AQUI ESTÁ SNOWDEN 2.0 … E COMO O GOVERNO DETERMINA SE CADA UM DE NÓS É UMA AMEAÇA TERRORISTA – por TYLER DURDEN

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Selecção, tradução e nota de leitura por Júlio Marques Mota

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A propósito de Snowden 2, uma pequena nota de leitura

Meus caros

Será que alguém dos que andam pelas mesmas águas que nós  faz parte das listas de suspeitos de Obama, será que suspeitam de si como terrorista não ligado a nenhum movimento em especial? Será que  têm uma boa imagem do seus olhos, da sua cara?  Mas não se esqueça, está perante a Administração mais transparente do mundo.  Reveja o Jornal  Público, as declarações publicadas ontem de Glenn Greenwald, Charles Ferguson e de David Carr, reveja os nossos recentes textos sobre  Deep State, sobre a crise da Ucrânia e a Administração Bush, perdão, sobre a crise da Ucrânia e a Administração Obama, e compreende então e de imediato que a prática da mais transparente Administração no Mundo, a de Barack Obama, fica afinal muito para lá do que Orwell foi capaz de imaginar. E falemos de Democracia!

Júlio Marques Mota

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Aqui está Snowden  2.0 … e como o Governo determina se cada um de nós é uma ameaça terrorista 

 

Tyler Durden

Tyler Durden, Zero Hedge, 8 de Maio de 2014

 

 

snowden 2.0 - I

Ainda há muito pouco tempo a CNN criticou uma notícia em que se afirma que os EUA acreditam que há um novo caso, tipo Snowden, a colocar  a segurança nacional em perigo. Porquê? O motivo o artigo seguinte, lançado há algumas horas por Intercept, e que é uma exposição sobre mais um sistema de informação classificada  chamado Terrorist Identities Datamart Environment (TIDE), em que lemos: “os documentos, obtidos de uma fonte da comunidade dos serviços secretos, também revelam que a administração Obama tem dirigido  uma expansão sem precedentes do  sistema de triagem sobre as pessoas eventualmente suspeitas de  terrorismo. Desde a sua tomada de posse, Obama aumentou fortemente o número de pessoas na lista dos  não podem voar mais de dez vezes, um total de 47.000 pessoas, a maior lista de todos os tempos— ultrapassando  o número de pessoas impedidas de voar nos tempos de  Bush. ” E assim temos  Snowden 2.0.

snowden 2.0 - II

Além desta revelação bastante impressionante, também ficamos a saber o seguinte:

  • A segunda maior concentração de pessoas designadas pelo governo como “conhecidos terroristas ou suspeitos ” vive em Dearborn, Michigan — uma cidade de 96.000 que tem a maior percentagem de árabe-americanos residentes no país.

  • O governo adiciona nomes aos seus bancos de dados, ou adiciona informações sobre assuntos já existentes, a uma taxa de 900 registos por dia.

  • A CIA usa um programa até agora desconhecido, com o nome de código Hydra, para secretamente ter acesso a  bancos de dados mantidos por países estrangeiros e extrair deles dados para adicionar à sua lista sob  vigilância.

  • 16.000 pessoas, incluindo 1.200 americanos, foram classificadas como “seleccionadas”, que são assim classificados para pesquisas reforçadas nos aeroportos e nos postos de fronteira.

  • Constam 611.000 homens na lista principal dos considerados terroristas e 39.000 mulheres.

  • As 5 cidades de topo dos EUA que figuram na lista principal de “conhecidos terroristas ou suspeitos ” são Nova York; Dearborn, Michigan; Houston; San Diego; e Chicago. Com 96.000 moradores, a cidade de Dearborn é muito mais pequena  do que as outras cidades do top 5, sugerindo que a sua significativa população muçulmana — 40% da sua população é de descendência árabe, de acordo com o U.S. Census Bureau — tem sido desproporcionalmente visada em termos de vigilância.

  • As principais agências do governo responsáveis por incluir pessoas nas listas governamentais de suspeitos a vigiar são: a Central Intelligence Agency, a Defense Intelligence Agency, a National Security Agency e o Federal Bureau of Investigation.

  • Em 2013, a principal  base de  dados sobre  terrorismo incluía mais de 860.000  ficheiros biométricos sobre  144.000 pessoas.

  • Esta base de  dados contém mais de uns milhão de imagens faciais, quase um quarto de milhão de impressões digitais e 70.000 imagens de íris.

  • O governo mantém dados biométricos sobre  pessoas que ainda não foram  identificados – TIDE contém 1.800 “BUPs”, ou “biometria de pessoas desconhecidas”.

