nos maieuticamente uns aos outros, é preciso, formatar as mentes, como faz o poder e suas igrejas, seus governos, seus grandes media, não é preciso. Porque só quando crescemos de dentro para fora, chegamos à dimensão humana do Eu-sou, do Nós-somos. A partir de então, poder nenhum consegue seduzir-nos, muito menos, submeter-nos. Somos Liberdade, Ruah/ Sopro/ Vento! É caso para dizer, Venham e vejam!

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