GORKI, “SERES QUE OUTRORA FORAM HUMANOS”- DA RÚSSIA DE HÁ CEM ANOS ATÉ AOS DIAS DE HOJE por Clara Castilho

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Ao correr da leitura vamos encontrando personagens que são seres que já não têm aquele mínimo das condições que julgamos indispensáveis para viver, marginais e marginalizados, que tentam enganar o sofrimento com o álcool. São seres com um objectivo comum: a sobrevivência. Apesar de tudo alguma humanidade persiste, alguns laços se estabelecem, alguma moralidade se tenta manter.

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Na introdução, de G.K.Chesterton, este afirma“Gorki é sobretudo russo porque é um revolucionário […] A maioria dos russos tem aquela atitude mental que torna a revolução possível e que torna a religião possível, uma atitude de afirmação primária e dogmática. Para se ser um revolucionário é necessário ser-se primeiro alguém que aceita a revelação.

[…] Gorki é um vagabundo, um homem do povo e também um crítico, um crítico amargo. No Ocidente, os pobres, quando se tornam eloquentes na literatura, são sempre sentimentalistas e quase sempre optimistas.

[…] Este conto é um estudo da ruína, um estudo do fracasso e um estudo da velhice”.

 Algumas partes que, no conjunto, darão uma ideia do livro:

 ….E então comes o quê? Comes-te a ti próprio!

[…] os pobres são sempre ricos em filhos e nos buracos e na poeira daquela rua, de manhã à noite, eram muitas as crianças barulhentas e esfarrapadas, sujas e famintas.  As crianças são as flores do mundo, mas, na rua pobre, pareciam prematuramente murchas.

[…] Aqueles homens falavam pouco sobre o passado, recordavam-no raramente, sempre em termos muito vagos e num tom sarcástico. Era uma atitude inteligente, porque para a maioria dos homens a lembrança do passado enfraquece a energia no presente e destrói a esperança no futuro.

[… ]E de repente, no meio deles, acendia-se a maldade animal, despertava a amargura dos homens banidos e torturados pelo destino sombrio.

Então, começavam a espancar-se, selvagem e cruelmente e depois, mais calmos, bebiam de novo…

[…] já fui um homem, não fui? Sou um rejeitado, o que significa que estou livre de qualquer obrigação… Significa que posso estar-me nas tintas para tudo!”

 Fica-se com um amargo na boca. Pensamos em todos os que, por este mundo fora, se encontrarão nesta situação, se sentirão um pouco como as personagens deste livro de Gorki. A esperança na mudança esmorece…

 

 

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