  •  Num único ano, o governo ampliou a sua colecção de dados biométricos “não-tradicionais”, incluindo um aumento dramático em amostras de caligrafia (32 por cento), assinaturas (52 por cento), cicatrizes, marcas e tatuagens (70 por cento), e cadeias de ADN  (90 por cento).

Snowden 2.0 diz-nos :

Um membro da Administração  americana contou a Intercept  que,  em Novembro de 2013, havia aproximadamente 700.000 pessoas na base de  dados de rastreio sobre potenciais terroristas, Terrorist Screening Database, or TSDB,  mas  recusou-se  a fornecer os números actuais. No mês passado, a Associated Press, citando ficheiros de um tribunal  federal elaborados por  advogados que trabalham para o governo, relatou que há 1,5 milhões de nomes que foram adicionados à lista dos  vigiados durante os últimos cinco anos. O funcionário do governo  disse a Intercept   que se tratou de  uma má interpretação dos dados. “A lista tem crescido um pouco desde aquela época, mas está longe dos 1,5 milhões citados nas informações  recentes,” disse ele. Acrescentou ainda que as estatísticas citadas pela Associated Press não incluem apenas indicações de  nomes de  indivíduos, mas também excertos de informações  ou dados biográficos obtidos  sobre essas pessoas.

Vejamos como é que o governo americano considera que cada um de nós pode ser um potencial terrorista: 

A maioria das pessoas colocadas na lista dos vigiados do governo começam por fazer parte de um sistema em grande escala de informação classificada, conhecido como Terrorist Identities Datamart Environment (TIDE).    O banco de dados de TIDE  na verdade permite visar pessoas  com base em muito menos evidência do que os sistemas laxistas  já usados  para colocar as pessoas sobre a lista de vigiados. Uma mais ampla — e invasiva — base  de dados, a informação TIDE é  partilhada com toda a comunidade das agências de informações dos EUA, bem como com as unidades do comando das operações especiais e com as  agências nacionais tais  como o departamento de polícia de Nova York.

Os documentos também oferecem uma ideia  sobre que  grupos o governo tem tido como alvo na sua missão de luta contra o terrorismo. Os grupos com o maior número de população visada quanto a  terrorismo constantes  na principal lista de pessoas sob vigilância  — além de “sem filiação reconhecido a um grupo terrorista” — são al-Qaeda no Iraque (73.189), os Taliban (62.794) e a al Qaeda (50.446). Depois, seguem-se os pertencentes ao  Hamas (21.199) e ao  Hezbollah (21.913).

Embora a administração de Obama tenha afirmado repetidamente que a al Qaeda na Península Arábica representa  a ameaça terrorista externa mais significativa para os Estados Unidos, as 8.211 pessoas identificadas como estando ligadas na verdade ao grupo representam a categoria menor na lista do top das dez organizações reconhecidas como terroristas. A AQAP está em desvantagem, quanto ao número de pessoas suspeitas  de ligações, em relação à rede Haqqani, sediada  no Paquistão (12.491), às FARC, sediadas na  Colômbia  (11.275), e à  al-Shabab sediada na  Somália (11.547). 

Os documentos também revelam que, durante o ano passado, os EUA tinham assinalado 3.200 pessoas como “terroristas conhecidos ou suspeitos”, associados com a guerra na Síria. Entre eles estavam 715 europeus e canadianos, bem como 41 americanos. Matt Olsen, o diretor do centro nacional de luta contra o terrorismo, afirmou recentemente que existem mais de 12.000 combatentes estrangeiros na Síria, incluindo mais de 1.000 ocidentais e aproximadamente 100 americanos.

Das 680.000  pessoas  consideradas como  terroristas no Terrorist Screening Database do governo — uma lista de “conhecidos terroristas ou suspeitos ” que é partilhada com agências locais, empresas privadas e governos estrangeiros — mais de 40 por cento são descritas pelo governo como não tendo “nenhuma filiação a  grupo terrorista reconhecido”. Essa categoria — 280.000 pessoas — ultrapassa em muito o número de pessoas da lista  suspeitas de ligações com al Qaeda, Hamas, e Hezbollah combinados.

Resumindo num gráfico:

 snowden 2.0 - III

E por cúmulo: uma distopia em que Tom Cruise se deixa cair fora do drone e começa a disparar contra toda a gente sem que alguém  tenha feito seja o que for.

