DO BOTEQUIM AO CAFÉ (PEQUENA HISTÓRIA DOS GRANDES CAFÉS DE LISBOA – cont.)
O SUISSO
É contemporâneo do Martinho e viviam porta com porta.
Ao contrário do que sucedia com o seu vizinho, o Suisso não gostava de mulheres na sua freguesia. As saias não tinham lá entrada, mas entrou-lhe a propaganda da República que nele e noutros cafés próximos preparou a revolução de 1910. Machado Santos costumava sentar-se ali uma mesa junto à última porta.
O Martinho passou a banco e ainda lá está o prédio. Deste Suisso nem rasto haveria de ficar. Está um banco, também. Mas a construção já é outra, bem diferente, como impunha a arquitectura do Estado Novo.
Dizem que Salazar odiava os cafés e quem os frequentava. Tinha que odiar muita gente. O café conquistara muita alma e coração lisboeta. Sobre eles escrevia-se assim em 1968: “Depois da repartição encerrada, da loja com a porta corrida… Para fechar negócio, para devaneio, distracção, descanso, repouso calmo e sonho, em Lisboa o único caminho é o café. Encontra-se ali o amigo para o cavaco, a distracção digestiva, a troca de impressões, o diálogo inquieto das tertúlias de intelectualismo e todas as horas de doce lazer dos sedentários”
“Bastam duas moedas, a tilintarem dentro da bolsa, para que o habitante de Lisboa se torne dono do mundo inteiro.”
“No pitoresco deste marco social, apontemos pormenores que fazem a definição alfacinha.
A crítica da má-língua é outro caldo de cultura dos cafés de Lisboa. E logo a seguir o boato político, a anedota causticante a caricatura burlesca, sobre as personalidades públicas.” – Azinhal Abelho, Lisboa num cravo de papel.