“Estamos em território de Minority Report quando fazer amizade com a pessoa errada pode significar que  o governo nos  coloca numa base de dados e adiciona  DMV fotos, imagem da íris, e tecnologia de reconhecimento de rostos para  secretamente  fazer o nosso rastreio  e isso tudo sem o nosso  conhecimento,” diz Hina Shamsi, da direcção  da projecto americano American Civil Liberties Union’s National Security Project.”O fato de que esta informação pode ser partilhada com as agências da CIA e da  polícia de Nova Iorque, que não são conhecidas por proteger as liberdades civis, leva-nos para  mais perto de  uma sociedade altamente vigiada de forma invasiva e sem respeito pelo direito quer no plano interno quer externo, e tudo isto é  da responsabilidade do  governo..”

Much more in the full Intercept article.

Mas espere, porque é a partir daqui que a questão se torna ainda mais  surreal.

Apresentando o bureau de propaganda da desinformação dos EUA na sua plena grandeza. De HuffPo:

A Associated Press terá publicado  uma informação  significativa na tarde de terça-feira, relatando que nos últimos anos a lista de suspeitos de terrorismo do governo dos EUA terá duplicado.

Alguns minutos depois da história da AP, que  consistia então de  três parágrafos, foi colocado no site  às 12:32, The Intercept  publicou um artigo muito mais abrangente. O artigo original, que tem sido actualizado e aumentado desde que publicado  é abaixo reproduzido: 

 snowden 2.0 - IV

 

O governo, veio-se a perceber, tinha “desvalorizado a informação exclusiva,” uma prática proibida informalmente no mundo do jornalismo. Para estragar uma notícia importante publicada em exclusivo, o assunto de uma história, quando lhe é pedido o comentário, dão-nos uma resposta colateral sem nenhuma relação , tipicamente mais amigável na esperança  de diminuir a atenção que a primeira informação deveria ter. A história de AP na terça-feira foi muito mais amigável para a posição do governo, explicando  o aumento de indivíduos que foram adicionados  à lista de suspeitos  como uma resposta em curso em face de  uma trama de terror falhado .

A prática de estragar uma informação em exclusivo  é desaprovada, porque destrói a credibilidade do  jornalista  face à temática tratada. No futuro, o jornalista fica muito menos disposto a partilhar o conteúdo do seu relato sobre esse tema , o que significa que ao assunto é dado menos tempo, ou nenhum tempo de informação, para se  responder com seriedade  sobre os  relatórios.

A decisão do governo no sentido de desvalorizar  uma história sobre o tema da segurança nacional é especialmente nada habitual dado que tem um interesse significativo em ganhar a confiança dos repórteres sobre a segurança nacional, para que estes possam fazer do tema as suas reportagens  enquanto certas  informações devem permanecer privadas.

Depois da a história da AP ter corrido, The Intercept   pediu uma videoconferência com o National Counterterrorism Center. Uma fonte com conhecimento do pedido  disse que a agência governamental admitiu ter alimentado a história à  AP, mas não pensou que o repórter a publicasse  antes de The Intercept o fazer em primeiro lugar . “Este foi o nosso mal ,” disse o elemento da Administração.

Questionado  pelo editor de  The Intercept  John Cook se este é agora o tipo de prática da informação  governamental sobre segurança nacional, seguiu-se-lhe um silêncio  e depois uma  explicação: “Investimos algum do nosso valioso tempo com Eileen,” referindo-se ao repórter da  AP Eileen Sullivan, que o funcionário acrescentou ter  ido  visitar o NCTC. 

“Depois de ver que o senhor  tinha  os docs e o facto de que tinha trabalhado com Eileen, sentimo-nos obrigados a aceitar um frente-a-frente,” disse o membro da Administração , segundo a fonte. “Pensamos que ela iria publicar depois de vocês”

O porta-voz da AP, Paul Colford respondeu a perguntas sobre o timing das histórias  numa  declaração ao The Huffington Post: “o repórter da AP, Eileen Sullivan, vencedor de um   Pulitzer Prize  tem vindo a cobrir este território desde há muito  tempo. Ela reuniu e relatou hoje  algumas notícias adicionais   como parte do  seu elevado conhecimento sobre este assunto.”

Nem sequer Orwell poderia ter imaginado um  o governo que   levasse a cabo  uma tão aberta guerra  de  propaganda

Entretanto, não seja cínico sobre a mais transparente Administração no Mundo, a Administração Obama.

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Apresentado Tyler Durden no site Zero Hedge,  “Here Comes Snowden 2.0… And How The Government Determines If You Are A “Terrorist Threat”, texto disponível em :

http://www.zerohedge.com/news/2014-08-05/here-comes-snowden-20-and-how-government-determines-if-you-are-terrorist-threat

 

 

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